Neste incomparável ambiente da Catedral Compostelana, saúdo-vos com as palavras do Santo de Assis: “Que o Senhor vos dê a paz”.

Dirijo-me com especial afeto a nosso querido irmão Frei José Rodríguez Carballo, até agora Ministro-Geral da Ordem Franciscana dos Irmãos Menores, nomeado por Sua Santidade, o Papa Francisco, Arcebispo Titular de Belcastro e Secretário da Congregação para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, e que daqui a pouco, pela imposição das mãos e oração de consagração, se tornará um sucessor dos Apóstolos. […]

Pela imposição das mãos, passas a ser totalmente do Senhor

Estimado Frei José, tão grande é o mistério que dentre em breve vais viver, e pelo qual receberás a plenitude do sacerdócio e serás incorporado para sempre ao Colégio Episcopal, que, no momento mais solene de tua ordenação, a palavra humana emudece.

Tu, e contigo todos nós, em silêncio nos recolhemos em Deus, cuja mão se estende sobre ti para fazer-te seu e te cobre para proteger-te.

Se pela profissão religiosa na Ordem Franciscana, quando tinhas apenas 18 anos, deixaste de pertencer a ti mesmo e te tornaste propriedade do Senhor, agora, pela imposição das mãos em tua ordenação episcopal, passas a ser totalmente do Senhor, que te conheceu e escolheu desde o seio materno (cf. Jr 1, 5). […]

Em teu caso, por vontade do Papa Francisco, estás chamado agora a colaborar com o Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, para que os consagrados – em fidelidade criativa a Jesus, a seu carisma específico e ao homem de hoje – possam continuar escrevendo uma grande história da vida da Igreja e a serviço da humanidade.

Estimula, a todo momento, a vida religiosa e consagrada a passar do bom ao melhor, olhando com gratidão o passado, abraçando com esperança o futuro e vivendo com entusiasmo o presente.

Sê fiel, prudente e bondoso

Para levar a cabo tão belo propósito, considera, em primeiro lugar, que “de um administrador, o que se exige é que seja fiel” (I Cor 4, 2).

Enquanto Bispo, sê fiel ao ensinamento apostólico, que és chamado a transmitir integralmente, com tua vida e tua palavra, em plena comunhão com o Sucessor de Pedro. Sê fiel ao dom de Deus que há em ti e que deve ser constantemente renovado, como pede o Apóstolo (cf. II Tim 1, 6).

Sê fiel à missão que o Papa Francisco te encomendou. Confiou-te um grande tesouro, o tesouro da vida religiosa e consagrada, essencial na vida e na missão da Igreja, pois “foi querida pelo próprio Jesus como parcela irremovível da sua Igreja”[1]

Em segundo lugar, o Bispo, na qualidade de servo, precisa ser prudente. Prudente é quem não julga segundo as aparências ou os caprichos, mas busca a verdade e dá-lhe a primazia em sua vida.

Enquanto Bispo, deves sentir-te “mendigo da verdade”. Busca sempre a verdade, deixa-te plasmar pela Verdade que é Cristo, age de acordo com ela, e a verdade te fará experimentar a verdadeira liberdade (cf. Jo 8, 32).

A terceira característica da vida de um Bispo, enquanto servidor, é a bondade. No sentido pleno da palavra, só Deus é bom (cf. Mc 10, 18).

Como canta São Francisco numa de suas mais conhecidas orações, Ele é “o Bem, todo o Bem, o sumo Bem”, o Bom por excelência, a Bondade personificada.

O servo – em nosso caso, o Bispo – será bom na medida em que sua vida for toda orientada para Deus, unido interiormente ao Deus vivo e verdadeiro, mediante uma relação pessoal e uma intensa vida de oração.

Imploramos os dons do Espírito

Estamos celebrando a ­Solenidade de Pentecostes, festa do Espírito, a quem confessamos como Senhor e doador da vida. Imploramos hoje seus dons para a Igreja e particularmente para Frei José Rodríguez Carballo.

Pedimos ao Espírito para o novo Arcebispo o dom de Sabedoria, a fim de discernir o que é de Deus e o que Lhe é contrário; o dom de Entendimento, para saber interpretar os sinais dos tempos e encontrar a resposta evangélica adequada a eles.

Pedimos o dom de Conselho, para falar sempre desde Deus, e a partir d’Ele dizer uma palavra de esperança aos homens e mulheres de hoje; o dom de Fortaleza para ser testemunha de Cristo e de seu Evangelho, com fidelidade e entrega total durante toda a vida.

O dom de Ciência para penetrar nos segredos do Senhor e saber comunicá-los com singeleza e profundidade; o dom de Temor, para sempre afastar-se de tudo quanto seja contrário à vontade do Senhor; o dom de Piedade, para manter durante toda a vida uma relação filial e confiante com Deus, o Pai das misericórdias.

Não é fácil a vocação e missão do novo Arcebispo. Atrevo-me, mais ainda, a dizer que seria impossível se Frei José se apoiasse apenas em suas próprias forças. Mas ele não está só.

O Senhor, que lhe deu a graça de nascer e ser educado numa família profundamente cristã, e o convidou desde sua infância a segui-Lo de perto, na vida franciscana, continua a amá-lo e acompanhá-lo.

Frei José sabe, pois o experimentou muitas vezes em sua vida, que “para Deus nada é impossível” (Lc 1, 37). Sabe, ademais, que o Espírito que hoje Se derrama sobre ele, vem em auxílio de sua debilidade, como afirmava São Paulo na segunda leitura.

Por isso, sabendo em quem pôs sua confiança (cf. II Tim 1, 12), conforme atesta seu lema episcopal, com renovada entrega ao Senhor, Frei José diz hoje como a Santíssima Virgem: “Eis-me aqui, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).

Não temas, Frei José. Contas com nossa oração e com a de milhares e milhares de consagrados. Contas, sobretudo, com a força do Espírito Santo. 

Dois diáconos sustentam o livro dos Evangelhos sobre a
cabeça do eleito enquanto é proferida a Oração de Ordenação

 

Excertos da Homilia de 18/5/2013. Tradução: Arautos do Evangelho. Texto integral em: www.vatican.va.

Notas
[1] Bento XVI. Audiência aos Bispos do Brasil, 5/11/2010.