Cortejo, cânticos, incenso… Termina uma cerimônia litúrgica. Os fiéis se retiram pervadidos de seriedade e alegria, como inebriados pelas graças que acabam de receber.
Aos poucos o recinto sagrado se esvazia, as luzes se apagam e os homens cedem lugar aos Anjos. Agora, não mais as vozes, mas o silêncio fala.
Em profunda solidão permanece ali, feito Hóstia, aquele mesmo Jesus que ensinava as multidões e curava os doentes, a quem obedeciam os ventos e as tempestades e cujo Coração não é senão uma fornalha ardente de caridade.
Em sua companhia, apenas uma tênue luz permanece vigilante, numa espécie de oração contínua junto ao sacrário: a lamparina do Santíssimo Sacramento.
Na escuridão da noite, sua discreta e elegante chama bruxuleia em contínua vigilância, como se esforçando por manter seu fulgor em meio às trevas que a rodeiam.
Às vezes, estala uma labareda, iluminando por um instante todo o ambiente; mais tarde, seu brilho diminui de tal maneira que parece estar a ponto de extinguir-se… Não obstante este aparente desfalecimento, ela volta a flamejar com uma intensidade ainda maior!
Este belo e simbólico objeto, que tantas vezes passa despercebido aos nossos olhos ao entrarmos numa igreja, representa bem as flutuações de nossa vida espiritual.
Quando batizados, passamos a ser portadores da luz da graça santificante, que vem acompanhada das virtudes e dos dons.
Nas consolações, uma labareda de entusiasmo resplandece em nossa alma e ela parece tocar os Céus. Entretanto, este estado de espírito não costuma ser o habitual.
Pelo contrário, com frequência vemo-nos imersos em tentações que nos convidam ao pecado. No meio delas, julgamos que o fogo se extinguirá, ou nos assustamos ao ver as figuras sombrias geradas pelo seu fraco bruxulear.
Cabe-nos, então, fazer todo o esforço possível para manter a chama acesa, à espera do momento em que volte a cintilar com intenso fulgor.
— Como será isto possível?! – dirá alguém.
— Muito simples: rezando! – poder-se-ia retrucar.
Bem verdadeira esta resposta. Contudo, apenas a oração não basta. Lembremo-nos do conselho enunciado pelo Salvador: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mt 26, 41).
Dada a fragilidade da natureza humana após o pecado original, é indispensável a virtude da vigilância, que deve ser praticada não só para enfrentar os adversários externos de nossa vida espiritual – o demônio e mundo –, mas, sobretudo, a fim de vencer as solicitações da carne.
Com efeito, nossas más inclinações e paixões desordenadas costumam ser ainda mais daninhas.
Assim, quando as trevas das tentações cercarem nossas almas, ameaçando consumi-las na escuridão do pecado, a chama de nossa piedade se manterá acesa, à semelhança da lamparina, confiando que recobrará forças e ânimo ao passar a provação.
Porém, se a vigilância vier a faltar, difícil será que permaneçamos constantes na oração, sem a qual não há abismo em que o homem não seja capaz de cair.