Os jesuítas aportaram no Brasil em 1549, estabelecendo-se inicialmente em São Salvador da Bahia, de onde partiram para evangelizar as terras vizinhas.
E tanto ímpeto puseram nesse labor que em fins daquele século alguns deles já haviam percorrido os mais de 2 mil quilômetros que os separavam do Paraguai, levados pelo nobre entusiasmo que nasce da sede de almas.
No início, foi muito difícil o trabalho desses dedicados missionários nesse país, pois os guaranis fugiam aterrorizados daquela presença para eles tão estranha.
Aos poucos, porém, os jesuítas conseguiram atraí-los por meio da música ou mesmo pela cura de suas doenças.
E a fim de ajudá-los a crescer na fé e progredir do ponto de vista humano, reuniram-nos em aldeamentos afastados dos territórios colonizados pelos europeus, dando origem às Reduções jesuíticas.
Eram estas comunidades dirigidas por sacerdotes que, além de lecionar o Catecismo e exercer seu ministério, ensinavam os índios a ler, escrever e contar.
Ali aprendiam também um ofício: agricultura, criação de gado, carpintaria, serralheria, relojoaria e outras artes manuais que, após algum tempo de prática, eles conseguiam executar na perfeição.
Sob o ponto de vista político as Reduções estavam organizadas como um município, com seu cabildo (assembleia municipal) presidido por um corregidor ou parokaitara, na linguagem dos indígenas.
Havia abundância dos bens necessários a uma existência digna, e o amor fraternal unia os corações, resultando daí uma afetuosa amenidade de trato.
Apenas algumas dezenas de jesuítas governavam mais de 150 mil indígenas. Fácil, portanto, teria sido para estes expulsar ou matar os sacerdotes.
Entretanto, devotavam admiração e amor pelos ministros de Deus tomando-os por pais e mestres. Tribos inteiras se apresentavam a eles espontaneamente, pedindo sua incorporação nas Reduções.
No aldeamento, as casas erguiam-se em torno de uma grande praça, onde se destacava a igreja belamente decorada com entalhes, pinturas e imagens produzidas com mestria pelos próprios indígenas.
As cerimônias religiosas se desenvolviam com grande pompa, acompanhadas por comovedores cânticos.
A festa de Corpus Christi era celebrada com especial esplendor. Arcos de flores, nos quais cantavam pássaros atados por um fio, assinalavam o caminho da procissão.
Altares ricamente ornados eram montados em diversos pontos do trajeto e estendiam-se esteiras ao largo de todo percurso para que o sacerdote portador do Santíssimo Sacramento pudesse caminhar sobre elas.
Os índios tocavam instrumentos musicais fabricados por eles mesmos. Coros bem treinados cantavam músicas compostas, muitas vezes, pelos próprios missionários.
As famílias traziam como oferendas as primícias dos produtos do campo, os quais eram depois repartidos entre as viúvas e os órfãos. Por fim, à noite, a festa culminava com uma queima de fogos de artifício.
Entretanto, múltiplas vicissitudes ameaçaram as Reduções jesuíticas durante dois séculos, e a todas elas resistiram. Até que, em 1767, o rei Carlos III da Espanha decretou a expulsão dos filhos de Santo Inácio de todos os territórios de sua coroa.
Sem a sábia direção dos jesuítas, elas não tinham condições de sobreviver no meio das tormentas políticas do “século das luzes”. Os indígenas então se dispersaram. Alguns retornaram à vida na selva, outros se mudaram para as cidades, onde os ofícios aprendidos lhes permitiram manter-se dignamente.
Hoje, majestosas edificações situadas no território da antiga Província Jesuítica do Paraguai testemunham ainda, com muda eloquência, a indubitável grandeza alcançada por aqueles aldeamentos nascidos do amor a Deus e do desejo de evangelizar os povos.