Esta é a lenda de um condenado à morte. Que crime havia ele cometido? Não sabemos.

Ia ele sendo conduzido à forca, erguida no centro da cidade de Toulouse, na França. Acompanhavam-no os juízes e o carrasco, em meio a grande multidão, atraída pela curiosidade que esse gênero de acontecimento sempre desperta.

Ora, exatamente nessa hora, passava por Toulouse o Rei com a bondosa Rainha, que ele acabara de desposar na Espanha.

Chegando em frente à forca, a Rainha viu o infeliz condenado já com a corda em torno do pescoço. Não pô­de conter um grito e escondeu o rosto entre as mãos.

O Rei, então, deteve-se e fez sinal ao carrasco para que esperasse. E, voltando-se para os juízes, disse: 

— Senhores magistrados, a rainha vos pede, como sinal de boas-vindas, que seja de vosso agrado conceder a este homem o perdão.

Esta intervenção do Rei foi recebida com alegria por uns e surpresa por outros. Mas os  juízes responderam:

Majestade, este homem cometeu um grande crime para o qual não há perdão, e, ainda que nosso desejo seja agradar à senhora nossa rainha, estamos manietados pela lei que exige ser ele enforcado imediatamente. 

Há, portanto, no mundo, uma falta que não possa ser perdoada? – perguntou timidamente a rainha.

Não, certamente – respondeu um conselheiro do Rei.

E lembrou que, segundo o costume do país, qualquer condenado, por pior que fosse o seu crime, poderia ser resgatado pela soma de 1000 ducados.

— É verdade, mas como este pobre coitado conseguirá tal quantia? – replicaram os magistrados.

O Rei abriu a bolsa e de lá tirou 800 ducados. Quanto à rainha, vasculhou a sua e não encontrou senão 50 ducados. Disse ela:

Senhores, não é bastante para este pobre homem a soma de 850 ducados?

A lei exige 1000 ducados — repetiram os magistrados, inflexíveis.

Então, todos os homens do séquito real vasculharam as respectivas bolsas, à procura de mais moedas, entregando tudo aos juízes. Estes fizeram a contagem e anunciaram:

— São 997 ducados, ainda faltam 3!

Por causa de apenas 3 ducados este homem será então enforcado!? — exclamou a rainha perplexa. 

— Não se trata de uma exigência nossa, mas é a lei! Ninguém pode alterar a lei! 

E fizeram sinal ao carrasco, que se aproximou com a cabeça coberta por alta touca negra, preparando-se para o ato final. De novo interveio a rainha:

Parem! Primeiro, revistai este pobre miserável. Talvez ele tenha consigo 3 ducados. 

Com ceticismo, o carrasco revistou o condenado e encontrou num de seus bolsos 3 ducados. Completou-se, assim, a soma necessária. O criminoso foi perdoado e acolhido amavelmente pelo Rei e pela Rainha.

E a narração da lenda termina da seguinte forma: 

Quem é o homem que, na iminência de ser enforcado, foi salvo pela bondade do Rei, pela intercessão da rainha e ajuda dos cavaleiros do sé­quito real?

Este homem bem pode ser qualquer um de nós.

No dia do Juízo, o que nos salvará será, sem dúvida, a misericórdia de Deus, a intercessão da Virgem Maria e os méritos dos Santos. Mas tudo isto de nada nos valerá se não levarmos conosco pelo menos 3 ducados de boa vontade!…