É reconhecidamente muito difícil alguma obra de arte conseguir destacar-se em Roma, a cidade por excelência dos grandes monumentos históricos e artísticos.
O Pe. Antonio Cocolicchio – dinâmico e inteligente prior do convento dominicano junto à Basílica de Santa Maria sopra Minerva – mostra como esse conjunto arquitetônico se sobressai, sendo ponto de atração para todos os peregrinos e turistas de passagem pela Cidade Eterna.
Arautos do Evangelho: Qual a origem da Basílica?
Pe. Cocolicchio: A presença da Ordem Dominicana neste lugar remonta ao ano de 1266, quando o Vigário do Papa em Roma nos confiou a igreja que aqui se encontrava. Era uma igreja pequena, que se chamava Santa Maria in Minerva.
Alguns anos depois, em 1280, os dominicanos deram início à construção do convento e da grandiosa basílica gótica, que passou a chamar-se Santa Maria sopra Minerva.
AE: Por que essa mudança do nome?
Pe. Cocolicchio: A primitiva igreja se chamava “in Minerva” porque estava ao lado do antigo templo de Minerva.
Mas a basílica atual ocupa toda a área do templo, já que sua construção exigiu que o mesmo fosse demolido. Assim, a igreja passou a chamar-se “sopra Minerva”. Em português, “sobre Minerva”.
Mas esse título não se refere apenas a uma realidade topográfica, como creem muitos. Os dominicanos deram o nome de “sopra Minerva” para aludir, sobretudo, à vitória de Maria sobre o culto pagão da deusa Minerva.
AE: Com tantos séculos de existência, o conjunto certamente foi palco de importantes fatos históricos. Quais o senhor destacaria?
Pe. Cocolicchio: É preciso destacar dois Conclaves que aqui foram realizados. Com efeito, os cardeais se reuniram em duas ocasiões na sacristia da igreja, e ali elegeram os Papas Eugênio IV, em 1431, e Nicolau V, em 1447.
É famoso também o fato ocorrido com Galileu. Durante vários anos esteve estabelecida aqui a Inquisição, e assim, quando Galileu foi convidado a explicar suas teorias ao Santo Ofício, para cá se dirigiu.
Ainda se conserva a sala na qual ele – segundo a lenda, pois não é um fato histórico – pronunciou a conhecida frase: “No entanto ela [a terra] se move”.
AE: Foram muitos os Santos que estiveram aqui?
Pe. Cocolicchio: Inúmeros Santos iluminaram com sua presença a história de Santa Maria sopra Minerva.
Muitos estiveram aqui como peregrinos, pois todos aqueles que vêm à Cidade Eterna visitam nossa igreja. Alguns, porém, tiveram uma relação especial com a basílica.
São Pio V foi o seu primeiro Cardeal titular. São Felipe Néri costumava vir cantar o ofício com os frades. Santo Afonso de Ligório aqui foi sagrado Bispo. Santo Antonino de Florença e o Beato Raimundo de Cápua foram priores do convento. São os que me vêm à mente no momento.
Mas houve dois que vieram à basílica e nunca mais se foram: Santa Catarina de Siena e o Beato Fra Angélico.
AE: Como assim?
Pe. Cocolicchio: Santa Catarina de Siena, doutora da Igreja, padroeira da Itália e da Europa, morou numa casa aqui perto, frequentando diariamente a igreja. Como ela era terciária dominicana, ao morrer foi enterrada aqui. Sua sepultura se encontra debaixo do altar-mor.
O Beato Fra Angélico – pintor, místico e padroeiro dos artistas – foi chamado pelo Papa a Roma para decorar a Basílica Vaticana e os Palácios Apostólicos. Durante esse período, habitou no convento, pois ele era frade dominicano. A morte o colheu aqui, e por isso foi enterrado na basílica.
Neste sentido é que eles vieram para cá e nunca mais foram embora.
AE: E qual a mensagem que Santa Maria sopra Minerva transmite ao peregrino?
Pe. Cocolicchio: A mensagem que ela transmite tem muita sintonia com a Nova Evangelização. A teologia e a arte proporcionam aqui um feliz encontro, que remete o peregrino à harmonia e à contemplação do sobrenatural.
Por outro lado, a presença de Santa Catarina e do Beato Angélico, uma leiga e um artista, constituem dois importantes exemplos para a Igreja de hoje, na qual o Espírito Santo suscita tantos carismas leigos, que se servem da arte como forma de evangelização.
Essa mensagem é muito importante, sobretudo para a Europa de nossos dias, que fecha os olhos para suas raízes cristãs.
E por esta razão eu julgo muito conveniente que todo peregrino que venha a Roma visite Santa Maria sopra Minerva, para poder receber e compreender essa mensagem.