Num curto período de lazer após o jantar, vi-me cercado de um animado grupo de aspirantes dos Arautos do Evangelho, curiosos de saber que livro eu estava lendo.
— Você tem certeza do que está dizendo? – perguntou Filipe.
— Sim, sim! É isso mesmo. Quer que leia outra vez? Ouça: “Nada se compara em valor à oração. Ela torna possível o que é impossível, fácil o que é difícil. É impossível o homem que reza cair em pecado”. “Quem reza certamente se salva; quem não reza certamente se condena”.
— Certamente?! – repetiu meio espantado Filipe – Isso quer dizer que é certo… é como se fosse quase uma promessa de Nosso Senhor?
— É quase isso – respondi – É o que está aqui no Catecismo da Igreja Católica (§ 2744). Quem o afirma é Santo Afonso de Ligório, um Doutor da Igreja.
— Quer dizer que se eu rezar, terei mais possibilidade de me salvar?
— Isso! E, além de poder salvar sua alma, você terá forças para realizar tudo aquilo que sua vocação lhe exige, e que não é pouco.
Na rodinha de jovens, todas as faces se iluminaram, com crescente interesse pela conversa. Outros fizeram menção de intervir, e Leonardo falou primeiro:
— É verdade, agora somos Arautos do Evangelho; dá uma felicidade enorme pensar que fomos chamados por Deus para uma vocação tão bonita…
— Mas… – interrompeu Cláudio, que ouvia pensativo e não tinha ficado inteiramente convencido – aquele trecho que você leu antes, também é do Catecismo? “É difícil que peque”… Não me lembro bem.
— Claro que é! – respondi, mostrando novamente a página. – E essa afirmação é de São João Crisóstomo. “É impossível que caia em pecado o homem que reza”.
— Impossível?! – exclamaram vários ao mesmo tempo – Quer dizer que para não pecar, basta rezar?
— Rezar e fugir das ocasiões próximas de pecado, mas é preciso “orar sem cessar”, como diz São Paulo na Epístola aos Tessalonicenses (5, 17); e também aos Efésios: “Com orações e súplicas de toda sorte, orar em todo tempo (6, 18)”.
— Mas às vezes é difícil, não é? A gente pede, pede alguma graça… e aquilo nunca vem.
— É normal – expliquei – Deus Se encanta ouvindo nossa oração, mas quer nos dar algo muito melhor, que nem imaginamos, e por isso nos faz esperar. Quer ver? É Santo Agostinho que explica. Também é do Catecismo:
Não te aflijas se não recebes imediatamente de Deus o que lhe pedes, pois Ele quer fazer-te um bem ainda maior por tua perseverança em permanecer com Ele na oração. Ele quer que nosso desejo seja provado na oração. Ele nos prepara para receber aquilo que Ele está pronto para nos dar (§ 2737).
— Mas nem sempre é fácil rezar, não é verdade? – desabafou Filipe.
— Às vezes é tão difícil!… A gente pega o livro de orações, mas tem vontade de pensar noutra coisa; pega o terço, e vem um desejo de passear no jardim…
— Não tem dúvida que isto ocorre, mas é ótimo, porque nos obriga a lutar contra nós mesmos, e assim podemos obter mais méritos. Não se esqueça de que você se transformou em soldado de Cristo, quando recebeu o Sacramento da Confirmação. É próprio ao soldado combater sempre! Querem ver outro trecho interessante?
A oração é um combate. Contra quem? Contra nós mesmos e contra os embustes do Tentador, que tudo faz para desviar o homem da oração, da união com seu Deus. Reza-se como se vive, porque se vive como se reza. […] O “combate espiritual” da vida nova do cristão é inseparável do combate da oração (§ 2725).
— Quem é o “Tentador”?
— O que é a “vida nova do cristão”?
Conversas como esta são frequentes entre os jovens aspirantes dos Arautos do Evangelho – rapazes e moças –, que são estimulados desde muito cedo a se transformarem em pessoas acostumadas à oração.
A oração! É ela a causa de tantas vitórias no apostolado! É o segredo para praticar a virtude e obter disciplina de milhares de jovens, às vezes juveníssimos. Esses novos apóstolos são, antes de tudo, entusiastas ardorosos da oração. Por isso, os Arautos do Evangelho têm como ponto de honra a adoração diária ao Santíssimo Sacramento, a participação na Eucaristia, a recitação do Rosário.
Nas casas dos Arautos, em que os jovens vivem em comunidade, o dia a dia é impregnado de oração, ou melhor, o dia é todo ele transformado numa oração.
Todas as atividades são iniciadas por uma prece, por breve que seja, para oferecê-las a Deus pelas mãos virginais de Maria, e são terminadas também com uma oração, para agradecer ao Altíssimo as graças e auxílios recebidos.
E até mesmo uma simples aula de ginástica, ou um mero jogo, não se inicia nem se encerra sem pelo menos uma Ave-Maria.
Tão logo soa o sino do despertar de manhã, todos se reúnem para uma breve súplica. Antes do café, o canto do Credo eleva-se ao Céu, de modo que o início das atividades seja marcado pela proclamação da fé.
Com o Ofício de Nossa Senhora durante o dia, louvam-se as virtudes com que Deus Pai ornou a Esposa do Divino Espírito Santo. E o canto da Salve Rainha, antes do deitar-se à noite, encerra o dia.
Em uma palavra, devem ser formados homens e mulheres de fé, que creem na efetividade das palavras do Divino Salvador: “Tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o alcançareis” (Mt 21, 22).