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Oração: Um tesouro inestimável ao nosso Alcance
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 19/07/2019
 
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Redação (Sexta-feira, 19-07-2019, Gaudium Press) Ao tratar da oração, Santo Afonso de Ligório não o faz à maneira de um teólogo que ensinará a respeito dela tudo quanto é possível. Ele escreve como diretor de consciências, mostrando o precioso proveito a se tirar da oração na vida espiritual.

Um tesouro inestimável ao nosso Alcance- a Oração Foto CNBB.jpg

Acompanhando seu ensinamento, vemo-lo constantemente em face de uma determinada situação espiritual, não enunciada, mas que devemos conhecer com toda a clareza. É o que poderíamos chamar o encalhe.

Encalhe e desencalhe

Com efeito, na vida de piedade existe o encalhe e, depois, o desencalhe. Sabe-se bem o que significa encalhar. Por exemplo, um automóvel encalha quando encontra qualquer obstáculo que o impede de andar, ou quando sofre algum tipo de avaria interna, falta de combustível, etc.

A idolatria na Antiguidade, um “encalhe”

Inúmeras almas encalham na vida espiritual, em qualquer estágio dela, às vezes de um modo completo, e até aparentemente irremediável. O mais prodigioso exemplo de encalhe espiritual verificou-se, a meu ver, com a idolatria nos povos antigos.

O célebre pregador francês Bossuet, ao se referir à situação do mundo naquele período, invectiva a crença idólatra como um defeito grosseiro e um erro evidente praticado por aquelas populações.

Os antigos estavam profundamente aferrados a esse erro, não obstante possuírem muitos deles uma inteligência privilegiada, como os gregos e os romanos.

Inteligencia não é tudo

Não que a razão humana não fosse bastante forte para perceber o erro da idolatria. Prova-o as diversas vozes discordantes dela, entre as quais Sócrates, Aristóteles e Platão.

Contudo, esses três homens, dos mais inteligentes de todos os tempos, falando para um povo também dos mais sábios do mundo, renunciaram a abolir esse mal, por considerar que o povo estava encalhado na idolatria.

Característica do Encalhe

Isso é o que notamos no encalhe da vida espiritual: há todas as possibilidades para se ver o erro em que se caiu, mas as pessoas estão enraigadas no apego a ele. Não existem argumentos nem recursos que obtenham resultados, por causa de um ponto encalhado.

O desencalhe da História

Em contrapartida, o cristianismo é o exemplo do maior desencalhe da História. Depois da vinda de Nosso Senhor, homens menos inteligentes, dirigindo-se a povos por vezes menos favorecidos no tocante à inteligência, lograram vencer com facilidade a idolatria.

De modo repentino, porque entrou um fator novo diferente de todos os anteriores, eles desencalharam.
Temos então, na idolatria e no cristianismo, casos coletivos de encalhe e desencalhe.

Características do “encalhe” espiritual

O que propriamente caracteriza um encalhado na vida espiritual é o fato de ele se recusar a sair do erro em que se encontra preso.

Alguém pode ter um defeito, mas se empenha na atitude de o deixar, acatando os conselhos que lhe dão nesse sentido. Este indivíduo não deve ser tido como um encalhado.

Pelo contrário, a vítima do encalhe é aquela que toma em relação ao seu defeito um apego tal que não quer abrir mão dele, apesar de todas as admoestações e orientações que receba. Esse defeito não será, necessariamente, um pecado mortal. É uma falta venial ou uma mera imperfeição. Mas, à medida que a pessoa não quer renunciar àquele ponto, ela estagna.

Por isso a vida espiritual é semelhante a uma montanha em cuja encosta se pode encalhar, a qualquer altura.

Há quem pare num ponto muito elevado dela.

Não raro, quanto maior a altitude alcançada, tanto menor a bagatela pela qual se fica preso.

Dir-se-ia existir uma espécie de enfermidade das alturas, pois o indivíduo que não se deixou encalhar por medo de leões, detém-se por causa de uma borboleta.

É uma forma de vertigem na vida espiritual, um tremendo complexo contra o qual é preciso se defender com dez mil cuidados.

Às vezes, uma pessoa que renunciou a tudo julga-se muito engraçada e se toma de apego pelos gracejos que prodigaliza.

Noutros casos, o homem se apega ao que não tem. Por exemplo, um grande jurista com mania de ser poeta, tem pouco ou nenhum apego por seu saber jurídico, mas vive com receios de que não o reconheçam como autor de versos inspirados. Nasce daí a vaidade, vem o encalhe…

O salutar e valioso remédio da oração

Posto, então, diante desse problema que se apresenta na vida espiritual de incontáveis almas, Santo Afonso faz uma afirmação bem característica no começo do seu livro, indicando um elemento para a sua solução.

Escreve ele: 

Vejo que os cristãos pouco cuidam de empregar este grande meio de salvação [que é a oração].

E, o que ainda mais me aflige…. é ver que os pregadores e confessores tampouco recomendam a oração a seus ouvintes e penitentes.

E mesmo os livros espirituais que hoje em dia correm pelas mãos dos fiéis não tratam suficientemente desse assunto, quando é certo que todos os pregadores e confessores e todos os livros outra coisa não deveriam incutir, com mais empenho e afinco, do que a necessidade de orar.

Ensinam eles às almas  tantos meios de se conservar na graça de Deus, como fugir das ocasiões, freqüentar os sacramentos, resistir às tentações, ouvir a palavra de Deus, meditar as máximas eternas e outros meios.

Todos eles são certamente utilíssimos, mas, digo eu, de que valem as prédicas, as meditações e todos os outros meios aconselhados pelos mestres espirituais, se falta a oração, quando é certo que o Senhor diz não conceder graças senão a quem pedir?

“Petite et accipietis: Pedi e recebereis”.

Sem a oração (falando segundo a providência ordinária) serão inúteis todas as meditações que se fazem, todos os propósitos e todas as promessas.

Se não orarmos, seremos sempre infiéis a todas as luzes d’Ele recebidas e a todas as nossas promessas. (…)

O nosso Cirineu

Eu quisera, caro leitor, antes de tudo que vou escrever aqui, explicar este meu sentimento, para que agradeçais ao Senhor, o qual, por meio deste meu livrinho, dá a graça de fazer a oração com maior entendimento e conhecimento deste grande meio de salvação que temos, pois todos os que se salvam, falando dos adultos, ordinariamente se salvam por este único meio.¹

A oração é, portanto, o mais seguro caminho que nos conduz à salvação. E o primeiro fundamento para compreendermos este valor da oração, no plano da Providência, é considerar como Deus deseja ser, Ele mesmo, o nosso Cireneu. (JSG)

 

 
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