Cristo é, de fato, o Rei do Universo e, de maneira muito especial, de nossos corações.

Ele possui uma autoridade absoluta sobre todas as criaturas e já muito antes de sua Encarnação, quando se encontrava no seio do Padre Eterno, ouviu estas palavras: “Tu és meu filho, eu hoje te gerei. Pede-me; dar-te-ei por herança todas as nações; tu possuirás os confins do mundo, tu governarás com cetro de ferro” (Sl 2, 7-9).

Rei por direito de herança

Ele é o Unigênito Filho de Deus e foi constituído como Herdeiro universal, recebendo o poder sobre toda a criação, no mesmo dia em que foi engendrado.

Rei por ser Homem-Deus

Por outro lado, Jesus Cristo é Deus e, assim sendo, tudo foi feito por Ele, o Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis.

Senhor absoluto de toda existência, do Céu, da Terra, do Sol, das estrelas, das tempestades, das bonanças. Seu poder é capaz de acalmar as mais terríveis ferocidades dos animais bravios e as procelas dos mares encapelados.

Os acontecimentos, as forças físicas e morais, a guerra e a paz, a pobreza e a fartura, a humilhação e a glória, o revés e o sucesso, as pestes, os flagelos, a doença e a saúde, a morte e a vida: estão todos ao dispor de um simples ato de sua vontade.

Aí está um governo incomparável, superior a qualquer imaginação, e do qual ninguém ou nada poderá se subtrair.

O título de Rei Lhe cabe mais apropriadamente do que às outras duas Pessoas da Trindade Santíssima, por ser o Homem-Deus, conforme comenta Santo Agostinho:

Apesar de que o Filho é Deus e o Pai é Deus e não são mais que um só Deus, e se o perguntássemos ao Espírito Santo, Ele nos responderia que também o é […], as Sagradas Escrituras costumam chamar de Rei ao Filho.[2]

De fato, o título de rei, quando aplicado ao Pai, é usado de forma alegórica para indicar seu domínio supremo.

E se quisermos atribuí-lo ao Espírito Santo, faltará exatidão jurídica, por tratar-se Ele de Deus não-encarnado, pois para ser Rei dos homens é indispensável ser homem.

Deus não-encarnado é Senhor, Deus feito homem é o Rei.

Rei por direito de conquista

Jesus Cristo é nosso Rei também por direito de conquista, por nos ter resgatado da escravidão a Satanás.

Ao adquirirmos um objeto às custas de nosso dinheiro, ele nos pertence por direito. Mais ainda se o obtivermos através de duras penas, pelos esforços de nosso trabalho, e muito mais, se for conseguido pelo alto preço de nosso sangue.

E não fomos nós comprados pelo trabalho, sofrimentos e pela própria Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo?

É São Paulo quem nos assevera: “Porque fostes comprados por um grande preço!” (I Cor 6, 20).

Rei por aclamação

Cristo é nosso Rei por aclamação.

Antes mesmo das purificadoras águas do Batismo serem derramadas sobre nossa cabeça, nós O elegemos para ser o regente de nossos corações e de nossas almas, através dos lábios de nossos padrinhos.

Por ocasião da Crisma e a cada Páscoa, de viva voz, nós renovamos essa eleição, sempre de um modo solene.

Rei do interior dos homens e de todas as exterioridades

Não houve, nem jamais haverá um só monarca dotado da capacidade de governar o interior dos homens, além de bem conduzi-los na harmonia de suas relações sociais, seus empreendimentos, etc. O único rei pleníssimo de todos os poderes é Cristo Jesus.

Exteriormente, pelo seu insuperável e arrebatador exemplo – além de suas máximas, revelações e conselhos – Ele governa os povos de todos os tempos, tendo marcado profundamente a História com sua vida, Paixão, Morte e Ressurreição.

Por meio do Evangelho e, sobretudo, ao erigir a Santa Igreja, Mestra infalível da verdade teológica e moral, Jesus perpetua até o fim dos tempos o imorredouro tesouro doutrinário da fé.

Através dessa magna instituição, Ele orienta, ampara e santifica todos os que nela ingressam, e vai em busca das ovelhas desgarradas.

Aqui precisamente se encontra o principal de seu governo neste mundo: o reino sobrenatural, que é realizado, na sua essência, através da graça e da santidade.

Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto a “videira verdadeira”, é a causa da vitalidade dos ramos. A seiva que por eles circula, alimentando flores e frutos, tem sua origem n’Aquele Unigênito do Pai (Jo 15, 1-8).

Ele é a Luz do mundo (Jo 1, 9; 3, 19; 8, 12; 9, 5) para auxiliar e dar vida aos que dela quiserem se servir para evitar as trevas eternas.

Jesus – segundo a leitura de hoje – é

a Cabeça do Corpo que é a Igreja, é o princípio, o Primogênito entre os mortos, de maneira que tem a primazia em todas as coisas, porque foi do agrado do Pai que residisse n’Ele toda a plenitude e que por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, pacificando pelo Sangue da sua Cruz, tanto as coisas da terra como as do Céu (Cl 1, 18-20).

O reinado de Cristo, em nosso interior, se estabelece pela participação na vida de Jesus Cristo.

Só no Homem-Deus se encontra a plenitude da graça, enquanto essência, virtude, excelência e extensão de todos os seus efeitos. Os outros membros do Corpo Místico participam das graças que têm sua origem em Jesus, a Cabeça que vivifica todo o organismo.

Quem, de maneira privilegiadíssima, tem parte em grau de plenitude nessa mesma graça, é a Santíssima Virgem.

Necessidade da graça para o reino de Cristo em nossas almas

Dada a desordem estabelecida em nós após o pecado original, acrescida pelas nossas faltas atuais, nossa natureza necessita do auxílio sobrenatural para atingir a perfeição.

Sem o sopro da graça, é impossível aceitar a Lei, obedecer aos preceitos morais, não elaborar razões falsas para justificar nossas más inclinações e conhecer, amar e praticar a boa doutrina de forma estável e progressiva.

Ela refreia nossas paixões e as equilibra nos gonzos da santidade, orienta nosso espírito, modera nossa língua, tempera nosso apetite, purifica nosso olhar, gestos e costumes.

É através da graça que nossa alma se transforma num verdadeiro trono e, ao mesmo tempo, cetro de Nosso Senhor Jesus Cristo. E é nessa paz e harmonia que se encontra nossa autêntica felicidade, e esse é o Reino de Cristo em nosso interior.

E qual é o principal adversário contra esse Reino de Cristo sobre as almas? O pecado!

Por isso mesmo, se alguém tem a desgraça de o cometer, nada fará de melhor do que procurar um confessionário e, com arrependimento, ali declará-lo a fim de ver-se livre da inimizade de Deus.

É impossível gozar de alegria com a consciência atravessada pelo aguilhão de uma culpa. Nessa consciência, não reinará Cristo; e se ela não se reconciliar com Deus, aqui na terra, tampouco reinará com Ele na glória eterna.