Se durante a vida de El-rei D. Dinis a ação da Rainha Santa foi um constante manancial de atos virtuosos, a partir do momento da sua viuvez, a sua ação tornou se verdadeiramente exemplar. […]

Sem todavia esquecer os deveres de Rainha, que lhe absorviam uma grande parte dos seus cuidados, e não poucas vezes foram motivo de profundos desgostos, D. Isabel de Aragão cinge livremente o hábito de freira Clarissa e volvendo os olhos piedosos para um mais largo horizonte, consagra-se completamente a obras de caridade. […]

A maior parte do seu tempo tinha-o a Rainha Santa distribuído por forma a satisfazer os seus deveres de Rainha e cristã; o restante empregava-o no ministério da caridade visitando os asilados, a quem não só consolava com a sua palavra, mas muitas vezes servia de carinhosa enfermeira curando as chagas que lhes corroíam o corpo. 

Nesta e em muitas outras obras de verdadeira abnegação dispendia a Rainha Santa quase toda a sua fortuna.

Com o auxílio de Deus, a quem firmemente procurava engrandecer com os merecimentos das suas preciosas virtudes, nunca a Rainha Santa lutou com dificuldades para se desempenhar da sua nobre missão.

Os proventos de que dispunha parece que tinham o condão de se multiplicar e, se algumas vezes houve em que o seu socorro tinha de fazer face a maiores calamidades, então eram as rosas que, adquirindo a forma de ouro reluzente, premiavam os seus atos de caridade e satisfaziam os encargos adquiridos para garantir o pão aos famintos!

 

(Excertos de: Isabel D’Aragão, a Rainha Santa. História suscinta da sua vida, morte e excelsas virtudes. Coimbra: Gráfica Conimbricense, 1921, p.7-9.)