Quero saudar de modo especial, com muita fraternidade, meus irmãos bispos: Dom José Maria Pinheiro, Ordinário desta Diocese, e Dom Benedito Beni dos Santos, Bispo de Lorena. Durante muito tempo trabalhamos juntos, na Arquidiocese de São Paulo.
É para mim uma alegria muito grande poder celebrar também aqui, nesta comunidade, nesta igreja nova, meu jubileu sacerdotal.
Quero agradecer muito ao padre João Clá, por ter-me dado essa oportunidade, e saudá-lo com muito respeito, fraternalmente, como amigo.
Quero saudar todos os padres dos Arautos do Evangelho, todos os membros desta Associação, todos aqueles que de alguma forma têm alguma ligação espiritual, ou até institucional, com esta grande obra de Deus que são os Arautos do Evangelho.
Temos muita confiança em vocês
Posso começar dizendo que Roma, cada vez mais, conhece vocês. Alguns ali os conhecem, de modo particular, e falam de vocês, entre os quais o Cardeal Rodé, que esteve aqui há pouco tempo, e é o Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
Temos muita confiança em vocês, muita admiração e também muita esperança, claro, de que esta obra vá em frente, que seja sempre muito aberta ao Espírito Santo, o qual guia a Igreja e guia também todas essas iniciativas, esses carismas.
Aliás, é Ele quem suscita novos carismas, novas vocações, novas iniciativas, novas pastorais, novos ministérios. É Ele quem está a suscitar sempre a diversidade e a unidade nessa diversidade.
Assim como a Santíssima Trindade, um só Deus em três Pessoas, é a unidade perfeita na distinção das Pessoas, a Igreja também é feita assim, à semelhança dessa Trindade.
E os Arautos do Evangelho são uma dessas novas iniciativas que o Espírito Santo suscitou nos últimos tempos na Igreja.
Como dizia o Papa João Paulo II, os Movimentos e as novas Comunidades são a resposta do Espírito Santo aos tempos de hoje.
Mas, ao mesmo tempo, ele dizia: sejam muito fiéis à Igreja, tenham muita comunhão com os Bispos, e vocês serão na verdade uma bênção para a Igreja e para a humanidade.
Sei que esse é o desejo de vocês, vocês querem caminhar nessa luz.
E o Santo Padre certamente também gostaria de, em espírito, estar aqui com vocês; e ele está, certamente. Quando nós saímos de Roma, levamos sempre uma bênção dele para todos; portanto, também para vocês hoje aqui, de modo especial.
Sempre muito feliz como sacerdote
Sou padre há cinquenta anos. Sei que muitos aqui já foram ordenados sacerdotes e outros estão se preparando para o ser. Dom José Maria está acompanhando, Dom Beni está envolvido muito de perto na formação.
Então, isso nos dá muita tranquilidade, e deve dar a vocês também muita tranquilidade essa comunhão, esse estar formalmente caminhando dentro das instituições da Igreja.
Devo dizer que fui sempre muito feliz como sacerdote, nesses cinquenta anos.
Claro que com sofrimentos, com as cruzes, enfim, com as dificuldades e os cansaços que fazem parte da condição humana, e também do cristão.
Porque o cristão tem necessariamente de seguir Jesus Cristo no caminho do Calvário. “Quem não toma a sua cruz e não Me segue, não é digno de Mim” (Mt 10, 38). […]
É essencial ser homens de Fé e de oração
Por isso digo a vocês que estão ainda a caminho, eventualmente escutando essa voz: não tenham medo de responder “sim”.
O Evangelho de hoje fala do medo. O medo nos faz duvidar, hesitar, mas a Fé tira os medos. E a Fé significa aderir a Jesus Cristo, ter certeza em Jesus Cristo, pois Ele sabe para onde está nos conduzindo.
Confiar n’Ele! Fé é isso, é ter confiança, e uma confiança que não faz muitas perguntas. Perguntas sobre “como fazer isso?”, sim; mas não perguntas sobre “para onde Jesus Cristo nos guia?”. Ele sabe para onde nos leva, Ele nos conduz.
Tenham Fé! A Fé tira os medos!
São Pedro, quando ficou com medo, começou a afundar no mar; Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e disse-lhe: “Homem de pouca Fé, por que duvidaste?” (Mt 14, 31).
Jesus, em sua misericórdia, dá a mão mesmo àqueles que não têm Fé, àqueles que estão com medo, porque isso é muito humano.
Mas é preciso ser também um homem de oração, porque seguir Jesus Cristo significa ter uma intimidade com Ele. O padre e todas as pessoas consagradas devem ser, sobretudo, homens e mulheres de oração. Jesus foi um Homem de oração. Como Homem, é claro; como Deus, Ele atendia às orações. […]
O Evangelho mostra como Jesus era um Homem de oração, que conferia com o seu Pai a sua missão, falava do que tinha acontecido, do que iria ainda acontecer.
Jesus tinha essa grande intimidade com o seu Pai, ensinando-nos que também nós devemos ser homens de oração; sobretudo nós, sacerdotes, que devemos conduzir o povo a Jesus Cristo, o qual nos conduz ao Pai, no Espírito Santo.
Também para não confiarmos demais, como se tudo fosse obra nossa, como se fôssemos capazes de salvar o povo. Não! Nós não somos salvadores do povo.
Ele é o único Salvador, é o primado de Deus e da sua Graça na vida da Igreja. Ele nos amou primeiro, sem Ele nada podemos fazer: “Sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5) – disse Ele. […] Então, a oração é muito importante na vida do padre.
Outra coisa que vamos sempre aprendendo de novo é ser muito sinceros diante de Deus, também dos nossos pecados. O Jubileu é sempre um tempo em que pedimos perdão.
Como Israel pedia perdão dos pecados – ele fazia esse jubileu de cinquenta em cinquenta anos –, também nós pedimos perdão.
Mas cada qual deve ter aquela alegria, aquela simplicidade de se colocar diante de Deus e dizer: “Eu errei! Errei em tantas coisas. Não fiz o que o Senhor esperava de mim, e podia esperar, porque estava ao meu alcance; fui desleixado, fui negligente ou até de má vontade”.
Devemos dizer isso muito tranquilamente a Deus; Ele é de um amor infinito e nos recebe. Aliás, nem está muito interessado nos nossos pecados, mas Ele quer, isto sim, que nós os reconheçamos. Ele nos perdoa e nos diz: “Vá em frente, Eu estarei com você!”.
O sacerdote também precisa ter essa tranquilidade, essa sinceridade, essa serenidade, na certeza do amor do Pai e, portanto, de poder dizer-Lhe tudo o que se passa consigo, porque Ele escuta com amor, com imensa misericórdia.
Às vezes, em nossa oração, aprendemos a pedir mais. Disse Jesus que é preciso pedir: “Pedi e recebereis!” (Jo 16, 24). Ele até quer que peçamos para a honra de seu nome: “E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei” (Jo 14, 13).
A via da beleza e a espiritualidade
Devemos louvar a Deus, bendizê-Lo, proclamar ao mundo as belezas de Deus. Que a beleza criada seja um louvor a Deus, senão ela não tem sentido, seja um reflexo da Beleza divina. Fala-se muito hoje do caminho da beleza para chegar a Deus.
Na Congregação para o Clero insistimos em alguns pontos com os padres, e isso talvez possa ser importante também para os Arautos.
Em primeiro lugar, essa questão da espiritualidade, porque hoje o mundo mudou muito, a cultura pós-moderna vai levando tudo de roldão e, aos poucos, pretende ocupar o lugar de todas as culturas. Essa nova cultura não quer saber de religião.
Portanto, estamos numa situação nova, na qual devemos ter muita espiritualidade para viver como cristãos, sobretudo como padres, como pastores e como consagrados.
Viver publicamente e com alegria, sem esconder o fato de sermos os filhos de Deus, de sermos o povo de Deus. E proclamar isso.
Proclamar e viver isso fortemente, como espiritualidade, naquele entusiasmo de querer que outros também entendam, também se abram para isso, porque é o único caminho para o mundo. Mesmo que o mundo feche os ouvidos e os olhos, vamos continuar.
Mas fazer isso com alegria, com entusiasmo, com vontade. Essa espiritualidade que nasce exatamente da intimidade com Jesus Cristo, do encontro pessoal e comunitário com Ele, nos leva à missão.
Missionaridade: dever indicado pelo Papa
Este é o segundo ponto, que hoje acentuamos muito: a missionaridade.
Não podemos esperar que o povo venha, […] devemos pensar em todos aqueles que nós batizamos – e são tantos! –, que não participam de coisa nenhuma, estão longe, nunca descobriram a riqueza do que significa ser batizado, ser filho de Deus, fazer parte do Seu povo, ser herdeiro de Deus.
Isso significa missão. Quer dizer, nós devemos sair em busca.
Aliás, o Papa disse isso aqui em São Paulo, sobretudo aos Bispos brasileiros. É preciso ir, em primeiro lugar, aos pobres de nossas periferias urbanas e do campo.
Os pobres têm necessidade imensa de tantas coisas, mas também necessidades espirituais. E ele acrescentou que os pobres esperam a proximidade da Igreja, querem sentir o calor da sua Igreja; então sim, sentirão que a Igreja os ama.
Se estivermos distantes e esperando que eles venham, como vão crer que a Igreja os ama, que Deus os ama? Não, nós vamos à busca deles!
Sei que vocês fazem isso, tentam fazer, e têm que ter isso muito claro. Nós, os Arautos, vamos de fato aos pobres em primeiro lugar, porque eles – exatamente por serem vítimas das instituições humanas, regidas pelo egoísmo – são aqueles que mais precisam sentir que não foi Deus quem os fez pobres. […]
O Papa diz que o melhor serviço que podemos prestar aos pobres é a evangelização. Mas eu sempre acrescento que a evangelização não vai sem a promoção humana. Também isso nós continuamos a acentuar muito junto ao clero.
Carência de líderes e formação da juventude
Outro aspecto é a formação permanente, o mundo da cultura. Os padres devem de fato estar muito atentos a isso, à necessidade de levar a Fé também aos vários segmentos da cultura, porque é a partir da cultura que o povo é conduzido. Inculturar a Fé também na intelectualidade.
Por exemplo, diz-se muito hoje, em Roma, que a América Latina tem carência de leigos, de leigos que sejam líderes e ao mesmo tempo profundamente católicos; e isso publicamente, de forma que sejam pontos de referência, como nós tivemos um Tristão de Ataíde e outros. Hoje não temos mais.
Os grandes homens da literatura e também os políticos da América Latina não são mais católicos assim, professos, que realmente fazem disso o seu grande testemunho.
Então, como educar novas lideranças, como trabalhar nos meios culturais: escola, educação, universidade? Claro que plantamos para o futuro.
É como plantar uma araucária, que vai estar bonita na geração seguinte. Mas estamos prevendo e trabalhando para o futuro. E penso que vocês têm aí também um caminho importante a trilhar, o caminho de estar presente na cultura […].
Sair em missão é saudável também para o próprio evangelizador
Então, os Movimentos, as novas Comunidades, as novas Instituições, os Arautos, vocês têm o élan do espírito: não deixem de usá-lo para a missão, e vocês vão ser muito felizes.
Se vocês se fecharem sobre os assuntos da Associação, aí será uma guerra interna. Quando saímos em missão e pensamos nos outros, tudo isso se torna corriqueiro, coisas que se resolvem humanamente, no dia-a-dia.
Sair em missão sempre é saudável, não só para as pessoas que recebem, mas também para o próprio evangelizador. […] É isto que eu queria dizer a vocês neste Jubileu, neste encontro especial com vocês, na alegria de estar com vocês.
Quero dizer também que louvo a Deus, agradeço-Lhe por esses anos todos de sacerdócio que Ele me deu, e peço-Lhe que continue me abençoando e esteja comigo até o fim.
Porque depois dos cinquenta anos de sacerdócio precisamos estar um pouco mais conscientes… e pedir que Deus esteja conosco até o fim.
Obrigado pelas orações de vocês. Rezem pelos padres do mundo – são mais de quatrocentos mil – e sejam aqueles grandes entusiastas de Jesus Cristo e do seu povo. Amém.