Ora com o rosto esquadrinhando o céu, à procura do Criador; ora com o dedo indicador levantado e o olhar enfrentando o povo, a recordar os preceitos da lei de Deus; outras vezes recolhido, a ruminar revelações divinas repletas de prêmios ou castigos para a raça eleita; ou ainda mergulhado em pleno colóquio com o Senhor de todas as coisas, que lhe enriquece a alma de dons místicos e lhe desvenda o futuro.

Assim variadas são as fisionomias e atitudes corporais dos chamados “Profetas do Aleijadinho”, o conjunto de doze imagens, mundialmente famoso, de Congonhas do Campo.

Mas, antes de falarmos de Congonhas, é preciso nos situarmos em seu contexto geográfico e histórico, de suma importância, para bem entendermos e apreciarmos suas maravilhas artísticas e culturais.

O Estado de Minas Gerais, onde se localiza a cidade histórica de Congonhas do Campo, foi contemplado pelo Criador com um território montanhoso, onde os picos recortados das serras, banhados de luz, predispõem o homem à reflexão, à busca incansá­vel da realização espiritual e artística.

Além da beleza da paisagem, Minas foi abençoada por Deus com um tesouro de riqueza incalculável: jazidas de ouro e diamantes, entre uma infinidade de outros minérios valiosos.

Somente dois séculos depois da chegada dos portugueses, teve início a exploração das “minas gerais”.

Foram necessários o denodo e o empenho dos bandeirantes, desbravando a floresta cerrada e vencendo as altas cadeias de montanhas que se estendiam entre o litoral e o interior do território, para que o tão sonhado local fosse atingido e as primeiras jazidas descobertas.

A partir daí uma multidão incalculável foi chegando e se instalando no coração montanhoso do Brasil. Aventureiros, exploradores, populações inteiras de outras vilas da Metrópole e da Colônia para ali se deslocaram, atraídos pelo ouro.

Escravos foram levados para o trabalho forçado nas minas. Novas vilas foram surgindo no território. A riqueza deu origem à construção de numerosas e belas igrejas, pois a época era ainda de fé muito viva.

Mestres vindos da Europa formaram discípulos que os sobrepujaram largamente, como o arquiteto e escultor Antônio Francisco Lisboa, conhecido como o Aleijadinho, ou o pintor Manuel da Costa Ataíde. A música barroca, de autoria de compositores locais, reinou soberana nessas magníficas igrejas, como elemento central do culto religioso.

Como fruto dessa efervescência cultural e artística temos hoje, inscritos na lista do Patrimônio Cultural da Humanidade, as cidades de Ouro Preto, Diamantina e o Santuário de Congonhas do Campo.

Além do magnífico tesouro formado pelas Cidades Históricas, Minas Gerais oferece também ao viajante sua belíssima paisagem e natureza.

Rios, inúmeros parques nacionais, montanhas, grutas e cavernas repletas de pinturas rupestres, datadas de milhares de anos. Um rico folclore que se revela nas festas populares compõe, igualmente, os atrativos que levam a Minas turistas do Brasil e do mundo inteiro.

Congonhas do Campo

Localizada a 89 km de Belo Horizonte, numa altitude de 870 m, sobre um vale verdejante coroado de altos picos montanhosos, esta bela cidade é um verdadeiro santuário, em que a fé e a arte caminham de mãos dadas.

No final do século XVII, passavam pela região muitos bandeirantes à procura de ouro. Encontraram grandes quantidades de uma planta conhecida por eles como “congonhas”. Deram então, ao local, o nome de Arraial de Congonhas do Campo.

Por volta de 1757, um bandeirante, Feliciano Mendes, tendo alcançado uma graça de seu padroeiro, Bom Jesus de Matosinhos, resolveu construir um santuário em sua honra, que logo se tornou local de peregrinação.

O entalhador Francisco Vieira Servas e o pintor João Nepomuceno Correia e Castro lá trabalharam. Manoel da Costa Ataíde, o maior pintor barroco do Brasil e Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, chegaram juntos no final do século XVIII, para criar uma obra de alto valor artístico. O conjunto dos profetas do Aleijadinho, por exemplo, poderia figurar com honra em qualquer lugar da culta Europa.

O Santuário

A categoria dessas esculturas pesou muito para que o santuário fosse declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Tal era o valor do genial artista que, impedido de usar as mãos devido a uma doença mutilante, passou a esculpir com os pés.

A concepção geral do espaço inspirou-se na igreja de Bom Jesus de Matosinhos de Braga, em Portugal.

Nas doze estátuas de pedra-sabão do terraço, que representam os profetas do Antigo Testamento, podemos ver diversas influências: vestígios românicos e góticos, herdados da arte portuguesa, aos quais se misturam elementos de estilo barroco e renascentista. O interior do santuário, em estilo rococó, apresenta belos relicários colocados sobre os altares. 

As Capelas da Paixão

Descendo a encosta do morro no alto do qual se situa o santuá­rio, encontramos as seis capelas que abrigam as cenas da Paixão, com suas 66 imagens feitas em cedro, policromadas, representando a Via Sacra. A imagem de Cristo é a mais impressionante.

Se iniciarmos nossa caminhada partindo do pé da encosta, em direção ao alto, como faziam os antigos peregrinos, encontraremos na primeira capela a cena da Santa Ceia, com Jesus cercado pelos Apóstolos.

Na segunda poderemos ver o Horto das Oliveiras, com Jesus diante do anjo que segura o cálice da dor, enquanto São Pedro dorme.

A terceira capa evoca a prisão de Jesus: o apóstolo Pedro acaba de cortar a orelha de Malco e o Mestre está prestes a restaurá-la. O passo seguinte mostra a flagelação e a coroação de espinhos, enquanto o penúltimo ilustra Jesus carregando a Cruz e subindo ao Calvário, em meio a uma multidão agitada. O último passo, que é justamente o mais belo e tocante de todos, é o da crucifixão.

De 7 a 14 de setembro, por ocasião da festa do Bom Jesus, milhares de peregrinos lotam a região.

O pintor Manoel da Costa Ataí­de formou com o Aleijadinho uma dupla de extraordinário valor. Foi o autor da pintura de metade das imagens do Caminho da Cruz e também de diversos painéis de retábulos e azulejos falsos sobre madeira, que disfarçavam a ausência desse elemento de decoração tão ao gosto dos portugueses. Mas é nos amplos tetos que melhor se exprime sua magnífica arte.

A chamada pedra-sabão, com a qual foram esculpidos os extraordinários Profetas, é a esteatita, uma pedra mole e dúctil, fácil de trabalhar, muito apreciada pelos escultores que vieram se instalar em Minas Gerais. Veem-se relevos e esculturas de pedra-sabão por toda parte: em fachadas, chafarizes, retábulos e púlpitos. Atualmente é muito utilizada em artesanato.

Outras atrações

Quem vai a Congonhas, não pode deixar de visitar as outras cidades históricas de Minas, não muito distantes, como Ouro Preto (a 116 km), Mariana, Sabará, São João D’El Rei e Tiradentes, todas magníficas e repletas de tesouros da arte sacra.

E ainda as cavernas e grutas da região, como a de Maquiné (com seus sete maravilhosos salões), localizada no município de Cordisburgo, a 120 km de Belo Horizonte, e a da Lapinha, na cidade de Lagoa Santa (a 40 km da capital mineira) com suas belas formações calcárias. 


Para coroar a visita, a rica culinária mineira e os maravilhosos queijos e doces fazem a alegria de todos os gourmets.