Quais foram os objetivos de Vossa Excelência nesta visita ao Brasil?
Nestas três profícuas semanas, visitei, sobretudo, todos os centros universitários ligados à Universidade Pontifícia Lateranense, habitualmente chamada a Universidade do Papa.
Além disso, implementei acordos com novos centros, por exemplo, com a Universidade Salesiana de Campo Grande.
Julgo ter sido um trabalho importante, pois a relação entre universidades afiliadas, agregadas ou convencionadas, não pode ser apenas burocrática, fiscal ou jurídica.
Deve ir muito além, criar uma verdadeira comunidade acadêmica, o que significa comunhão de intenções, no compartilhamento da mesma missão.
Como é o dia a dia de um reitor da Lateranense?
É bastante monótono. Inicia-se normalmente às sete, com a Missa para os estudantes, celebrada pelo próprio Reitor.
Finda esta, dirijo-me ao hall da Universidade, onde cumprimento os estudantes que chegam.
Terminado esse momento muito cordial, do qual os alunos gostam, subo para o escritório. Começam então as audiências e o rotineiro trabalho de escritório.
Trata-se de um ritmo um tanto monótono, mas rico de contatos e de possibilidades.
Temos um programa muito intenso de simpósios, encontros, congressos; e eu, em via de regra, procuro fazer uma saudação, não formal, mas dirigida a cada participante dessas reuniões.
Também chegam com frequência consultas de congregações e dicastérios, inclusive para nomeações de Bispos. Em todos esses casos é preciso estar aparelhado para dar um parecer bem fundamentado, que possa resultar útil.
Como influi nessa tarefa o fato de ser Bispo e filho de São João Bosco?
Fiquei realmente um pouco surpreso pelo fato de o Santo Padre ter querido nomear-me Bispo, apenas dois meses depois de ser empossado Reitor da Universidade, tanto mais que não tenho nenhum outro cargo além deste.
O Papa quis certamente fazê-lo para dar uma maior autoridade ao Reitor da sua Universidade, mas também para conceder-lhe uma graça a mais.
A ordenação episcopal confere um salto de qualidade na ordem da graça e isso se sente no exercício das funções diretivas: sinto-me muito mais capaz de enfrentar as dificuldades, as coisas erradas ou diferentes do que eu havia previsto, de suportar as contrariedades.
Sou, decerto, um Bispo salesiano, e um Bispo salesiano tem características especiais; mantém por inteiro o espírito de pertença à sua congregação, ao carisma de Dom Bosco.
Portanto, exercer o cargo de Reitor como Bispo salesiano significa, sem dúvida, privilegiar o sistema preventivo de São João Bosco: a razão, a religião, o carinho.
Ou seja, ser particularmente sensível aos desafios da educação no momento presente; ser capaz de dar resposta exata, precisa, válida, face à emergência educativa de nossos dias.
Quais são os desafios mais imediatos das universidades católicas, sobretudo no campo da ética e da moral, perante a atual ditadura do relativismo?
Acho que neste momento, no qual com razão se fala da “ditadura do relativismo”, um bom educador, no ambiente universitário católico – mais ainda no de uma Universidade Pontifícia –, deve ter em conta de modo privilegiado os ensinamentos, o magistério do atual Pontífice, Bento XVI.
Pois certamente, nas atuais circunstâncias, ele é como um farol que nos ilumina perante as provocações do relativismo que nos envolve. Foi ele mesmo quem nos falou de “emergência educativa”.
Penso que a resposta precisa que a Universidade do Papa e as Pontifícias Universidades Católicas em geral devem oferecer na atual emergência educativa é a formação dos formadores, a qual deve ser conduzida no roteiro acadêmico característico das instituições nas quais nos encontramos.
Portanto, através do estudo, da investigação, na procura apaixonada da verdade. Isto nunca deveria ser descurado em nenhuma universidade, menos ainda nas universidades católicas.
Pode dizer-nos algo sobre o projeto “Casa Zaccheo”, do qual Vossa Excelência é o coordenador?
É um projeto original, estudado precisamente para ser um expressivo sinal no próximo Ano da Fé.
Com aprovação do Grão Chanceler – o Cardeal Vallini, Vigário do Santo Padre – instituímos a Casa Zaccheo, que não é um colégio, nem um internato: é uma casa de convivência, onde se vive em profundidade a vida comunitária.
E todos que participam dessa original experiência formativa são pessoas comprometidas a se interpelarem, diante de Deus, sobre sua vocação.
Estão, pois, à procura do projeto de Deus a seu respeito. Dali poderão sair bons pais e boas mães de família, e esperamos que também bons sacerdotes, boas religiosas, bons consagrados.
Qual seria a mensagem de Vossa Excelência para os jovens arautos, com os quais travou contato nestes dias?
Entre outras coisas belas que me aconteceram nestes dias, está o encontro com os Arautos do Evangelho. Não conhecia muito de sua vida e, portanto, para mim foi preciosa esta experiência de convívio de mais de uma semana com eles.
Pude apreciar o entusiasmo e a louçania do carisma, o qual, como observei, tem muitos pontos de contato com o carisma de São João Bosco: também aqui a preocupação forte é a educativa, a educação dos jovens por meio da cultura; portanto, do ensino, da investigação, do estudo.
Encontrei ótimos arautos que estão alcançando um apreciável nível de competência no campo da investigação universitária.
O que me impressionou foi a presença de tantos jovens de todas as idades.
Todos muito entusiastas, muito participantes da missão educativa recebida do seu fundador, que pude encontrar pessoalmente e trocar com ele algumas palavras.
Impressionou-me sobremaneira também o amor à beleza, à beleza considerada exatamente como via para elevar-se a Deus, para alcançar a santidade. E parece-me ouvir um refrão famoso na teologia do século XX: “A beleza salvará o mundo”.
A esses rapazes que encontrei nos Arautos do Evangelho, eu recomendaria continuar com firmeza e com o mesmo entusiasmo que vi, o caminho encetado.
Por certo, toda fundação jovem como esta necessita consolidar-se, mas consolidação não significa abaixar o nível do entusiasmo inicial.
Recomendo-lhes que, contribuindo para a consolidação de sua Instituição, no diálogo com a Igreja local, na obediência aos Bispos, nunca percam esse entusiasmo e esse amor à beleza, essa vontade de crescer educando, que pude comprovar neles, durante esses dias.