Cidade do Vaticano(Quarta-feira, 30-05-2018, Gaudium Press) De acordo com a Agencia ÁsiaNews, milhares de católicos realizaram uma caminhada pelas ruas de Myitkyina, capital do Estado de Kachin, em Myanmar, antiga Birmânia, para pedir pela paz no país.

No Myanmar, antiga Birmânia, católicos marcham pela paz.jpg

No último dia 24 de maio a diocese de Myitkyina havia publicado uma carta em que convidava todos os cidadãos para uma marcha de oração.

O documento -ainda segundo Agência Asianews- esclarecia que não seria uma manifestação política.
Na segunda-feira (28/05), Dom Francis Daw Tang, bispo da cidade, conduziu a procissão e rezou com os manifestantes.

É a primeira vez que os católicos de Kachin fazem um gesto público, nas ruas, pela paz. A situação alarmante em que vive o país fez com tomassem essa iniciativa.

Os conflitos

Desde abril de 2017, no norte e leste de Myitkyina existem combates armados entre o exército birmanês e os rebeldes de Kachin Independence Army (Kia). Trata-se de um corpo de exército étnico da minoria Kachin que conta com um grande número de cristãos, dos quais 40% são católicos.

Geralmente os habitantes dos vilarejos das áreas de conflito podem fugir e procurar um refúgio.
Agora, porém, o exército governamental não permitiu que os civis desalojados pudessem se refugiar.

As forças armadas de Naypyidaw detiveram os civis como reféns nas proximidades das bases militares, como escudos humanos, para impedir o ataque do exército rebelde de Kachin.

Expoentes e organizações civis fizeram várias tentativas para salvar-lhes, mas o comandante chefe das tropas do Norte impediu até mesmo a intervenção do primeiro ministro do Estado de Kachin.

A única intervenção que teve sucesso foi a do Ministro do Bem-Estar Social de Naypyidaw.

De 1.500 desalojados que ficaram bloqueados nos conflitos, há quase dois meses, mais de 1.300 deles estão detidos como reféns pelo exército, vivendo sob as intempéries: da chuva tropical ao gélido clima de montanha.

Um relatório das Nações Unidas publicado no mês passado revela que, durante a última fase do conflito em Kachin, entre abril e maio o número de desalojados detidos na região tiveram aumento de 5 mil unidades.
Manifestações

Nas últimas semanas foram realizadas várias manifestações para pedir a libertação dos civis.
Em Myitkyina, numerosos cristãos protestam dia e noite pela libertação dos reféns detidos.

No dia 16 de maio os ativistas pelos direitos civis reuniram-se de modo pacífico em Yangon, mas as forças de segurança governamentais prenderam cerca de 20 pessoas, e muitos foram processados.

Depois de uma missão de seis dias em Myanmar, o Secretário geral adjunto para os Assuntos humanitários da ONU e o Vice-coordenador para emergências, definiram o conflito de Kachin "uma crise humanitária esquecida" e o jornal britânico Guardian definiu como sendo um lento genocídio.

Preocupação dos bispos de Myanmar e visita ao Papa

Durante as operações militares, em abril passado, as tropas do Governo bombardearam várias cidades dos rebeldes Kachin como Laiza e Maija Yang.
Além disso, o Governo de Myanmar continua a impor severas restrições às ajudas humanitárias para a população.
Apesar das tensões, na primeira semana de maio os bispos de Myanmar foram ao Vaticano para uma visita ad limina.

Os bispos de Kachin manifestaram a própria preocupação pelos desalojados e pela paz em Myanmar também em um encontro com o Secretário de Estado do Vaticano e o governo francês, durante a visita ao Santuário mariano de Lourdes.

O conflito retomou depois de 17 anos de trégua

Com fronteiras para a China e a Índia, o Estado de Kachin foi abalado por uma retomada do conflito entre o exército e os rebeldes desde 2011, quando foi suspenso o acordo bilateral de cessar fogo que tinha durado 17 anos. Os conflitos causaram centenas de mortes e cerca de 150 mil desalojados, grande maioria formados por cristãos, que ainda vivem em condições miseráveis nos campos de refugiados da região. A população de Myanmar e a de etnia Shan, ao invés, foram poupadas das ações do exército. Por isso muitas fontes internacionais consideram que por trás deste conflito exista uma motivação étnico-religiosa contra a minoria cristã de Kachin. (JSG)