Realizar-se-á no próximo mês, na Cidade do México, o VI Encontro Mundial das Famílias. Qual é o tema central proposto aos participantes?

O Santo Padre assinalou para este Encontro um tema muito especial: A família, formadora nos valores humanos e cristãos.

É um ponto central da vida da família, pois ela deve ser considerada como a primeira comunidade de vida e amor, como formadora de pessoas e educadora na Fé.

Os valores não são teóricos, são reais na medida em que se tornam vida.

A honestidade, por exemplo, existe apenas como teoria, como um conceito; ela começa a ser um valor no momento em que uma pessoa a vive na realidade. Os valores são vida, e a vida se aprende na família.

Mais ainda, os valores não podem ser somente humanos, devem ser cristãos, inspirados pelo Evangelho, com uma motivação evangélica. Os valores cristãos, nós os chamamos virtudes.

Quais são os objetivos do Encontro?

O Encontro busca dar uma oportunidade para que as famílias tomem consciência de si mesmas, de sua importância, dos valores que manejam e da projeção que têm, e se comprometam com esses valores.

É também muito importante considerar que na Igreja não temos dado à família toda a importância que ela tem, por isso é necessário suscitar um genuíno interesse pela pastoral familiar.

O Cardeal Norberto Rivera Carrera escreveu uma carta, que foi muito elogiada por “L’Osservatore Romano”, dirigida aos sacerdotes da Arquidiocese de México, particularmente aos párocos, fazendo-os ver qual é o significado do Encontro Mundial das Famílias e convidando-os a serem protagonistas dessa promoção da pastoral familiar.

O que é defender a vida?

A vida não é exclusivamente natural, biológica. Os esposos não devem apenas engendrar, mas também “dar-se vida”. E “dar-se vida” significa amar-se.

Um casal que não está aberto à vida, este, além de não estar aberto a gerar um filho, não está aberto a “dar-se vida” mutuamente. Não está aberto a viver a alegria, a felicidade, a fé. A expressão do matrimônio é a expressão da vida.

Quando se dá a vida biológica aos filhos, nasce naturalmente uma abertura para esse “dar-se a vida”. Daí vem a defesa da vida, pois que melhor cuidado há que o de proteger seus próprios filhos?

Eu sempre digo aos casais: “A melhor coisa que vocês podem dar a seus filhos é o seu amor de esposos. Não o pai para um lado e a mãe por outro. O amor de vocês é o que eles necessitam e esperam”. Definitiva e primordialmente, é isso.

Não pode haver vida em sentido pleno somente pelo fato de ter ocorrido um processo biológico; isso não significa ser pai, ser mãe. Dar vida é, sobretudo, dar amor.

Muitos casamentos se desfazem justamente porque não há vida, e não se pode, então, formar a família.

Os casais têm muitas dificuldades para viver, hoje, os princípios que o senhor acaba de comentar…

Como todas as coisas que valem a pena, isso dá trabalho. A família, o amor, os valores, tudo isso exige um esforço.

Considerando o aspecto interior, existem as limitações humanas; no casamento podem-se manifestar as dimensões pessoais mais excelsas, mais elevadas, mais espirituais… e as mais humanas, no pior sentido do termo.

Todos nós trazemos uma carga genética boa e outra má; todos temos limitações, defeitos, propensões a coisas negativas e a coisas positivas.

Pelo aspecto exterior, existem influências contrárias, e a tendência de sempre pôr a culpa no outro. Culpamos o governo, uma catástrofe natural, ou culpamos a Deus. Temos que pôr a culpa em alguém. 

Ora, não se trata de pôr a culpa, mas sim de reconhecer quais são os problemas.

Quais seriam as influências contrárias?

Podemos iniciar pelos meios de comunicação. A televisão exalta a infidelidade e os antivalores. Por exemplo, numa telenovela a esposa é apresentada como a feia, a neurótica, a tediosa. E isso é visto por milhões de pessoas…

Por mera publicidade, se deformam os valores. Para vender um refrigerador, a propaganda apresenta uma moçoila; para vender um perfume, diz que com ele a telespectadora conseguirá fascinar alguém.

E assim por diante, é um contínuo bombardeio de elementos negativos, contrários ao matrimônio.

Na sociedade, sempre ou quase sempre se zomba do casamento. Todos procuram casar-se, mas quando alguém está rumando para o matrimônio, diz-se: “Ah, você vai suicidar-se!…”

Há muitos ditos contrários ao matrimônio também no nível executivo e no empresarial.

Existem ambientes masculinos que excluem as mulheres, nos quais se separam os casais. São eventos em que os homens estão por um lado e as mulheres por outro, elas zombando deles, eles caçoando delas. Coitado de quem ficar junto à sua esposa!

Isso é contrário ao matrimônio, é contrário à família.

O senhor tem uma mensagem para os leitores?

Para os leitores do mundo inteiro, que se preparem para refletir sobre como cada família pode ser melhor, trabalhando para fazer uma melhor e mais efetiva pastoral familiar em todo o mundo. 

Uma ideia nossa – oxalá possamos realizá-la! – é de que no Encontro as famílias se comprometam a doravante viver os valores cristãos.

Um compromisso do qual todas as famílias – jovens, de meia idade ou anciãs – poderão participar, através dos meios de comunicação. “Comprometemo-nos a viver os valores evangélicos em nossas famílias”.

Monsenhor Enrique Glennie Grau nasceu em 16 de setembro de 1947, na Cidade do México. Foi ordenado sacerdote em 20 de maio de 1972. É Vigário de Agentes de Pastoral e Secretário-Geral do IV Encontro Mundial de Famílias.