Desde quando era ainda muito jovem, Pio IX distinguia-se por uma vida de piedade profundamente eucarística, ou seja, orientada de modo integral para a pessoa e o mistério de Jesus Cristo, presente na Eucaristia e na vida da Igreja.
“O contato com Jesus Cristo vivo na Eucaristia”, afirma um autor,
é o elemento fulcral da vida interior de Pio IX, de cuja fonte brotaram as suas virtudes, a misteriosa energia divina que o levou ao heroísmo, hoje reconhecido pela Igreja.
Duas datas assinalaram o período luminoso da sua interioridade eucarística: a Primeira Comunhão e o 75º aniversário dela, data esta que ele quis celebrar com solenidade extraordinária, somente cinco dias antes de sua partida para a eternidade.
A Eucaristia sempre foi o místico refúgio cotidiano do seu espírito, especialmente nos momentos mais difíceis. [1]
Piedade eucarística em todas as suas formas
Ele viveu intensamente a piedade eucarística, em todas as suas formas. Em primeiro lugar, na celebração diária da Santa Missa, com um fervor inusitado que deixava vislumbrar toda a sua fé, na adoração diurna e noturna, na sua capela particular e nas igrejas que encontrava ao longo do seu caminho, quando saía para passear por Roma, assim como na máxima importância que atribuía à solenidade de Corpus Christi, em que participava com o ostensório nas mãos, até mesmo quando era Papa.
Pio IX ofereceu uma contribuição singular e dificilmente calculável para a descoberta da presença real de Jesus Eucarístico e para a difusão e o reflorescimento da piedade eucarística, que encontrará o seu pleno desenvolvimento nos seus sucessores, sobretudo em São Pio X.
As testemunhas afirmam que, à noite, o Papa Mastai Ferretti descia com frequência, a pé, do Quirinal para a Praça de São Silvestre, e na igreja do mesmo nome presidia à adoração eucarística, com homilia e a bênção solene; depois, subia a ladeira e voltava para o Quirinal, acompanhado de multidões de crianças que o seguiam como um simples Pároco da Urbe.
Também o Papa precisa ficar a sós com Jesus
Certa vez, disse a duas pessoas que tinha introduzido na sua capela particular: “Também o pobre Papa tem necessidade de estar um pouco a sós com Jesus; tenho tantas coisas a dizer-lhe, tantas luzes a pedir-lhe, tantos conselhos e tantas graças!”
Depois da adoração, abriu o tabernáculo, mostrou dentro da sua pequena porta um magnífico monograma de Jesus, feito de diamantes, e disse: “Aqui deposito aquilo que possuo de mais belo e precioso: tudo por Ele, que é o grande Senhor e Mestre”. Assumiu os cuidados dessa capela, preocupando-se pessoalmente com a lâmpada do Santíssimo Sacramento.
Outra testemunha recorda que ele se preparava com esmero para a celebração da Eucaristia, a que fazia seguir sempre uma prolongada ação de graças. E o fervor com que celebrava o Sacrifício divino era admirável.
De resto, em relação à doutrina jansenista, favoreceu a comunhão frequente, manifestando a sua satisfação aos Bispos que a promoviam. Enfim, recomendava profundamente a adoração perpétua, que se ia espalhando nos vários países dos continentes europeu e americano.
Excertos de homilia do Cardeal José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, em 7 de fevereiro deste ano, na Basílica de São Lourenço Fora dos Muros “al Verano”.