A comunhão eclesial é uma aspiração sempre necessária, um desses imprescindíveis conteúdos da Fé Católica.
Nosso curso pastoral anterior assinalou a comunhão entre nós, que formamos a Igreja diocesana, como um ingrediente fundamental para a boa refeição que alimenta e dá sabor.
Lembrem-se de que acentuamos que a comunhão da Igreja diocesana e da igreja doméstica ajuda a redescobrir a Fé.
A comunhão eclesial é suscitada e sustentada pelo Espírito Santo, e é conservada e promovida pelo ministério apostólico, exercido pelo Papa e pelos Bispos em suas dioceses.
É lógico: a esta comunhão damos o nome de Igreja, e ela abarca todos os tempos e todas as gerações.
Isso porque temos uma dupla universalidade: estamos unidos em todas as partes do mundo e, em segundo lugar, todos os tempos nos pertencem.
Estamos, pois, nessa comunhão, unidos aos crentes em Jesus Cristo em todas as partes do mundo, e a todos os crentes do passado e do futuro, com os quais formamos uma grande comunhão. E digo-vos, caros irmãos, que essa comunhão nos é extremamente necessária.
Atualização permanente da comunhão
Quem garante essa união, a não ser o Espírito Santo com sua presença ativa no mistério na História? Deve-se a Ele a sua realização ao longo dos séculos.
Graças ao Espírito Paráclito, a experiência de Jesus Ressuscitado, feita pela comunidade apostólica nas origens da Igreja, nós das gerações posteriores pudemos vivê-la sempre enquanto transmitida e atualizada na Fé, no culto e na comunhão do Povo de Deus, peregrino no tempo.
Por isso, agora nós vivemos o encontro com o Ressuscitado não apenas como algo passado, mas também na presente comunhão da Fé, da Liturgia, da vida da Igreja.
A Tradição apostólica da Igreja consiste nessa transmissão dos bens da salvação, que faz da comunidade cristã a atualização permanente, com a força do Espírito, da comunhão vivida pela primeira comunidade cristã, a comunidade dos Apóstolos.
De modo que a Tradição assim se chama porque surgiu do testemunho dos Apóstolos e da comunidade dos discípulos no tempo das origens da Igreja, foi recolhida por inspiração do Espírito Santo nos escritos do Novo Testamento e na vida sacramental, na vida de Fé.
E a ela – a esta Tradição, que é toda a realidade sempre atual do dom de Jesus – a Igreja faz continuamente referência como ao seu fundamento e à sua norma através da sucessão ininterrupta do Ministério apostólico, em Toledo através dos 120 Bispos que temos servido a esta Igreja.
“Sereis minhas testemunhas até os confins da Terra”
Curiosamente, em sua vida histórica, Jesus limitou sua missão a Israel, mas deu a entender que o dom estava destinado não só ao povo israelita, mas também ao mundo inteiro e a todos os tempos.
Sabemos que o Ressuscitado recomendou de modo explícito aos Apóstolos a tarefa de ensinar a todas as nações, garantindo-lhes sua presença e sua ajuda até o fim dos tempos (cf. Mt 28, 19-20).
Para que a salvação de Cristo seja universal, requer-se logicamente que o memorial da Páscoa seja celebrado sem interrupção na História, até a volta gloriosa de Cristo.
Sabemos que celebrar o Pão da Vida significa celebrar que sem a Presença de Jesus, sem o dom que Ele nos faz de sua vida, nossas vidas secam, se empobrecem, morrem.
Mas quem atualizará a presença salvífica do Senhor Jesus Cristo através do ministério apostólico dos Apóstolos e seus sucessores e ao longo de toda a vida do povo da Nova Aliança?
A resposta é clara: o Espírito Santo, de acordo com estas palavras de Jesus: “Vós sois as testemunhas de tudo isso. Eu vos mandarei o Prometido de meu Pai” (Lc 24, 48-49).
“Descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até os confins do mundo” (At 1, 8).
E essa promessa, inacreditável no início, realizou-se já no tempo dos Apóstolos: “Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem” (At 5, 32).
Um rio vivo no qual estão sempre presentes as origens
A Igreja cresce e caminha, portanto, “no temor do Senhor, cheia da consolação do Espírito Santo” (At 9, 31).
Essa permanente atualização da presença ativa de Nosso Senhor Jesus Cristo em seu povo – operada pelo Espírito Santo e expressa na Igreja através do ministério apostólico e a comunhão fraterna – é o que em sentido teológico se entende pela palavra Tradição.
Ou seja, não é a mera transmissão material daquilo que no início foi dado aos Apóstolos, mas sim a presença eficaz do Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado, que acompanha e guia mediante o Espírito Santo a comunidade reunida por Ele.
A Tradição é igualmente a comunhão dos fiéis em torno dos legítimos pastores ao longo da História, uma comunhão que o Espírito Santo alimenta assegurando o vínculo entre a experiência da Fé apostólica, vivida na primeira comunidade, a dos Apóstolos, e a experiência atual de Cristo em sua Igreja.
Graças à Tradição, garantida pelo ministério dos Apóstolos e de seus sucessores, a água da vida que brotou do costado de Cristo e seu sangue salutar chegam às mulheres e aos homens de todos os tempos.
Assim, a Tradição é a presença permanente do Salvador que vem encontrar-Se conosco, para nos redimir e santificar no Espírito, mediante o ministério de sua Igreja, para glória do Pai.
Resumindo, irmãos, podemos dizer que a Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma coleção de coisas mortas.
A Tradição é o rio vivo que remonta às origens, o rio vivo no qual estão sempre presentes as origens. O rio que nos leva ao porto da eternidade, no qual se realiza sempre de novo a palavra do Senhor: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).