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Voz dos Papas


A Igreja está em contínua luta
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Iniciado com a vida de nosso Santíssimo Redentor, o combate sob o estandarte da Cruz não terminará senão no fim dos tempos. Hoje, mais do que nunca, a força dos maus consiste na covardia e moleza dos bons, e todo o vigor do reino de satanás reside na fraqueza dos cristãos.

Agradeço a vosso generoso coração, Venerável Irmão,1 o desejo de ver-me trabalhar na vinha do Senhor sempre à luz do sol, sem nuvens e sem tempestades. Entretanto, devemos ambos adorar as disposições da Divina Providência que, depois de aqui estabelecer sua Igreja, permite que ela encontre em seu caminho obstáculos de todo gênero e resistências formidáveis.

São Pio X, fotografado
antes de 1907

Ásperas provas e contínuas contradições

A razão disso é evidente: a Igreja é militante e, portanto, está em contínua luta. Esta luta faz do mundo um campo de batalha e de cada cristão um valoroso soldado a combater sob o estandarte da Cruz.

Iniciada com a vida de nosso Santíssimo Redentor, essa luta não terminará senão no fim dos tempos. Devemos, pois, proceder todos os dias como os valentes de Judá ao retornar do cativeiro: com uma das mãos rechaçar os inimigos e com a outra reconstruir as muralhas do Templo sagrado, isto é, trabalhar na própria santificação.

Confirma-nos nesta verdade a vida dos heróis cujos decretos acabamos de publicar.2 Chegaram eles à glória não só através de negras nuvens e passageiras borrascas, mas também de contínuas contradições e ásperas provas, até darem pela Fé o sangue e a vida.

Uma época em que muitos põem Deus no pelourinho

Não posso negar, entretanto, ser grande minha alegria neste momento, porque, ao glorificar tão numerosos Santos, Deus manifesta sua misericórdia em tempo de tanta incredulidade e indiferença religiosa. No meio do enfraquecimento geral dos caracteres, são apresentadas a nós, como modelos a imitar, almas generosas que deram a vida para confirmar sua Fé. […]

Alegro-me porque vivemos numa época na qual muitos sentem vergonha de se dizerem católicos, e muitos outros põem no pelourinho Deus, a Fé, a Revelação, o culto e seus ministros, enchendo seus discursos de sarcástica impiedade. Tudo negam e tudo revertem em escárnio e irrisão, sem respeitar sequer o santuário da consciência.

Impossível é, porém, que diante dessas manifestações do sobrenatural, por maior que seja a sua vontade de fechar os olhos diante do sol que os ilumina, um raio divino não penetre neles e, ainda que pela via do remorso, os faça retornar para a Fé.

Alegro-me porque a bravura desses heróis há de reanimar e fortificar na fé os timoratos e lânguidos corações, amedrontados na hora de pôr em prática as doutrinas e as crenças cristãs.

Haverá coragem quando a fé estiver nos corações

A coragem, com efeito, só tem razão de ser quando se apoia numa convicção. Sem a luz da inteligência, a vontade é uma potência cega. Não é possível caminhar com passo firme em meio às trevas.

Se a geração atual tem todas as vacilações do homem que avança às apalpadelas, é sinal evidente de que ela não toma em consideração a palavra de Deus: “Vossa palavra é um facho que ilumina meus passos, uma luz em meu caminho” (Sl 118, 105).

Haverá coragem quando a fé estiver viva nos corações, quando se praticarem todos os preceitos por ela impostos, pois a fé sem obras é tão impossível como um sol sem luz nem calor.

Testemunham esta verdade os mártires que acabamos de comemorar. Não se deve julgar que o martírio é um ato de simples entusiasmo, consistente em deixar-se decapitar para subir diretamente ao Paraíso. O martírio pressupõe o longo e árduo exercício de todas as virtudes, uma onímoda e imaculada limpeza.

A força dos maus consiste na moleza e covardia dos bons

Falemos daquela que vos é mais conhecida, a Donzela de Orléans: tanto em sua humilde terra natal quanto em meio à licenciosidade das tropas, ela se conservou pura como os Anjos.

Briosa como um leão nos
perigos da batalha, se manteve
sempre recolhida em Deus
Santa Joana d’Arc no cerco de
Orléans, por Jules Eugène
Lenepveu – Panthéon de Paris

Briosa como um leão nos perigos da batalha, mostrava-se cheia de piedade com os pobres e desafortunados. Simples como uma criança na paz dos campos e no tumulto da guerra, se manteve sempre recolhida em Deus e ardente de amor à Virgem Maria e à Sagrada Eucaristia, como um Querubim, conforme bem o dissestes, Venerável Irmão. Chamada pelo Senhor a defender sua pátria, respondeu à sua vocação para uma empresa que todos, sobretudo ela, julgavam impossível; mas o que para os homens é impossível, sempre é possível com o auxílio de Deus.

Não exageremos, portanto, as dificuldades para pôr em prática o que a Fé nos prescreve a fim de cumprirmos nossos deveres e exercitarmos o frutuoso apostolado do exemplo, que o Senhor espera de todos nós: “Impôs a cada um deveres para com o próximo” (Eclo 17, 12).

As dificuldades provêm de quem nelas acredita e as exagera, de quem confia em si mesmo e não no socorro do Céu, de quem cede covardemente, intimidado pelas risadas e chacotas do mundo. De onde se deve concluir que, hoje mais do que nunca, a força dos maus consiste na covardia e moleza dos bons, e todo o vigor do reino de satanás reside na fraqueza dos cristãos.

“Tornaram-se cúmplices de meus adversários”

Ah! Se me fosse permitido, como fez em espírito o profeta Zacarias, perguntar ao Senhor: “Que ferimentos são esses em tuas mãos?”, a resposta indubitavelmente seria: “Foram-Me infligidos na casa daqueles que Me amavam” (Zc 13, 6); ou seja, por meus amigos que nada fizeram para Me defender e que, pelo contrário, tornaram-se cúmplices de meus adversários. E deste reproche, merecido pelos cristãos pusilânimes e medrosos de todos os países, muitos cristãos da França não podem escapar. […]

Assim, Venerável Irmão, ao regressar, dizei a vossos compatriotas que, se amam a França, devem amar a Deus, amar a Fé e a Igreja, a qual é para todos eles terníssima Mãe, como foi para vossos pais. Dizei-lhes que tenham em grande consideração os testamentos de São Remígio, de Carlos Magno e de São Luís, testamentos que se resumem nas palavras tantas vezes repetidas pela heroína de Orléans: “Viva Cristo, o Rei dos francos!”

Somente a este título a França é grande entre as nações; sob esta cláusula Deus a protegerá e a fará livre e gloriosa; sob esta condição poder- -se-á aplicar-lhe o que de Israel se diz nos Livros Santos: “Ninguém jamais pôde insultar esse povo, a não ser quando ele se afastou do culto do Senhor, seu Deus” (Jt 5, 17). (Revista Arautos do Evangelho, Maio/2019, n. 209, p. 06-07)

São Pio X. Excertos do discurso proferido por ocasião da leitura do decreto de beatificação dos Veneráveis Joana d’Arc, João Eudes, Francisco de Capillas, e João Teófano Vénard e companheiros, 13/12/1908: AAS 1 (1909), 142-145

1 Dom Stanislas-Arthur-Xavier Touchet, à época Bispo de Orléans, mais tarde criado Cardeal. Coube a ele instaurar na sua diocese o processo de beatificação de Santa Joana d’Arc. 2 Nesse dia foram proclamados os decretos sobre as virtudes heroicas dos Veneráveis Joana d’Arc, João Eudes, Francisco de Capillas, e João Teófano Vénard e companheiros.

 
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