É impossível, quando se prepara para mais um aniversário das aparições de Nossa Senhora aos três pastorinhos em Fátima, não vir à mente a ideia do Segredo de Fátima.
Logo no início destas cogitações surge a pergunta: por que "segredos"?
E a esta pergunta outras mais vão surgindo: por que são três?
Por que mostrar o Inferno?
Como interpretar cada segredo?
Geralmente, é sobre o "terceiro segredo" que as atenções mais se voltam: por quê?
Será que é porque demorou mais para ser revelado?
Três Segredos?
Na verdade, não são três "segredos" e... nem segredos são.
O que Nossa Senhor deixou para os três pastorinhos foi uma Mensagem composta por três partes.
A terceira parte da Mensagem de Fátima foi revelada em 13 de julho de 1917 aos três pastorinhos na Cova da Iria e transcrita pela Irmã Lúcia em 3 de janeiro de 1944.
Ela foi publicada pelo Secretário de Estado, Cardeal Angelo Sodano, em 13 de maio de 2000. Há quase 20 anos.
Respostas a más interpretações
Em resposta a más interpretações do "terceiro segredo" de Fátima, que algumas pessoas associam a um "caos apocalíptico", o então Cardeal Joseph Ratzinger, que era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e depois foi Papa, Bento XVI, explicou o sentido do texto e como pode servir para compreender e viver melhor o Evangelho.
Figuras e interpretações do Cardeal
As mensagens transmitidas pela Virgem Maria exortam ao arrependimento, à conversão, à oração e à penitência como meios de reparação pelos pecados.
Segundo o Cardeal, o chamado à penitência é uma exortação à compreender os sinais dos tempos e à conversão.
A penitência também é a resposta a um determinado momento histórico caracterizado por grandes dificuldades.
No segredo, há um elemento que se refere a um "Anjo com a espada de fogo". Para o Cardeal, este elemento não é fantasia: refere-se às armas de fogo, que o próprio homem inventou.
Outro elemento da visão é a força que se opõe à destruição: o esplendor da Mãe de Deus, que vem da penitência.
Isto significa que a penitência e a oração têm o poder de mudar as predições para o bem.
O melhor exemplo, afirma Ratzinger, é que o Papa João Paulo II sobreviveu ao atentado de 13 de maio de 1981, na Praça de São Pedro, embora o segredo previsse a sua morte.
Sobre os três elementos que aparecem no segredo - uma montanha íngreme, uma grande cidade em meio a ruínas e uma grande cruz de troncos rústicos -, Ratzinger assinala que a montanha é o caminho difícil que o homem deve atravessar e a cidade em ruínas representa as desgraças que o próprio homem causou com as guerras.
Em cima da montanha está a cruz, o objetivo final, onde a destruição se transforma em salvação.
Por isso, esses símbolos têm um sentido de esperança.
O Bispo vestido de branco - o Papa - terá que subir essa montanha e atravessar a cidade em ruínas.
O Papa precede os outros, cujo caminho também passa em meio aos cadáveres.
Bento indica que a passagem do Papa simboliza o caminho da Igreja em meio à violência, às destruições e às perseguições.
Interpretação
"Na visão, podemos reconhecer o século passado como século dos mártires, como século dos sofrimentos e das perseguições contra a Igreja, como o século das guerras mundiais e de muitas guerras locais que encheram toda a sua segunda metade e fizeram experimentar novas formas de crueldade.
No ‘espelho' desta visão vemos passar as testemunhas de fé de decênios".
Esta parte do segredo termina com um sinal de esperança: nenhum sofrimento é em vão, porque o sangue dos mártires purifica e renova.
Disto surgirá uma Igreja triunfante.
O sangue derramado na cruz também representa a vivência atual do sofrimento de Cristo e da promessa de salvação.
Terceira Parte da Mensagem de Fátima
Este é o Terceiro Segredo de Fátima, escrito pela Irmã Lúcia:
"Escrevo em ato de obediência a Vós, Deus meu, que me mandais por meio de sua Excelência Reverendíssima, o Senhor Bispo de Leiria, e da vossa e minha Santíssima Mãe.
Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco mais alto, um Anjo com uma espada de fogo na mão esquerda.
Ao cintilar, despedia chamas que parecia iam incendiar o mundo.
Mas apagavam-se com o contato do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro.
"Penitência", dizia o Anjo
O Anjo, apontando com a mão direita para a terra, com voz forte, disse:
'Penitência, Penitência, Penitência!'
E vimos em uma luz imensa, que é Deus, algo semelhante a como se veem as pessoas em um espelho, quando lhe passam por diante um Bispo vestido de branco.
Tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre.
Vimos vários outros Bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande cruz, de troncos toscos, como se fora de sobreiro como a casca.
O Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade, meio em ruínas e meio trêmulo, com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena.
Ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho.
Chegando ao cimo do monte, prostrado, de joelhos, aos pés da grande cruz, foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns após os outros, Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições.
Sob os dois braços da cruz estavam dois Anjos, cada um com um regador de cristal na mão.
Neles recolhiam o sangue dos mártires e com eles regavam as almas que se aproximavam de Deus".
(JSG)