Quem viveu em alto de montanha pôde, sem dúvida, contemplar variados espetáculos da natureza.

Ora é o Sol nascendo, começando a colorir o dia com seus primeiros raios dourados, parecendo renovar todas as coisas; ora é o ocaso, no qual o astro rei cede o lugar à rainha da noite, a Lua, encerrando o dia com cores fortes e vibrantes, numa despedida que não é senão um “até amanhã”.

Outras vezes, as nuvens cobrem ou enfeitam o céu formando desenhos que alimentam a imaginação dos observadores.

Mais sugestiva situação talvez seja quando a névoa envolve o panorama como um manto, deixando descobertos apenas os picos dos montes, fazendo-nos evocar o belo trecho do Pequeno Ofício da Imaculada Conceição: “E cobri como névoa a Terra toda”. 

Tem sua beleza também o céu inteiramente límpido – “céu de brigadeiro”, dizem os aviadores –, quando no horizonte infindo a terra e o céu se encontram, quiçá simbolizando um ósculo entre o tempo e a eternidade…

Ao longo da História, Deus escolheu o alto dos montes para Se manifestar aos homens: no Sinai, entregou a Moisés as tábuas da Lei; as Bem-Aventuranças foram ensinadas pelo Divino Mestre no “Sermão da Montanha”.

Para transfigurar-Se ante três de seus discípulos, Cristo elegeu o Tabor; e no Calvário ofereceu-Se ao Pai como o Cordeiro sem mancha, para a Redenção do gênero humano.

E séculos antes de vir ao mundo o Homem Deus, havia já cantado o Salmista: “Monte de Deus é o monte de Basã, monte elevado é o monte de Basã. Por que tendes inveja, montes elevados, do monte que Deus escolheu para morar? O Senhor vai morar nele sempre” (Sl 68, 16-17). 

Qual seria essa montanha na qual quis Deus habitar para sempre, prevista já no Antigo Testamento?

São Luís Grignion de Montfort, na sua famosa Oração Abrasada proclama:

Qual é, Senhor Deus de verdade, essa montanha misteriosa de que nos dizeis tantas maravilhas, senão Maria, vossa diletíssima Esposa, cuja base pusestes sobre o cimo das mais altas montanhas? Fundamenta ejus in montibus sanctis (Sl 87, 1).

É Maria, a Mãe de Deus, esse elo entre o tempo e a eternidade, entre a pequenez do ser humano e a infinitude de Deus que n’Ela Se fez homem para comunicar aos homens sua divindade.

Ensina-nos a Igreja, num lindo hino da piedade católica: “Maria mons, Maria fons, Maria pons”. Maria é a montanha (mons) de todas as virtudes, a fonte (fons) da qual seu divino Filho faz jorrar todas as graças, a ponte (pons) que permite atravessar todos os abismos.

Portanto, apesar dos defeitos e lacunas inerentes à condição humana, nada devemos considerar como motivo de aflição, pois é Nossa Senhora a mais excelsa de todas as mães.

A compaixão d’Ela vale mais do que os castigos merecidos por nossos delitos; e se nossos pecados constituem um abismo, sua clemência é uma verdadeira montanha. 

Habitantes de um “vale de lágrimas”, galguemos essa Montanha de misericórdia na qual Deus Se compraz maravilhosamente, certos de que por intercessão d’Ela alcançaremos a bem-aventurança eterna.