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História da Igreja


Nossa Senhora da Esperança!
 
AUTOR: IR. ANGELIS DAVID FERREIRA, EP
 
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Em plena guerra franco-prussiana, quando a pequena cidade francesa de Pontmain estava prestes a ser invadida, uma belíssima Dama apareceu no céu. Naquela mesma noite, a aflição se tornou esperança.

Naquele 15 de janeiro de 1871, o ano ainda estava em seu nascedouro, trazendo para a pequena cidade de Pontmain, situada a duzentas milhas de Paris, todas as esperanças e apreensões próprias da aurora.

Meu Filho Se comoveu com vossas súplicas” – Aparição de Nossa Senhora em Pontmain – Vitral da Igreja de São Pedro, Vaucé (França)

Nesta população de apenas quinhentos habitantes, o Pe. Guérin, grande devoto de Maria Santíssima e pároco da matriz havia trinta e cinco anos, procurava reunir o povo para rezar o Rosário. Os camponeses afluíam sempre com alegria para a oração, porém, naquela tarde, a situação era diferente: o medo e a incerteza assolavam os fiéis. Por mais que o sacerdote tentasse animá-los com cânticos, só se viam lágrimas em seus rostos.

Qual a razão de tamanha tristeza? A França e a Alemanha estavam em guerra. Corriam notícias de que o exército prussiano, tendo chegado às portas de Laval, já se aproximava de Pontmain.

Uma nobre Dama aparece no céu

Naquela trágica semana de inverno, a neve cobria toda a cidade. Crostas de gelo revestiam as janelas e os telhados.

Dois dias depois da cena que acabamos de narrar, as crianças da família Barbedette conversavam em casa sobre a ausência do irmão mais velho, convocado pelo exército para defender a pátria, quando o infantil colóquio foi subitamente interrompido pelo pai. Ele os levou para o celeiro, a fim de prepararem uma ração extra para os cavalos, que muito sofriam com as baixas temperaturas.

Por volta de cinco e quarenta e cinco da tarde, Eugène Barbedette, de doze anos, e seu irmão Joseph, de dez, terminaram o serviço. Ao saírem do celeiro depararam-se, para sua surpresa, com uma extraordinária figura no céu: era uma Senhora de rosto indizivelmente amável, que permanecia no ar, em pé, frente a eles. Estava trajada com um longo vestido azul, adornado por estrelas douradas, e trazia na cabeça uma linda coroa de ouro.1

Pouco tempo depois juntaram-se a eles duas meninas: Françoise Richer, de onze anos, e Jeanne-Marie Lebossé, de nove. Elas também viam a esplendorosa Dama. As exclamações cheias de entusiasmo das crianças acabaram por chamar a atenção de quase todo o vilarejo, atraindo à propriedade da família Barbedette uma verdadeira multidão.

Mensagem escrita por mãos invisíveis

Os camponeses que se avolumavam junto à casa dos Barbedette de sejavam presenciar a aparição da nobre Dama. Entretanto, nem todos acreditavam no que as crianças diziam, pois somente elas a viam.

Também o Pe. Guérin acorreu ao local. Embora nada visse, sentiu-se tomado pela graça e entoou o hino nascido dos lábios da própria Rainha do Céu: o Magnificat. Quando todos cantavam, as crianças viram aparecer uma flâmula abaixo dos pés de Nossa Senhora, na qual mãos invisíveis escreviam em letras de ouro: “Rezem, meus filhos”. E, enquanto a multidão prosseguia com o cântico, foi acrescentada mais uma misteriosa afirmação: “Deus logo vos ouvirá”.

Em certo momento notaram uma grande luz, que brilhava mais que o sol e, quando se pensava que a Mãe de Deus partiria, uma derradeira frase foi desenhada a seus pés: “Meu Filho Se comoveu com vossas súplicas”. Diante da misteriosa mensagem, todos mantiveram-se em silêncio, rezando.

Prolonga-se a aparição

Nada se ouvia, até que uma voz se elevou da pequena multidão, entoando um hino local que louva Maria Santíssima enquanto Virgem Mãe da Esperança. Nesse exato instante, a majestosa Senhora ergueu suas mãos aos céus e, movimentando delicadamente os dedos, olhou para as crianças com muita ternura.

Porém, uma sombra de tristeza se fez notar naquele suave e resplandecente semblante. No momento em que na música se dizia “Meu doce Jesus, agora é o tempo de dar o vosso grande perdão aos nossos corações endurecidos!”, a Virgem apontou para um sinal que portava sobre o peito. Era uma cruz vermelha, na qual se podia ver perfeitamente a Nosso Senhor. Acima dela, uma faixa branca trazia inscrito o nome de Jesus, também em vermelho. Os lábios da Senhora do Céu moviam-se em oração.

Por ordem do pároco, todos permaneceram em vigília até o fim da aparição, que se prolongou por mais três horas. Além dos dois irmãos Barbedette e das duas meninas, relatos populares narram que mais três crianças viram Maria Santíssima no céu de Pontmain. Eram Eugène Friteau, de seis anos, Auguste Avice, dois anos mais novo, e a filhinha do sapateiro que, sendo ainda criança de colo, não parava de pular nas mãos da mãe, estendendo seus bracinhos para o ar como se quisesse ir para junto de Nossa Senhora.

O milagre é reconhecido pelo Bispo

Ao mesmo tempo em que a Mãe de Deus infundia esperança nos corações dos moradores da pequenina cidade, parecia também intervir nos lances da guerra que tanto amedrontavam os habitantes da região.

Naquela mesma noite, o comandante do exército alemão, o general Karl Von Schmidt, recebeu uma ordem inesperada de recuar. E, dez dias depois, França e Alemanha assinavam um tratado de paz. Acontecera o que muitos passaram a chamar de “o grande milagre de Pontmain”.  

As autoridades eclesiásticas realizaram uma série de investigações a fim de confirmar a autenticidade do que as crianças afirmavam ter visto. Após entrevistá-las individualmente e submetê-las a exames médicos para provar que não sofriam de alucinação, puderam atestar a inteira veracidade dos relatos feitos pelos videntes, que durante todo o processo se comportaram com exímia calma e modéstia.

A carta pastoral em que Dom Casimir-Alexis-Joseph Wicart, primeiro Bispo de Laval, dá seu parecer sobre esse fenômeno sobrenatural, ocorrido em território sob sua jurisdição, conclui da seguinte forma: “Tendo examinado os relatos de duas comissões de teólogos e uma de investigadores […], tendo revisado os textos e os testemunhos dos médicos […], julgo que a Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus, realmente apareceu no dia 17 de janeiro de 1871”.2

Estende-se a devoção pela França

Constatada a veracidade da aparição, deram-lhe o nome de Nossa Senhora da Esperança de Pontmain. Uma igreja em sua honra foi construída no local, e em 1922 Pio XI instituiu sua festa litúrgica, a ser celebrada a cada 17 de janeiro. A devoção a Ela estendeu-se pela França e pelo mundo. Não é de se estranhar, pois a lembrança da delicadeza transbordante e maternal proteção manifestadas por Maria Santíssima para com seus filhos aflitos de Pontmain desperta nos homens de hoje sentimentos de esperança.

Saibamos recorrer a Nossa Senhora em todas as nossas necessidades e, quando nossas cruzes parecerem demasiado pesadas ou nos depararmos com situações aparentemente sem saída, tenhamos a certeza de que Ela intercederá por nós junto ao seu Divino Filho: “Ave, Virgem formosa, Mãe da santa esperança, de direito proclamada Rainha: entre todas as mulheres bendita. Ó Maria, intercedei por nós!”3 (Revista Arautos do Evangelho, Janeiro/2020, n. 217, p. 34-35).

1 Cf. ENGLEBERT, Omer. Catherine Labouré and the Modern Apparitions of Our Lady. New York: P. J. Kenedy & Sons, 1959, p.172.
2 Idem, p.174.
3 Do cântico latino Ave Virgo Speciei.

 
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