O tema escolhido para esta solene Assembléia Pública – “A Imaculada, Mãe de todos os homens, ícone da beleza e da caridade divina” – pretende justamente realçar a singular participação da Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe de todos os homens, no mistério de Deus, mistério excelso de beleza e de caridade.

Deus, Uno e Trino, que difunde a sua beleza e a sua caridade no mundo por Ele criado, comunica, de modo particular, estas suas qualidades às criaturas humanas por meio do perfeitíssimo Mediador, o seu Filho Jesus Cristo, modelando-as e santificando-as com o poder do Espírito Santo, para que sejam santas e imaculadas diante d’Ele na caridade (cf. Ef 1,4).

Lugar primordial de Maria na criação

Maria de Nazaré Se sobressai entre todas as criaturas como espelho resplandecente da beleza divina.

Porque, tendo sido “preservada” do pecado original e cheia “de graça”, está de tal forma animada e repleta da caridade do Espírito Santo, que se tornou protótipo da pessoa humana que, de modo total e sem reserva alguma, acolhe o Filho de Deus tanto no momento trágico da sua Paixão como no da Ressurreição.

Permanecendo profundamente unida a Cristo crucificado e ressuscitado, Maria revela-Se Mãe de toda a humanidade e, em particular, dos discípulos do Filho.

Na sua primeira carta encíclica Deus caritas est, Sua Santidade – fazendo referência às palavras pronunciadas por Jesus na Cruz: “Eis a tua Mãe” (Jo 19, 27) – afirmou que, aos pés da Cruz do Filho, “Maria tornou-se de fato Mãe de todos os crentes.

À sua bondade materna e bem assim à sua pureza e beleza virginal, recorrem os homens de todos os tempos e lugares do mundo nas suas necessidades e esperanças, nas suas alegrias e sofrimentos, nos seus momentos de solidão, mas também na partilha comunitária;

E sempre experimentam o benefício da sua bondade, o amor inexaurível que Ela exala do fundo do seu coração.

Os testemunhos de gratidão tributados a Ela em todos os continentes e culturas são o reconhecimento daquele amor puro que não busca a si próprio, mas quer simplesmente o bem” (n. 42).

Maria, figura da Igreja

A Igreja – que, à imitação da Virgem Maria, está chamada a acolher o Filho de Deus na história e nas vicissitudes de cada povo e cultura –, contemplando a singular e luminosa figura de Maria, descobre e compreende sempre melhor a sua identidade de mãe, discípula e mestra.

Por esse motivo, o Concílio Vaticano II

ressaltou que a Mãe do Senhor não é figura marginal no âmbito da fé e no panorama da teologia, porque Ela, por sua íntima participação na história da salvação, “reúne em si de certa forma e reflete os dados máximos da fé”.1

Por isso, Maria torna-se “fundamento para o pensar cristão”;2 o seu mistério nos ilumina no mistério da Igreja e vice-versa.

A mariologia e a “via pulchritudinis”

Esta solene Assembleia Pública, que vê como protagonistas a Pontifícia Academia da Imaculada e a Pontifícia Academia Mariana Internacional, é uma ocasião propícia da qual o Sumo Pontífice se serve para dirigir um caloroso encorajamento a todos os cultores de mariologia.

E isso, a fim de que se comprometam cada vez mais e intensifiquem a sua atividade no âmbito dos Centros de estudo e no campo das publicações científicas, prestando particular atenção a uma metodologia respeitosa da interação fecunda entre a via veritatis e a via pulchritudinis, que se compendiam na via caritatis.

 

Carta ao Cardeal Paul Poupard por ocasião da Assembleia Pública das Pontifícias Academias, 20/11/2006.

1 Congregação para a Educação Católica, A Virgem Maria na formação intelectual e espiritual, D. 5.
2 João Paulo II, Carta aos sacerdotes para a Quinta-Feira Santa, 1995.