Um clima de grande expectativa marcou a chegada do Papa, que foi recebido com um entusiasmo contagiante, superior a qualquer previsão. 

No ar pairava uma dúvida se o encontro com Bento XVI seria frio. Pelo contrário, Portugal deparou-se com um pai bondoso, sorridente e muito culto, dizendo por todas as partes as palavras mais adequadas para o bem dos seus filhos.

Esforçavam-se os fiéis por se aproximarem dele, na esperança de receber um sorriso ou ao menos um aceno.

Os bem-sucedidos desatavam em efusivas manifestações de alegria e até mesmo de emoção. E todos saíam dos encontros com o Papa fortalecidos na fé e enriquecidos por suas sábias palavras. 

“Confio a Nossa Senhora de Fátima esta nobre e dileta nação”

Calorosamente saudado pelo Presidente da República no aeroporto de Figo Maduro, o Santo Padre agradeceu com palavras paternais:

Venho como peregrino de Nossa Senhora de Fátima, investido pelo Alto na missão de confirmar os meus irmãos que avançam na sua peregrinação a caminho do Céu. […]

Queridos irmãos e amigos portugueses, agradeço-vos uma vez mais as calorosas boas-vindas.

Deus abençoe a quantos aqui se encontram e todos os habitantes desta nobre e dileta nação, que confio a Nossa Senhora de Fátima, imagem sublime do amor de Deus que a todos abraça como filhos.

A caminho da Nunciatura Apostólica, o Santo Padre abençoava os fiéis que lotavam as ruas e manifestavam o seu amor ao Vigário de Cristo.

Ao longo do percurso, bandeiras agitavam-se e louvores eram entoados. “Só de vê-lo passar, ficamos com a alma cheia!”, “Ele tem-nos brindado sempre com um sorriso desde que chegou” – foram alguns dos depoimentos de pessoas que o saudavam nas ruas.

“O nosso povo sempre teve um grande amor ao Papa”

O ponto auge da visita à capital portuguesa estava reservado para a tarde desse dia: a Santa Missa no Terreiro do Paço. Desde cedo, uma multidão ali aguardava a chegada de Sua Santidade. Uma explosão de aplausos e “Viva!” o acolheu à entrada na praça. 

As palavras iniciais de Dom José Policarpo, Patriarca de Lisboa, exprimiram os laços que unem o povo português à pessoa do Sumo Pontífice.

O nosso Povo sempre teve um grande amor ao Papa, manifestado mesmo nas épocas mais conturbadas da nossa História.

Mas a vossa presença física é uma graça muito especial: poder ver-vos e saudar-vos, porventura cruzar o vosso olhar que nos comunica a bondade do Pastor, poder rezar convosco, ouvir a vossa palavra que nos convida sempre a abrir a inteligência e o coração à profundidade e à beleza do mistério.

A homilia de Sua Santidade no Terreiro do Paço foi interrompida diversas vezes por aplausos entusiasmados da multidão de fiéis, que se sentia interpretada em seus sentimentos. Lá, referiu que

é preciso voltar a anunciar com vigor e alegria o acontecimento da morte e ressurreição de Cristo, coração do Cristianismo, fulcro e sustentáculo da nossa fé, alavanca poderosa das nossas certezas, vento impetuoso que varre qualquer medo e indecisão, qualquer dúvida e cálculo humano.

Chegando à Nunciatura Apostólica, onde pernoitaria, foi recebido por milhares de jovens que o homenagearam com uma serenata.

Em breves palavras de agradecimento, o Papa despertou sorrisos dos cantores ao dizer-lhes: “Agora tendes que me deixar dormir, se não a noite não seria boa, e o dia de amanhã está à nossa espera”. 

“Vim a Fátima para rezar”

Na manhã seguinte, 12 de Maio, Bento XVI reuniu-se no Centro Cultural de Belém com cerca de 1400 personalidades do mundo das artes, da ciência e do pensamento. “Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza” – pediu-lhes, no final do seu discurso.

Em Fátima, milhares de peregrinos o aguardavam. Após alguns minutos de oração na Capelinha das Aparições, presidiu a celebração das Vésperas na Igreja da Santíssima Trindade, na qual participaram sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas, seminaristas e agentes de pastoral.

À noite, a Esplanada do  Santuário enchia-se com um mar de peregrinos, para a recitação do terço com o Santo Padre. Nos semblantes atentos e compenetrados, a luz trêmula das velas deixava transparecer a devoção de todos à Virgem de Fátima. 

O dia 13 raiara alvissareiro. Aqui e ali, ouvia-se um comentário que se tornava corrente: “Este Papa não é como eu pensava; ele é muito mais afável do que eu imaginava”.

O Santuário encheu-se de fiéis desde muito cedo, e alguns até passaram a noite em vigília na Capelinha das Aparições ou na adoração ao Santíssimo Sacramento.

Em sua homilia, o próprio Papa manifestou esse espírito de oração:

Vim a Fátima, porque hoje converge para cá a Igreja peregrina, querida pelo Seu Filho como instrumento de evangelização e sacramento de salvação.

Vim a Fátima para rezar, com Maria e tantos peregrinos, pela nossa humanidade acabrunhada por misérias e sofrimentos.

“Portugal despede-se de vós com saudade”

Na manhã seguinte, partia para o Porto, onde o esperava o mesmo calor popular. Mais de 120 mil pessoas participaram na Missa celebrada na Praça General Humberto Delgado.

Na sua homilia, relembrou que “o cristão é, na Igreja e com a Igreja, um missionário de Cristo enviado ao mundo. Esta é a missão inadiável de cada comunidade eclesial: receber de Deus e oferecer ao mundo Cristo ressuscitado”.

Procurou, assim, impulsionar ainda mais a Missão 2010, recordando o papel evangelizador dos fiéis.

Quando da recepção de alguns presentes na varanda da Câmara Municipal do Porto, o Santo Padre respondeu ao pedido dos jovens para que prolongasse a sua visita: “Teria acedido de boa vontade ao convite para prolongar a minha permanência na vossa cidade, mas não me é possível. Permiti, pois, que parta, abraçando-vos a todos carinhosamente em Cristo”.

No final desta encantadora visita, as palavras do Presidente da República fizeram eco àquilo que os portugueses levavam no coração:

Portugal despede-se de vós revigorado pela mensagem de esperança e confiança que nos deixais.

Vemos partir o Santo Padre com um sentimento que nenhuma outra língua ainda soube traduzir em toda a sua profundidade e que reservamos aos que nos são mais queridos, a saudade.