Eucaristia é o maior milagre que possa existir, afirma São Tomás de Aquino. Nela se realiza permanentemente uma série de prodígios. Pela Consagração, Jesus se torna realmente presente nas Espécies Eucarísticas.
Ninguém O vê, mas a fé, prestando “seguro suplemento às deficiências dos sentidos”, nos dá a certeza de sua presença.
Tudo na Eucaristia é mistério, mas Deus frequentemente manifesta maravilhas que confirmam o que se passa sobre o altar.
A História está cheia desses milagres, destinados a despertar a fé dos povos, confundir os incrédulos, punir a audácia dos sacrílegos, ou recompensar a confiança e o fervor dos fiéis. Um deles ocorreu em Portugal no ano de 1266, quando reinava Dom Afonso III, filho da Rainha Santa Isabel.
Havia em Santarém uma igreja dedicada a Santo Estevão, hoje Basílica do Santíssimo Milagre. Não longe dela, numa rua chamada das Esteiras, morava uma pobre mulher a quem o marido infiel causava muitos desgostos.
Vendo-se maltratada, procurava um meio de pôr fim àquela terrível situação.
Ao desafogar as suas mágoas com uma vizinha, a qual tinha fama de “lançar e tirar sortilégios”, pediu-lhe que, pelo exercício de sua “arte”, lhe aconselhasse algum meio de conseguir que o seu esposo lhe tivesse amor.
A vizinha, que praticava magias, prometeu-lhe pronta solução, dizendo:
— Vá à igreja e comungue. Assim que o sacerdote lhe administrar a partícula, tire-a da boca, inteira, sem que ninguém dê por isso. Esconda-a no véu e traga-ma às escondidas. Ordenarei com ela certas devoções e garanto que o seu marido só a si há de querer e amar.
Vendo neste ato somente o meio fácil de pôr termo aos seus desgostos, a ingênua cristã não percebeu a maldade e o ódio da feiticeira para com Nosso Senhor eucarístico.
Acontece o milagre
No dia seguinte, logo pela manhã, foi à Igreja de Santo Estevão onde se confessou e, logo que recebeu a hóstia consagrada, tirou-a da boca com toda a cautela, embrulhou-a no véu e saiu.
Correu para a casa da feiticeira, contentíssima por ver finalmente chegada a hora da sua maior consolação.
Porém, sem ela se dar conta, das dobras do véu começaram a cair gotas de sangue.
As pessoas que passavam pela rua lhe perguntavam que ferida tinha para verter tanto sangue. Envergonhada, mudou de rumo, entrou em casa, e escondeu num baú o fruto do seu roubo sacrílego.
Hesitante, sem saber o que fazer com a hóstia, esperou pela chegada do marido. Queria contar-lhe tudo, mas a vergonha a fez calar-se.
À noite acordaram ambos subitamente e viram que toda a casa resplandecia. O humilde baú tinha sido transformado num sacrário, de onde saíam raios magníficos.
Tomado de espanto e perturbação, o marido perguntou à esposa o motivo de tão esplendoroso espetáculo. Esta então, já sem ânimo para encobrir a sua culpa, contou-lhe toda a verdade. Levantaram-se logo e foram colocar-se de joelhos diante da Sagrada Partícula.
Passaram assim toda a noite, à espera de, logo ao raiar do dia, poderem comunicar ao pároco tão maravilhoso prodígio. Mal rompeu o dia, o sacerdote acorreu à casa da inconsciente mulher, juntamente com muitos habitantes de Santarém.
Depois de bem examinado e confirmado o milagre, o pároco e outros eclesiásticos tomaram a Sagrada Hóstia, ainda escondida no véu, e levaram aquele tesouro precioso de volta à igreja em procissão solene, debaixo de um pálio.
O véu manchado com o Sangue Eucarístico foi doado aos frades de São Domingos, que o conservaram num relicário de cristal.
A Hóstia milagrosa foi envolvida em cera e, guardada numa custódia, exposta à adoração dos fiéis, os quais lhe deram a piedosa denominação de o “Santo Milagre”.
Setenta e quatro anos depois, na festa do Corpo de Deus, ao abrir o sacrário em presença do Rei Dom Afonso IV e da Corte, o pároco encontrou quebrado o invólucro de cera e a Hóstia envolta, de forma humanamente inexplicável, por uma camada do mais puro cristal sem qualquer marca de emenda ou soldadura.
Oito séculos de história
A história do milagre de Santarém não acaba aí.
Esta Partícula consagrada atravessou os séculos sem sofrer os danos do tempo, sendo a salvaguarda dos habitantes das imediações.
Assim, quando algum flagelo os ameaçava, ou as plantações estavam em perigo de perder-se, levavam a Hóstia milagrosa em procissão por entre os campos, e nunca foi em vão sua confiança.
Mas o mais admirável é que Nosso Senhor mostrou-se nela muitas vezes debaixo das diversas formas da sua humanidade: ora de menino nos braços de sua mãe, ora de adolescente, ora de homem na força da idade.
Algumas vezes apresentou-se chagado e sofredor. Em algumas ocasiões, com ar ameaçador; em outras, resplandecente de bondade e de misericórdia. Houve inclusive oportunidades em que Ele fez-se ver, sucessivamente, nessas diversas formas.
Os teólogos veem nesses milagres um argumento de peso na confirmação da presença real de Jesus na Eucaristia.
Em seu livro “Panegírico ao Santíssimo Sacramento”, afirma o escritor M. P. Lejeune: “São Paulo diz que os milagres não são necessários aos fiéis, mas aos infiéis; e, contudo, a bondade divina fá-los de vez em quando para confirmar a fé e consolar a piedade dos fiéis”.
O “Santo Milagre” pode ser adorado pelos fiéis ainda hoje, na primeira quinta-feira de cada mês e no domingo seguinte ao da Páscoa.