Imaginemos uma taça de cristal vermelho, delicadamente moldada, trabalhada com detalhes dourados. Ao contemplá-la, nos viria esse pensamento: “A pessoa que a fez é um verdadeiro artista!”

De fato, alguma coisa ganharíamos se, além de admirar tão bela peça, pudéssemos conhecer o homem que a fabricou. Nele está a origem, a matriz da taça; foi do seu gênio, do seu senso estético que ela nasceu.

Ele é a causa dela. E, como ensina São Tomás, a causa sempre é mais excelente do que o efeito.

Deixemos de lado, entretanto, a nossa “cristalina” contemplação e viajemos para o outro lado do oceano… para a Suíça!

Nesse pequeno país, a Providência reuniu tudo quanto há de ameno e acolhedor.

Numerosos riachos percorrem os diversos cantões, dando vida a uma vegetação fresca e abundante. As águas dos lagos – os famosíssimos lagos suíços – assemelham-se a esmeraldas ou topázios fundidos por um misterioso joalheiro. São de uma tal transparência e beleza que chegam a parecer irreais.

É verdade que os Alpes são escarpados. Na sua enormidade há algo de assustador. Tremendos despenhadeiros incutem temor em quem tem a ousadia de aproximar-se deles.

Mas é só contemplar o Matterhorn – talvez a montanha mais bela do mundo – para compreender que seus píncaros servem de hífen entre a terra e o céu.

Esta aliança do paradisíaco com o terreno é selada por inigualáveis auroras. Para admirá-las em todo o seu esplendor, é necessário escalar os cumes mais altos. Mas o esforço é recompensado de sobejo.

Quando os primeiros raios solares tingem o céu de cor-de-rosa, a natureza vai surgindo da noite como num conto de fadas. À medida que o sol se ergue no horizonte, a paisagem vai ficando dourada… e quando, por fim, ele aparece por inteiro, um incêndio de luz toma conta de todo o panorama.

Extasiados com tanta maravilha, poderíamos nos perguntar: “Quem é o artista que concebeu uma natureza tão variada e surpreendente?”

Se fazer uma bela taça de cristal é meritório, quanto mais digno de admiração é criar um universo tão feérico! Só um ser infinito pode havê-lo criado. Só Deus, infinitamente superior à sua obra, poderia ser capaz de concebê-lo.

A criação, quando contemplada com olhos castos e limpos, nos ajuda a compreender o Criador. E, mais do que tudo, dá-nos vontade de ir ao Céu para melhor conhecê-Lo.

Num momento de oração, se, à maneira do Apóstolo São Filipe, pedíssemos a Jesus:

— Senhor, mostra-nos o Pai.

Ele poderia nos responder:

— Você não O conhece? Quem contempla o universo, esse vê o Pai!