Neste ano, queria deter-me convosco sobre um aspecto da nossa missão que, já no ano passado, nesta mesma ocasião, propus à vossa atenção.
Acho que ele merece ser aprofundado ainda mais. Refiro-me à missão que o Senhor nos deu de representá-Lo não só no Sacrifício Eucarístico, mas também no Sacramento da Reconciliação.
Conexão íntima entre Eucaristia e Reconciliação
Há uma íntima conexão entre esses dois sacramentos. A Eucaristia, ápice da economia sacramental, é também a sua fonte: todos os sacramentos, em determinado sentido, brotam dela e conduzem a ela.
Isso vale de modo especial para o sacramento destinado a “mediar” o perdão de Deus que acolhe novamente nos seus braços o pecador arrependido. Com efeito, a Eucaristia, enquanto representação do Sacrifício de Cristo, tem também a função de nos libertar do pecado.
A este respeito, recorda-nos o Catecismo da Igreja Católica: “A Eucaristia não pode unir-nos a Cristo sem nos purificar, ao mesmo tempo, dos pecados cometidos e nos preservar dos pecados futuros” (n. 1393).
Entretanto, na economia da graça decidida por Cristo, esta sua energia purificadora, ao mesmo tempo que efetua diretamente a purificação dos pecados veniais, só indiretamente atinge os pecados mortais, que prejudicam radicalmente o relacionamento do fiel com Deus e sua comunhão com a Igreja.
“A Eucaristia — lê-se ainda no Catecismo — não está ordenada ao perdão dos pecados mortais. Isto é próprio do Sacramento da Reconciliação. O que é próprio da Eucaristia é ser o sacramento daqueles que estão em plena comunhão com a Igreja” (n. 1395).
Ao reafirmar esta verdade, a intenção da Igreja não é certamente diminuir o papel da Eucaristia, mas especificar o seu significado dentro da economia sacramental inteira, tal como foi traçada pela sabedoria salvífica de Deus.
Aliás, esta é a linha decisivamente apontada pelo Apóstolo, quando escrevia aos Coríntios:
Assim, todo aquele que comer o Pão ou beber o Cálice do Senhor indignamente será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Examine-se cada qual a si mesmo e, então, coma desse Pão e beba desse Cálice. Aquele que come e bebe sem distinguir o Corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação (1Cor 11, 27-29).
Na sequência desta advertência paulina, coloca-se o princípio segundo o qual “aquele que tiver consciência de um pecado grave deve receber o sacramento da Reconciliação antes de se aproximar da Comunhão” (CIC, 1385). (…)
A este respeito, quero reafirmar que a celebração pessoal é a forma ordinária de administração deste sacramento e que só em “casos de grave necessidade” é legítimo recorrer à forma comunitária, com confissão e absolvição coletiva.
São bem conhecidas as condições que se requerem para tal gênero de absolvição, recordando que, em qualquer caso, nunca se fica dispensado da subsequente confissão individual dos pecados graves, que os fiéis devem se comprometer a fazer para ser válida a absolvição (cf. CIC, n. 1483). […]
Encontro pessoal do penitente com o Bom Pastor
À luz do que acima foi dito, aparece mais clara a razão pela qual a forma ordinária da reconciliação sacramental deve ser o encontro pessoal do confessor com o penitente, enquanto a modalidade da absolvição coletiva é de caráter excepcional.
Como se sabe, a prática da Igreja chegou gradualmente à celebração privada da penitência, após séculos em que dominara a fórmula da penitência pública.
Esta evolução não só não alterou a substância do sacramento – e não podia ser de outro modo! – mas inclusive aprofundou a sua fisionomia e eficácia. Assim aconteceu com a assistência do Espírito Santo, que também nisso cumpriu a sua missão de levar a Igreja “para a verdade total” (Jo 16, 13).
Com efeito, a forma ordinária da Reconciliação não só exprime bem a verdade da misericórdia divina e do perdão que dela dimana, mas ilumina a própria verdade do homem num dos seus aspectos fundamentais: a originalidade de cada pessoa, que, embora vivendo num contexto relacional e comunitário, jamais se deixa reduzir à condição de uma massa informe.
Isto explica o eco profundo que suscita no espírito o fato de ouvir-se chamar pelo próprio nome. Saber-nos conhecidos e acolhidos por aquilo que somos, pelas nossas qualidades mais pessoais, faz-nos sentir verdadeiramente vivos.
A própria pastoral devia ter em maior consideração este aspecto, para equilibrar prudentemente os momentos comunitários, nos quais se sublinha a comunhão eclesial, e os momentos de atenção às exigências das pessoas individualmente consideradas. Em geral, as pessoas esperam ser reconhecidas e acompanhadas, e é precisamente através dessa proximidade que elas sentem mais forte o amor de Deus.
Nesta perspectiva, o Sacramento da Reconciliação apresenta-se como um dos percursos privilegiados dessa pedagogia da pessoa. Aqui o Bom Pastor, através do rosto e da voz do sacerdote, aproxima-Se de cada um, para iniciar com ele um diálogo pessoal feito de escuta, conselho, conforto, perdão. O amor de Deus é tal que, sem faltar aos outros, consegue concentrar-se sobre cada um.
Quem recebe a absolvição sacramental deve poder sentir o calor desta solicitude pessoal. Deve experimentar a intensidade do abraço paterno dado ao filho pródigo: “[O pai] correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos” (Lc 15, 20). Deve poder ouvir aquela voz calorosa de amizade que o publicano Zaqueu escutou, chamando-o pelo nome a uma vida nova (cf. Lc 19, 5).
Saber ser amigos e pais, confidentes e confessores
Isso mostra também a necessidade de uma adequada preparação do confessor para a celebração deste sacramento, o qual deve realizar-se de modo a fazer resplandecer, inclusive nas formas externas da celebração, a sua dignidade de ato litúrgico, segundo as normas indicadas pelo rito da Penitência.
Isso não exclui a possibilidade de se fazerem as adaptações pastorais requeridas pelas circunstâncias, quando sugeridas por verdadeiras exigências da situação do penitente, à luz do princípio clássico que reconhece a salus animarum como suprema lex da Igreja.
Deixemo-nos, nisto, guiar pela sabedoria dos Santos. Com coragem, façamos aos jovens a proposta da confissão. Encontremo-nos com eles, sabendo ser junto deles amigos e pais, confidentes e confessores. Eles precisam de encontrar-nos ora num papel, ora noutro, ora numa dimensão ora noutra.
Além disso, sejamos escrupulosos em manter verdadeiramente atualizada a nossa formação teológica, tendo em vista sobretudo os novos desafios éticos, permanecendo sempre ancorados ao discernimento do magistério da Igreja.
Relativamente a certas questões éticas da atualidade, sucede às vezes que os fiéis saem da confissão com as ideias bastante confusas, entre outras razões por que não encontram nos confessores a mesma linha de avaliação.
Na realidade, aqueles que desempenham, em nome de Deus e da Igreja, este delicadíssimo ministério têm o dever concreto de não cultivar e, mais ainda, de não manifestar na confissão sacramental juízos pessoais não sintonizados com o que a Igreja ensina e proclama.
Não se pode confundir com amor o ato de faltar à verdade em proveito de uma equivocada compreensão do penitente. Não nos é permitido fazer simplificações arbitrárias, ainda que com a melhor das intenções.
A nossa missão é ser testemunhas de Deus, fazendo-nos intérpretes de uma misericórdia que salva, mesmo quando se manifesta como juízo sobre o pecado do homem. “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus” (Mt 7, 21).