Fortaleza, seriedade, temperança e grandeza; marcas inconfundíveis que estão impressas nos monumentos góticos que a Cristandade europeia edificou.

Muitos séculos se passaram, mas a humanidade continua a olhar extasiada para o maior tesouro arquitetônico de todos os tempos.

Ao contemplarmos tais maravilhas – uma Catedral, por exemplo – não nos comprazemos apenas com as suas linhas originais e a leveza das formas.

As próprias pedras agradam muitíssimo à vista. Possuem um caráter rústico e áspero, que contrasta com a delicadeza das figuras. Pedras cinzentas, de tonalidades variadas, que chegam algumas vezes a parecer incolores.

Porém, não é verdade que ao contemplá-las começamos a imaginar, sucessiva e vagamente, cores para essas pedras?

O mesmo se dava com as antigas fotografias em preto e branco. Debaixo de certo ponto de vista, essas fotografias eram mais poéticas que as coloridas, pois nós mesmos criávamos as cores para a cena, em nossa imaginação.

Assim sendo, poderíamos nos perguntar: não seriam as Catedrais mais bonitas se suas pedras fossem coloridas?

Hoje, as análises técnicas e os estudos de documentos medievais levam os especialistas a concluir quase com unanimidade: as Catedrais da Idade Média eram fartamente coloridas.

Reformas posteriores, descuido e a ação do tempo privaram-nas de sua riqueza cromática.

Mas pelo menos um belo exemplo nos restou: a Catedral de Orvieto, na Itália. Uma feeria de cores surpreende quem a contempla.

É um dos mais belos edifícios góticos, o que equivale a dizer que é um dos mais belos do mundo. É difícil imaginar como poderia ser mais bonita.

Sua fachada, povoada de mosaicos, cria uma impressão cromática vivíssima. Cada grupo, cada cena, é – para usar uma expressão musical – uma “sinfonia” especial de cores.

Não são cores pálidas, discretas ou frias; aqui vemos a beleza e o encanto das cores definidas, que têm personalidade e vida próprias.

Nos mosaicos, predomina a mais esplendorosa das cores, o dourado. Rutilante e magnífico, o ouro faz com que a Catedral pareça sempre nova.

Dir-se-ia que a Catedral foi construída no ano passado, ou que vive num clima de perpétua primavera. Mais ainda: poder-se-ia dizer que os invernos e as tragédias da História passaram por ela sem atingi-la em nada.

Nesse sentido, Orvieto não apresenta a poesia do velho granito, que desafia todos os tempos e intempéries, e que fica mais belo à medida que envelhece.

O granito fala da eternidade, resistindo aos séculos, pois passam as eras e ele fica!

Já o mosaico de Orvieto se reporta à eternidade, no sentido de que ele ignora o tempo. Ele não precisa resistir, porque o tempo não o atinge. O mosaico está lá, impassível.

Há ainda outro aspecto a considerar: a síntese entre a forma e a cor. Há uma velha disputa entre os artistas italianos: o que apresenta mais esplendor, a forma ou a cor?

Essa divergência chegou a tal ponto que surgiram duas grandes escolas artísticas: a florentina e a veneziana.

Magnífica em coloridos, tendo apenas os desenhos necessários para as cores se mostrarem, temos a escola veneziana.

Por outro lado, há a escola florentina, toda ela feita de desenhos, intencionalmente pobres em colorido, para que as formas ressaltem.

Orvieto realizou de modo magnífico a junção entre cores e formas.

A Catedral de Orvieto é um exemplo do que podem fazer os homens quando amam a Deus. E que realmente fizeram, no tempo em que a sabedoria do Evangelho governava as nações.

Precioso fruto da Civilização Cristã, Orvieto é uma verdadeira maravilha, uma autêntica joia da Cristandade.