“Família Cristã” é das revistas católicas mais difundidas no Brasil. Sua atual Diretora, Irmã Ivonete Kurten, narra como essa conhecida publicação surgiu e expandiu-se.
Relata também interessantes detalhes da vida do Beato Tiago Alberione, fundador da Família Paulina, cuja preocupação constante era: “Melhorar tudo! Aperfeiçoar sempre mais!” Um lema muito do agrado dos Arautos do Evangelho.
Arautos do Evangelho: Como surgiu a revista “Família Cristã”?
Irmã Ivonete: A revista-mãe é a italiana “Famiglia Cristiana”, fundada pelo Pe. Alberione. Ele estava convencido de que a Igreja tinha de assumir todas as formas de comunicação, para anunciar o Evangelho.
E julgou que um periódico seria o mais interessante, porque todo mês – ou toda semana, como é no caso da “Famiglia Cristiana” – chegaria a palavra de Deus às famílias.
AE: E no Brasil?
Irmã Ivonete: No Brasil, ela nasceu em 1934. A Irmã Stefanina Celário – agora com 93 anos, mas lúcida! – recebeu do Pe. Alberione esta missão: “No Brasil, existem tantas famílias, tantas pessoas, então, comece uma revista!”
Ela, acreditando na palavra do Fundador, decidiu: vamos lançar o informativo “Família Cristã”!
No início, uma pequena revista de 16 páginas, em papel sulfite… Tinha uma página para a formação da mãe e esposa, tratava da Bíblia, de catequese, publicava receitas culinárias…
Diz o Pe. Alberione: “A missão paulina na Igreja não deve falar só de religião, mas de todos os assuntos com o viés da palavra de Deus, do Evangelho, da filosofia cristã”.
Então, a gente trata de política, realidade social, doutrina cristã, vida da Igreja, através desse viés do Evangelho. Assim nasceu, de uma forma simples, a revista “Família Cristã”. Ela foi crescendo, conforme foi evoluindo a sociedade brasileira.
Quem fizer um estudo da revista “Família Cristã”, nestes setenta nos, perceberá que, na década de 1930, a mãe era aquela que formava a criança, cuidava da casa, educava os filhos. E a revista tinha todas as “dicas” para isso.
Depois a sociedade foi evoluindo, o grande “salto” deu-se no ano de 1972, quando a Revista adotou um novo projeto editorial, incluindo assuntos como: realidade social, grandes reportagens, política, temas de cidadania, de saúde. Aí, voltada não só para o público feminino, mas para toda a família.
AE: A que se deve a grande penetração da “Família Cristã” nos lares católicos?
Irmã Ivonete: A família precisa ser evangelizada, ela precisa de formação, de informação, e a nossa revista tem assuntos para todos os seus membros.
Tratamos de problemas do casal, da educação dos filhos, do idoso, da criança, do adolescente. Além disso, a forma de enfocar os conteúdos é aberta para a sociedade, para os tempos modernos de hoje.
Daí que ela tenha uma grande penetração. Por quê? Porque hoje as famílias necessitam dessas informações.
Então, esse é o conteúdo de nossa Revista, e a necessidade dessa formação e dessa informação é o nosso grande segredo de penetração.
AE: Em quais outros países ela é editada?
Irmã Ivonete: A italiana é semanal, tem 234 páginas, às vezes mais, dependendo da edição.
Em Portugal e no México, a “Família Cristã” é editada pelos Padres Paulinos. O conteúdo editorial é semelhante, mas dentro da realidade de cada país.
Por exemplo, como a edição brasileira, também a edição portuguesa tem uma seção intitulada “Família”, mas ela trata de questões da família de Portugal, enquanto nós tratamos da realidade aqui do Brasil.
Também na Argentina a Revista é muito conhecida. Com a crise desse país, ela sofreu um pouquinho na parte econômica, mas está retomando seu caminho.
Existe ainda a “Família Cristã” no Japão. Aí, não sei lhe dizer bem, por que são aqueles rabiscos… Mas ela tem uma boa circulação lá.
AE: Conte-nos algo sobre o Beato Alberione, fundador da Família Paulina.
Irmã Ivonete: O Pe. Alberione era um homem apaixonado pela comunicação da palavra de Deus.
Eu assisti à cerimônia de beatificação dele e estive em todos os lugares sagrados para nossa Congregação: onde ele nasceu, onde estudou, onde foi ordenado, onde fundou a primeira casa dos Padres Paulinos e depois os outros institutos da Família Paulina.
Em todos esses ambientes, a gente vê impregnado o amor à palavra de Deus.
Na noite de passagem do século XIX para o XX, tinha ele 15 anos e estava em adoração quando sentiu o chamado de Jesus. “Vinde todos a Mim!”
Com esta frase, o Papa Leão XIII havia convocado os católicos a passarem essa noite adorando Jesus Eucarístico. Seguir Jesus, Caminho, Verdade e Vida, esta é a espiritualidade da Família Paulina.
Em 1914-1915, Alberione fundou a congregação dos Irmãos e das Irmãs Paulinas, para evangelizar pela comunicação.
Ele morreu em 1971, e deixou isso para nós como um testamento espiritual: acima de tudo amar a palavra de Deus, e, na palavra de Deus, amar as pessoas.
AE: A Irmã Stefanina certamente lhe contou algum fato da vida dele…
Irmã Ivonete: Quando fiz a entrevista do 70º aniversário da Revista, perguntei a ela: “Irmã Stefanina, quando saiu o primeiro número da Revista ‘Família Cristã’, o que disse o Pe. Alberione?” Respondeu-me que ele recomendou: “Melhorar o papel, melhorar conteúdo, melhorar tudo!”
Ele era um homem preocupado em fazer a palavra de Deus chegar às pessoas de forma bela, atraente… Ele dizia: “Tem de se apresentar de forma bela. Por quê? Porque é a palavra de Deus! É a palavra do Senhor!”
AE: E que nos diz da cofundadora, a Irmã Tecla?
Irmã Ivonete: A Irmã Tecla Merlo é a primeira paulina, a primeira Superiora Geral das Filhas de São Paulo e a discípula fiel do Pe. Alberione. Ela chamava-o de “o Senhor Teólogo”.
Para a Irmã Tecla, a lei era: “O Senhor Teólogo falou, está falado!” Hoje se diria que era uma obediência cega. Não. Ela tinha a certeza de que o Pe. Alberione era um instrumento de Deus para começar uma nova obra na Igreja.
Terminada a Primeira Guerra, o bispo de ValSusa, na Itália, tinha um boletim diocesano que estava indo à falência e propôs ao Pe. Alberione: “Já que você quer trabalhar com a comunicação, eu lhe dou o boletim, para ver se você o levanta”.
Então, ele chamou a Irmã Tecla e perguntou-lhe: “Vocês não querem começar o trabalho da boa imprensa? Então, vocês irão para Val Susa. Lá existe um jornal, no qual o Bispo quer que a gente fale de catequese, fale da palavra de Deus”. A Irmã Tecla, imediatamente, respondeu: “Estamos dispostas!”
Elas chegam lá e dão com a oficina tipográfica toda suja. Elas limpam e começam o jornal o “Val Susa”, que existe até hoje.
Ao receber o primeiro número, o Pe. Alberione deu-lhes a mesma recomendação: “Melhorar o conteúdo, melhorar na tipografia, melhorar o papel. Está bom, mas aperfeiçoar sempre mais!”
AE: E como suas filhas vieram para o Brasil?
Irmã Ivonete: O primeiro país a receber as Irmãs Paulinas fora da Itália, foi o Brasil. A Irmã Dolores Balde entrou na Congregação para ser missionária. Ela queria sair da Itália. Sabendo disso, o Pe. Alberione encaminhou-a para cá.
Quando recebeu essa missão, a Irmã Dolores tinha dezenove anos. Ela comunicou à Irmã Tecla: “Estou indo, mas com pouco dinheiro…” Pe. Alberione lhe tinha dito: “Vai com o dinheiro da passagem, mas depois devolve o troco!” Ela precisava começar do zero! A Irmã Tecla assegurou-lhe: “Vão, e Deus agirá em vocês!”
A Irmã Stefanina chegou aqui alguns meses depois dela.
AE: As Irmãs Paulinas atuam também na televisão…
Irmã Ivonete: Temos dois programas de televisão na Rede Vida. Um programa infantil – “Coisas de Criança” – levado ao ar todos os dias, das nove às onze da manhã. Há uma apresentadora que faz toda essa parte de recados para crianças, de formação, entretenimento.
E, de segunda a sexta, um programa de variedades – “Viver e Conviver” – que seria uma revista eletrônica, onde se trata da vida da família.
AE: E a senhora… como entrou na Congregação Paulina?
Irmã Ivonete: É impressionante como Deus tem um fio condutor na vida de cada pessoa!
Eu sou do norte do Paraná, de Ivaiporã, próximo de Londrina. Comecei a fazer o segundo grau e manifestei a uma colega meu desejo de ser freira. Ela, então, perguntou-me: “Mas, você não gostaria de conhecer as Irmãs Paulinas?” Achei uma ótima ideia.
Então, fui convidada a fazer um estágio vocacional, em Maringá. As irmãs deram-me orientação vocacional. Passaram um filme sobre suas atividades aqui no Brasil.
O que me decidiu a entrar para as Paulinas foi uma cena do filme, na qual se via uma kombi cheia de bíblias e as Irmãs que chegavam a uma comunidade, o povo começava a abrir a Bíblia, procurar os textos, repetir a palavra de Deus. Vendo isto, eu pensei: “Esta é a Congregação, é este carisma, é isto que vou seguir na minha vida. Eu quero ser uma Irmã assim!!!”
AE: Como diretora da Revista, quais são seus planos de expansão?
Irmã Ivonete: Nós estamos nos 70 anos. O que vamos fazer? Estamos reestudando um pouquinho o projeto gráfico e editorial da Revista. O conteúdo da Revista está adaptado à realidade brasileira, ou temos de fazer mudanças?
Por exemplo, há uma grande solicitação de nossos assinantes para a Revista abordar a vida dos santos no contexto de hoje: como ser santo, hoje.
Vamos incluir esse conteúdo? Vamos aumentar páginas? É um assunto que estamos estudando. Outra coisa é a apresentação visual, gráfica da revista…
AE: Está muito boa, diga-se de passagem…
Irmã Ivonete: Muito obrigada. Mas, a gente tem de adaptar-se, e estamos estudando.
Depois, estamos com planos de divulgar a Revista através da mídia, nas paróquias, de modo a torná-la mais conhecida. Eu acho que isso é importante, porque ela chega ao período de maturidade mesmo. Há pessoas que assinam há mais de 50 anos a “Família Cristã”. Então, o pai assinou, depois o filho, depois o neto e agora o bisneto…
AE: Nosso desejo é que a “Família Cristã” se expanda cada vez mais e se prolongue, não por uma geração, mas até o fim do mundo. Esse é o carisma da obra.
Irmã Ivonete: Isso!… Mas, vocês também. Cada um na Igreja tem um carisma específico para ser desenvolvido. Isso é muito bonito.
Acho importante que se compreenda a Igreja na sua pluralidade e cada um desenvolvendo seu carisma para bem maior do Corpo, que é Cristo.