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São Filipe Neri, o santo da alegria
 
AUTOR: MONS. JOÃO SCOGNAMIGLIO CLÁ DIAS, EP
 
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A imagem é poética. Na cidade eterna, um jovem estudante, piedoso, um futuro santo, aureolado de virtude, lendo ao clarão da lua.

Um jovem lendo ao clarão da lua

“Nasceu São Filipe Néri em Florença, em 15 de julho de 1515, e morreu no dia 25 de maio de 1595. Durante trinta anos passou todas as suas noites nas catacumbas [de Roma]. Quando encontrava as igrejas fechadas, fazia suas orações nos pórticos dos templos. Mais de uma vez foi visto fazendo leitura ao clarão da lua.”

A imagem é poética. Na cidade eterna, um jovem estudante, piedoso, um futuro santo, aureolado de virtude, lendo ao clarão da lua. É preciso lembrar que, naquele tempo, não havia iluminação pública nas ruas, a qual só teve início pelo século XVII. Por outro lado, era muito dispendiosa a iluminação no interior das casas, devido ao elevado custo das velas. De maneira que as pessoas eram obrigadas a se deitar cedo. Representava, então, sinal de virtude um rapaz comprometer a sua vista e ler ao clarão da lua.

Em Roma, porém, esse esforço se fazia de modo mais poético, porque o moço se sentava sobre ruínas, em cima do capitel de uma velha coluna romana, afagando com a mão a cabeça de um leão de pedra trazido do Egito, com algumas plantas nascendo pelo meio. Enfim, todo o ambiente da Roma antiga com sua pitoresca e artística desordem.

A elevação de trato entre dois santos

“No dia de Pentecostes de 1545, como ele suplicasse ao Espírito Santo de lhe conceder seus dons, sentiu seu coração abrasar-se, e não podendo suportar o excesso desse abrasamento, jogou-se no chão. Quando se levantou, levou a mão ao peito: seu amor era tanto, que este havia estufado e se distanciado do coração. Quando da sua morte, em 1595, os médicos abriram o seu tórax para examinar o milagre e descobriram que duas costelas tinham se rompido por cima do coração e não se tinham fechado, tal o entusiasmo do amor de Deus que ele sentira. Depois dessa bem-aventurado Pentecostes, o santo experimentou uma contínua palpitação de coração todas as vezes que se ocupava das coisas divinas.

“Muitos e nobres personagens, estimulados pelo exemplo desse simples leigo, entraram em Ordens religiosas. Assim, Santo Inácio de Loyola, que o conheceu, afectuosamente o censurava por continuar secular. E o comparava ao sino, que trazia todo mundo para dentro da Igreja, mas ele próprio nunca entrava.”

Note-se o chiste amável, leve e gracioso de um santo para com outro. O que podia ser a conversa de um santo que tinha sido profundamente imbuído pelos dons do Espírito Santo, com outro a quem Nossa Senhora havia ditado os Exercícios Espirituais na gruta de Manreza? Isso era conversa! Perto da qual o “tatibitate” de nossos dias não é nada. É um balbucio inexpressivo e indigno em relação aos colóquios dos grandes santos.

Procurar os bens espirituais para quem deles carece

“Uma noite, como ele ia, segundo seu costume, à casa de uma pessoa nobre, mas arruinada, para levar alguma provisão de víveres, encontrou uma carruagem no seu caminho e, querendo dar passagem ao veículo, ia cair dentro de um buraco muito profundo. Mas o Anjo do pobre a quem ele ia socorrer velava sobre ele. E o Anjo o suspendeu miraculosamente no ar, impedindo-o de cair no buraco.”

O fato é extremamente significativo. Imagine-se São Filipe Néri andando pelas ruas de Roma, levando esmolas para um pobre, e o Anjo da Guarda da pessoa favorecida o acompanhando. Poder-se-ia perguntar: por que São Filipe não foi socorrido pelo seu próprio Anjo da Guarda, mas pelo do pobre?

Primeiro, porque o pobre era o interessado em que seu benfeitor chegasse até ele. Em segundo lugar, porque Deus queria dar a entender, por essa forma, quanto era grata a esmola que ele ia levar ao indigente.

De fato, o fazer bem aos necessitados nos dá direito a uma assistência especial da parte de Deus, Nosso Senhor. Porém, se o socorro oferecido aos carentes que não possuem bens materiais, ou os possuem poucos, é algo tão bom, quanto mais é dar assistência aos que não têm bens da alma! Portanto, sugerir um bom conselho a quem anda aflito, desorientado ou distante do bom caminho; fazer apostolado, trazer alguém para junto do Sagrado Coração de Jesus e de Maria; ou até mesmo encurralar um inimigo da Igreja Católica com uma argumentação bem-amarrada, de maneira que ele perca seu prestígio e não possa fazer mal aos outros. Tudo isso é muito mais importante e agradável a Deus do que o auxílio material que possamos prestar ao próximo.

Combatividade ratificada pela Providência

“Era sobretudo na época do carnaval que São Filipe Néri redobrava suas orações. Com uma massa imponente de fiéis, ele ia em peregrinação às sete basílicas de Roma, para protestar contra a imoralidade de seus cidadãos.”

Vê-se aqui o homem combativo. A cidade é tomada por um carnaval infrene, ele organiza peregrinações para percorrerem as suas ruas e apresentar a Deus um ato de reparação. É um contra-carnaval. Não são meros sermõezinhos tímidos dentro da igreja a respeito dessas festas imorais. E mesmo essas modestas pregações desapareceram. Não. Era uma oposição corajosa e direta: “Façamos nós as nossas procissões para protestar contra o carnaval!”

Assim é que se combate! Isso é luta! E tão revestida de méritos que a própria Providência houve por bem aprová-la, de um modo surpreendente, como atesta o biógrafo de São Filipe:

“O cardeal-vigário fez chamar o santo, já então sacerdote, e, depois de lhe ter censurado fortemente suas peregrinações, proibiu-lhe de ser confessor durante 15 dias. Ora, o Vigário morreu bruscamente, antes de ter levantado a penalidade, e o Papa Paulo IV, chamado a julgar a causa, deu ordem ao Santo de retomar os seus exercícios e lhe pediu que rezasse por ele.”

Um santo olhando para outro santo

“Por um privilégio especial, São Filipe via a santidade resplandecer no rosto dos santos. Ele fez a observação especialmente a propósito de São Carlos Borromeu.”

Essa descrição deixa claro que São Filipe passeava no meio dos santos. Ele conheceu vários, e discernia a santidade resplandecer nos semblantes deles.

Pobres de nós, homens deste século XX! Se quiséssemos ver santidade reluzindo nos rostos dos santos, para quem haveríamos de olhar? Que orfandade! Que tristeza!

“A respeito de Santo Inácio de Loyola, ele dizia: ‘A beleza de sua alma é tal, que ela resplandece em sua face, da qual eu via saírem raios de luz’.”

Considere-se a maravilha: fitar a face de um homem e ver raios de luz! Era um santo olhando para outro santo. Se pudéssemos simplesmente contemplar esse intercâmbio de olhares, como isso nos faria bem!

Morte de São Felipe Neri

“No dia de Corpus Christi de 1595, São Filipe, depois de ter dito o Ofício, ter rezado a Missa e confessado pela última vez um grande número de penitentes, aos quais ele recomendava, sobretudo, ler a vida dos santos, deitou-se na cama, dizendo: ‘Eu preciso morrer’. O médico foi chamado, examinou-o e disse que ele estava mais bem-disposto do que nunca. Três horas depois, ele expirou docemente, assistido pelo Cardeal Baronius. E a Rainha do Céu o recebeu…”

Felipe Néri
Embora tenha vivido no século XVI, que viu surgir o protestantismo, São Filipe Néri ainda fazia parte da florescência da Europa Católica, quando santos transitavam no meio de outros santos, se conheciam, se encontravam e a luz de um se refletia na do seu semelhante, multiplicavam-se e operavam milagres!

Diante desse celestial comércio de santidade e virtudes, compreendemos em que noite, em que pavorosa catacumba se encontra a humanidade contemporânea. Nem se trata de uma catacumba. Estamos num bueiro, o que é muito diferente. A catacumba é limpa, o bueiro é imundo. Quer dizer, tudo decaiu e a Terra se transformou num deserto escuro, no qual já não se encontra aquele fulgor que São Filipe Néri vislumbrava em tantas faces de seu tempo, isto é, a luz dos Santos… (Os Santos comentados, Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, EP)

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