Por meio de seu Filho único, Nosso Senhor, Deus saiu a procurar e chamar trabalhadores para sua vinha, que Ele ama e cuida com carinho. […]
Sabemos que com esse chamado e esse envio para a querida vinha do Senhor recebemos a maior e mais elevada honra, a mais plena satisfação de trabalhar para esse Dono, que é o próprio Deus. […]
Deus é todo generosidade, a qual transborda sobre nós
A parábola dos operários da vinha dá-nos uma explicação que nunca podemos esquecer: tudo é graça.
Graça o sermos chamados, graça o sermos incorporados aos vinhateiros e trabalhar em sua vinha, graça que isso seja a qualquer hora, desde o início ou já perto do final.
Graça é receber o salário no fim do dia, qualquer que tenha sido o tempo de trabalho ou os esforços despendidos: Deus sempre no-lo dará gratuitamente, já que “para um salário de glória não há trabalho grande”. Porque Ele é bom.
Jesus não entende de finanças nem de economia, não se ocupa de números nem de matemáticas fixas, nem de regras bem estabelecidas conforme a certas medidas humanas.
Porque Ele é Amor: o autêntico amor não mede, não ergue barreiras, não calcula, não põe condições. Perante Deus não são cabíveis exigências, nada se pode exigir, nem valem as medidas que nós, homens, estabelecemos. Tudo procede dEle.
E Ele é todo generosidade, a qual transborda sobre nós. Assim no-Lo mostra seu Filho único, Jesus Cristo, na parábola de hoje, cujo ponto central é a generosidade sem limites de Deus para aqueles que foram contratados à última hora. Somos chamados a trabalhar para um Pai, como é o Dono da vinha.
Recebamos o dom e o pagamento, que não são outra coisa senão o próprio Deus e seu amor generoso e misericordioso, que é corresponder ao seu chamado, ou seja, aceitar a missão de evangelizar e servir a Igreja. […]
Um problema de toda a Igreja
Tenham muito em vista, meus caros, que parte das perplexidades atuais, ou do sentimento de frustração pastoral na Igreja, é consequência de uma certa perda do senso da graça, favorecida por tendências muito profundas da cultura atual. É um problema de toda a Igreja.
Grande parte de nossas pregações e de nosso trabalho pastoral continua tendo como ponto de partida nossos cálculos, nossas exigências, nossos planos, nossos projetos, nossos critérios, em suma, nossa ação e nossos compromissos.
Mas não deixamos Deus ser Deus. Não entendemos que os planos de Deus não são os nossos planos, nem que nossos caminhos não são os seus caminhos: são mais altos que os nossos, pois são os da Encarnação e da Cruz, o perdão e a graça, a misericórdia e a generosidade que nunca acabam.
Ponhamos a oração no centro de nossas vidas
Para secundar estes planos de Deus, queridos irmãos, devemos todos trabalhar com plena confiança, cada dia maior, para colocar a oração no centro de nossas vidas e das pessoas sob nosso cargo. Isso, como disse o Papa João Paulo II em sua Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte,
significa respeitar um princípio essencial da visão cristã da vida: o primado da graça. […] ai de nós, se esquecermos que, “sem Cristo, nada podemos fazer” (cf. Jo 15,5).
É a oração que nos faz viver nesta verdade, recordando-nos constantemente o primado de Cristo e, consequentemente, o primado da vida interior e da santidade. […]
Esse é o momento da fé, da oração, do diálogo com Deus, para abrir o coração à ação da graça e deixar a palavra de Cristo passar por nós com toda a sua força: Duc in altum!
Assim, portanto, como já lhes disse tantas vezes: Nunca deixemos a oração; jamais a oração pessoal e a comunitária.
Não deixemos de escutar a Deus e contemplar sua face no colóquio familiar da oração: isso é o que garantirá em nós a vida e o labor frutífero na vinha do Senhor. Amaremos e serviremos muito aos irmãos, se rezarmos pelo povo de Deus.
A oração — na qual a graça e a ação de Deus têm mais importância do que nossas palavras e nossos planos — nos levará a poder dizer com maior verdade a cada dia, como São Paulo: “Para mim, a vida é Cristo; não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim; considero tudo lixo e prejuízo, com o fim de ganhar Cristo”.
Somente assim, seduzidos por Cristo, estaremos com Ele. Em consequência, só assim estaremos em condições de trabalhar na vinha do Senhor, como Ele nos chama e quer.
Isto é, estando e permanecendo entre os homens para servi-los, para dar nossa vida por eles, para nos entregarmos sem reservas nem cálculos em benefício deles, fazendo transparecer e levando-lhes o amor de Jesus Cristo. […]
Vivemos tempo de esperança
Isso nos abre para a verdadeira esperança. Com certeza, ter esperança, viver com esperança não é ignorar ou negar o que acontece, nem as graves dificuldades, aparentemente sem saídas, com as quais nos deparamos.
Quanto maiores forem as dificuldades, tanto maior será nossa esperança no futuro, porque não são nossas forças que sozinhas poderão tirar-nos da situação complicada, muito pelo contrário.
Mas porque é Deus mesmo, para quem nada é impossível, o qual pode conduzir-nos a um futuro novo, carregado de sua presença, que é seu amor pelo homem e sua vida para a vida do mundo. […]
Deus não deixa o homem desamparado, no vazio, no tédio, na inutilidade da vida sem incorporar-se a seu desígnio de amor e de graça.
Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo, que amou a Igreja até o extremo e por ela Se entregou, não a deixa desamparada, nem perecer na tempestade e na escuridão.
Por isso, embora tudo pareça indicar o contrário, vivemos tempos de esperança. É a hora de Deus e, portanto, a verdadeira hora do homem. No Senhor Jesus Cristo, temos todos os motivos para superar desânimos, desalentos e desesperanças.
N’Ele, presente entre nós e junto ao Pai com nossa humanidade já vitoriosa, podemos esperar contra toda esperança, porque Ele, Filho de Deus vivo vindo a nós encarnado, fez-Se um dos nossos, nossa humanidade é a sua, humanidade do próprio Deus, que já penetrou e vive para sempre no Reino dos Céus, com Deus.
Esta é a grande e sempre nova notícia que alenta nossa esperança.
No Senhor Jesus Cristo que veio a nós e permaneceu conosco no Sacramento do Altar, Deus manifestou-Se, fez-Se visível, sensível. E manifestou-Se como Amor infinito e incondicional pelo homem e pela vida do homem. Não há lugar para o medo nem o desalento, irmãos!