“A oração é, para o homem, o primeiro dos bens!”,[1] exclamava Dom Guéranger, abade do Mosteiro de Solesmes, França, em sua obra O Ano Litúrgico, na qual comenta passo a passo todo o ciclo da Liturgia, isto é, a oração oficial com que os fiéis – sacerdotes ou leigos – manifestam a autêntica natureza da Igreja, humana e divina, visível e invisível, ativa e contemplativa, no mundo e a caminho do Céu…[2]

Com efeito, a realização dos Sacramentos “anuncia, atualiza e comunica o mistério da salvação”.[3]

Contudo, a Liturgia não esgota a obrigação de rezar que cabe a todo batizado… Deus pede do fiel uma vida de caridade, de piedade e de apostolado[4] a fim de cumprir o preceito evangélico: “É preciso orar sempre, sem nunca desistir” (Lc 18, 1).

Tal dever é repetido com insistência por São Paulo: “Orai em toda circunstância” (Ef 6, 18); “Sede perseverantes, sede vigilantes na oração” (Col 4, 2); “Quero, pois, que os homens orem em todo lugar” (I Tim 2, 8).

E dizer “em toda circunstância” e “em todo lugar” amplia o espaço e o tempo da oração a todos os instantes em que não estamos participando de um ato religioso.

A oração privada, ou piedade particular, tem um papel fundamental na existência humana. O próprio Jesus a ensina como forma de se dirigir ao Pai Celeste: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á” (Mt 6, 6).

E promete com solene juramento ser sempre atendida, se realizada em nome d’Ele, Redentor e Mediador: “Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo dará” (Jo 16, 23).

Segundo São João Crisóstomo,[5] a oração é para o espírito o que a alma é para o corpo: o princípio de vida. Se a pessoa não reza, seu espírito, falto de fluxo vital, apodrece e passa a exalar um odor fétido.

A chamada oração particular pode adotar diversas formas, das quais o Catecismo indica três: a oração vocal, a meditação e a contemplação.[6]

Entre todas, a recitação do Terço – em voz alta ou em silencioso recolhimento – é recomendada pela Igreja tanto para sacerdotes e religiosos,[7] quanto, com mais empenho, para os leigos de qualquer idade e condição.

Mas o Santo Rosário não é apenas uma repetição de orações. Em cada dezena se recomenda meditar um dos mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, e nada impede que, enunciado o tema, alguns instantes de contemplação precedam e enriqueçam a recitação das Ave-Marias.

Rezemos, portanto, sempre, sem nunca desanimar, ainda quando nossas preces pareçam não ser atendidas. Deus não falha, e acabará por nos conceder algo muito melhor do que imaginávamos ser-nos necessário.

 

 

Notas
[1] GUÉRANGER, OSB, Prosper. L’Année Liturgique. L’Avent. 19.ed. Paris: H. Oudin, 1911, t.I, p.IX.
[2] Cf. CONCÍLIO VATICANO II. Sacrosanctum concilium, n.2.
[3] CCE 2655.
[4] Cf. CONCÍLIO VATICANO II, op. cit., n.9.
[5] Cf. SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. De orando Deum. L.I.
[6] Cf. CCE 2699.
[7] Cf. CIC, cân. 246; 663.