No ano de 1703 apareceu Nossa Senhora a Frei Isidoro, capuchinho, na cidade de Sevilha, vestida com trajes pastoris e manifestando-lhe sua vontade de ser invocada como a Mãe do Divino Pastor.
Fiel a essa aparição, Frei Isidoro mandou pintar nesse mesmo ano, no coro baixo do convento, um quadro da “Divina Pastora”, conforme lhe fora indicado pela Virgem.
Bom pregador, apressou-se também a divulgar do púlpito essa devoção. A graça a ele concedida encontrou eco nos corações dos fiéis que o ouviam, e logo se formaram algumas confrarias para honrar a Mãe de Deus sob essa invocação.
A confraria da Divina Pastora
Em Jaen – cidade cheia de história, situada na Andaluzia, assim como Sevilha – existia desde o ano 1595 a “Irmandade da Imaculada Conceição de Maria”.
Quando a devoção à Divina Pastora expandiu-se, esta irmandade se converteu em “Confraria da Divina Pastora”.
Cada ano sua festa é celebrada no primeiro domingo de setembro, e os atuais confrades, que se intitulam “pastores” e “pastoras”, conservam com muita ufania e fervor as suas práticas tradicionais de devoção.
Essa Confraria tem sua sede na Igreja de Santo Ildefonso, cujo pároco é também seu capelão.
Já no final de agosto iniciam-se os festejos em honra da Divina Pastora, com missas, sermões e atos coletivos de adoração ao Santíssimo Sacramento. A imagem é removida de seu nicho habitual e colocada sobre um belíssimo andor.
A ambientação não poderia ser melhor. Os “pastores” da Confraria colocam uma oliveira atrás da Virgem, de maneira que esta parece ter acabado de sentar-se à sombra dela.
Ao seu redor há várias ovelhas. Algumas, muito próximas, recebem os carinhos da Pastora; outras, mais distantes, pastam tranquilamente sob seu olhar vigilante.
Nota-se o cuidado extremo da Divina Pastora pelo seu rebanho, não apenas por sua atitude ao mesmo tempo carinhosa e vigilante, mas também porque algumas ovelhas trazem uma fita amarrada ao pescoço. As fitas são de cores diversas e sempre terminam com um charmoso laço.
Como não recordar que tudo isto é um símbolo encantador da maneira como a Virgem Santíssima trata os seus devotos? Além de mantê-los no bom caminho, Ela os adorna com suas próprias virtudes e os conduz a seu Divino Filho.
Uma das ovelhas leva pendurado ao pescoço um pequeno sino, e muito familiarmente pousa as patinhas dianteiras no colo da imagem.
É a ovelha-guia, que parece estar recebendo instruções da “Pastora”. Esta talvez lhe esteja dizendo por onde deve guiar o rebanho, ou quais sejam os cuidados a tomar, ou então a esteja afagando de modo especial por haver-se comportado bem na sua tarefa…
Ao fundo vão algumas ovelhas transviadas, que estão a ponto de cair nas garras do lobo. Mas São Miguel Arcanjo, por ordem da “Pastora”, acode a tempo. À frente da “Pastora” vai seu Filho, um pastorzinho sorridente que caminha misturado com as ovelhas.
O “voltear” das bandeiras
No domingo da festa, celebra-se uma solene Missa, acompanhada por cânticos pastoris tradicionais.
Logo após, os “pastores” e “pastoras” reúnem-se na antiquíssima praça da igreja e aí se dedicam a uma competição cheia de graça e habilidade: o “voltear” das bandeiras.
Sucedem-se homens e rapazes, que, com uma só mão, fazem girar com movimentos bonitos e elegantes uma das grandes e largas bandeiras da Confraria.
Ajoelham-se e até deitam-se no chão enquanto a bandeira “voa”, sem deixá-la cair, é claro. Aos poucos, levantam-se, sempre girando a bandeira, e encerram a demonstração com algum gesto de maior beleza, não sem antes gritar a plenos pulmões: “Viva la Pastooora!!”
À tarde sai a procissão, acompanhada por grande multidão.
O pesado andor de prata maciça, esplendorosamente adornado com flores, é portado por 40 confrades denominados “costaleros”, os quais, num passo estudado e uniforme, assemelhando-se a uma marcha, vão atravessando as ruas da cidade seguidos por uma banda que executa músicas pastoris.
O “pastor” que lidera os “costaleros”, de vez em quando grita: “Viva la Pastora!!” Ao que lhe respondem todos bem alto e a uma só voz: “Guapa!!” E outra vez: “Viva la Pastora!!” –“Guapa!!” E mais uma vez: “Viva la Pastora!!” – “Guapa!!” E assim se dirigem de volta à igreja, onde recebem a bênção final.
O que permanece destes festejos na alma de um simples fiel católico que deles toma parte? Vários bons efeitos.
A fé se fortalece; a devoção à Virgem Maria se aprofunda; reavivam-se a admiração pelo passado carregado de bênçãos e o desejo confiante de um porvir glorioso para a Santa Igreja e para o mundo, no qual todos sejamos um só rebanho sob um só Pastor e uma só Pastora.