No Seminário Menor dos Arautos, na manhã de 20 de novembro, o timbre do sino tinha algo de diferente. Anunciava um acontecimento jubiloso para a instituição: a visita do Cardeal-Arcebispo de São Paulo.
A presença de Dom Cláudio entre os Arautos tinha um significado muito especial, pois Sua Eminência – antes de partir para Roma a fim de assumir o alto cargo de Prefeito da Congregação para o Clero – quis fazer-lhes essa visita de despedida, manifestando assim, uma vez mais, sua solicitude para com esta entidade que desde o primeiro momento ele acolhera e incentivara.
O cuidado com o qual os jovens seminaristas faziam os preparativos para a solene Celebração Eucarística denotava bem o quanto eles estavam cônscios da importância daquele acontecimento.
Notava-se neles um fervilhar de atividades mais intenso que o habitual. Mas tudo serenou pouco antes da chegada do ilustre purpurado.
Presente simbólico e de coração
Quando o cortejo, precedido pela cruz processional, penetrou no recinto e deu ensejo a que surgisse no limiar da porta de entrada a inconfundível e paternal figura de Dom Cláudio, estrugiram aplausos que o acompanharam durante todo o percurso, até ocupar o seu lugar no presbitério, onde o Presidente Geral dos Arautos, Pe. João Clá, lhe dirigiu uma filial saudação:
O fato de podermos ter aqui Vossa Eminência, antes de partir para assumir a Presidência da Congregação para o Clero, é para nós uma honra, uma alegria e um verdadeiro sinal de paternalidade da parte de Vossa Eminência para conosco.
Por isso desejamos, neste momento, agradecer tudo quanto Vossa Eminência fez por nós, ao longo desses dez anos de permanência nesta Arquidiocese.
E, ao mesmo tempo, manifestar a alegria por todo o cabedal de maravilhas que deixou nesta capital, quer seja a restauração da Catedral, ou a restauração do Seminário, ou até mesmo, nesse meio tempo, a pregação de um retiro a Sua Santidade o Papa João Paulo II, de feliz memória.
Desejamos, ademais, neste início da Santa Missa, manifestar nossa gratidão através de um símbolo.
Excogitando qual símbolo poderia significar mais essa gratidão, não encontramos melhor do que um cálice e uma patena.
Neste cálice, nós colocamos aquela gota de água indispensável para a celebração da Santa Missa, aquela gota de água que é nossa obediência, nossa disposição de pôr nas mãos de Vossa Eminência nossas vidas, nosso tempo, nossa capacidade, nossos esforços para tudo quanto seja da conveniência de Vossa Eminência, em qualquer parte do mundo onde estejamos.
Estamos em 59 nações a serviço de Vossa Eminência, para o que for necessário.
Nosso coração fica triste porque perdemos um pai nesta Arquidiocese. Mas ficamos contentes porque ganhamos um pai em Roma.
Sabemos perfeitamente que Vossa Eminência continuará no mesmo teor de relações que tem mantido conosco, com estes filhos, com estas filhas, que somos nós.
E saiba, Eminência, que a eternidade vai ser curta para agradecer tudo e tanto que Vossa Eminência tem feito por nós.
Colocou à nossa disposição professores que estavam debaixo de sua autoridade – como nosso queridíssimo Côn. Adriano e nosso Revmo. Pe. Tani – e quis fazer-nos esta visita, antes de partir.
Não achamos melhor lugar do que vir aqui neste Seminário dos Arautos do Evangelho. Agradeço muitíssimo, Eminência, do mais fundo do coração, simbolizando e sintetizando o agradecimento de todos.
Tenho uma casa em 59 países…
Quando o Pe. João Clá terminou de pronunciar essas palavras, um cortejo constituído por jovens – as de mais tenra idade – do setor feminino, levou até Dom Cláudio o cálice e a patena.
Visivelmente comprazido, ele os mostrou a todos, em meio ao aplauso geral. Suas palavras de agradecimento deixam transparecer os sentimentos transbordantes de seu coração naquele momento:
Meus caros, quero agradecer muito comovido este presente. Depois falarei mais, na hora da homilia. Agora, só uma curta palavra.
Claro que nada poderia ser mais simbólico, para um sacerdote, do que um cálice e uma patena, porque o padre nasceu da Eucaristia, nasceu para a Eucaristia, em primeiro lugar, Ministro da Eucaristia, antes de qualquer outra coisa.
Isto é um símbolo muito grande para mim, que sou padre (Bispo também, mas padre), pastor, sacerdote.
E porque tenho alguma responsabilidade, agora, sobre os padres em todo o mundo. Embora sempre diga a verdade: quem cuida dos padres são os Bispos.
Os superiores religiosos cuidam de seus padres. É só depois que a Congregação também cuida dos padres. Mas, diretamente, eles estão aos cuidados de seus Bispos e de seus superiores.
Por isso digo: é um presente muito simbólico e muito bonito. Por esse motivo também digo: eu vou levá-lo, vou levar todos no coração.
Ao mesmo tempo, sinto-me à vontade para dizer: a partir de hoje, tenho a impressão de que posso contar com uma casa em cada um dos 59 países onde estão instalados os Arautos (palmas).
Vamos benzer o cálice, para usá-lo já nesta Missa, também, em homenagem a todos vocês.
Um passo corajoso, abençoado por Deus
No fim da Celebração Eucarística, Dom Cláudio pronunciou as seguintes palavras de despedida:
Quero agradecer a acolhida que recebi aqui, de que sempre fui objeto, dos Arautos do Evangelho. Foi um privilégio e uma graça muito grande que os Arautos tenham nascido na Arquidiocese de São Paulo.
Lembro-me do dia em que o João (na época), hoje Pe. João, veio com seu grupo para dizer que estavam fundando a associação de fiéis dos Arautos do Evangelho.
Assim, eles deram esse passo tão decisivo, tão corajoso e abençoado por Deus. Vocês vêem hoje como Deus os abençoou, e como cresceram pelo mundo afora.