Gostaríamos de saber como surgiu a ideia deste Simpósio sobre o pensamento de Joseph Ratzinger e qual foi a sua gênese.

Este II Simpósio nasceu depois da experiência que tivemos em 2011 na cidade de Bydgoszcz, na Polônia, onde 32 universidades se reuniram para refletir e estudar o pensamento de Joseph Ratzinger sobre o tema Peregrinos da verdade, peregrinos da paz.

Era o 25º aniversário da peregrinação de João Paulo II a Assis, quando houve o encontro de homens e de religiões, e para não deixar que esse momento fosse apenas comemorativo ou tivesse um significado quase exclusivamente religioso – não que isso não seja importante, mas justamente para salientar o quanto esta grande intuição de João Paulo II favoreceria um progresso a nível cultural –, realizou-se com a Fundação Ratzinger – Bento XVI aquele primeiro Simpósio.

Tornou-se assim manifesto como a peregrinação pela paz requer necessariamente uma outra peregrinação: a da verdade.

No I Simpósio estiveram presentes 32 universidades, 100 docentes e quase 500 estudantes, que participaram dos dois dias de trabalho. Dali nasceu a ideia de um segundo evento.

Este se realizou no Rio de Janeiro, onde as universidades envolvidas foram numerosíssimas: as 32 do primeiro simpósio tornaram-se, entre universidades e instituições, 138.

Os participantes foram cerca de 700. As exposições, de altíssimo nível, foram mais de 40 nos dois dias.

O tema Humanização e sentido da vida, proposto pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, e aprovado pelo Santo Padre, foi ocasião para entrar mais profundamente nos estudos científicos do Prof. Ratzinger.

Então, a ideia de “Peregrinação na verdade”, que o senhor mencionou, realizou-se de fato no pensamento de Joseph Ratzinger?

Exatamente. E não apenas se realizou, mas a impressão que tive, e que tiveram também todos os expositores, é que o pensamento de Joseph Ratzinger está conquistando as universidades muito além das melhores expectativas.

Ver os 700 estudantes do primeiro dia, imóveis, escutando as exposições de Dom Tempesta e do Prof. Mario de França Miranda – exposições de considerável valor, inclusive do ponto de vista cultural.

E vê-los atentos, tomando notas, faz pensar que, de fato, as universidades estão trabalhando muito seriamente e preparam um futuro para esta humanidade que ultrapassa as expectativas mais otimistas.

Talvez os mass media atuais não consigam captar esta riqueza, esta capacidade de questionar-se sobre problemas essenciais da vida, que os jovens de hoje possuem e que irrompe nas universidades.

O fato de que o evento tenha ocorrido no Rio de Janeiro tem um significado especial?

Diria que são duas as interpretações que se pode dar a este fato. A primeira é aquela que se nota mais facilmente: a realização, no próximo ano, da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro.

Trata-se de um acontecimento esperado por todos os jovens e que está sendo preparado pelas dioceses, mas que, aos olhos da opinião pública, e inclusive da opinião pública mais atenta, corre o risco de passar somente como um grande momento de fé e de oração.

É verdade que a JMJ tem este significado de fé e de oração, mas o Simpósio, enquanto debate universitário, faz emergir uma outra dimensão da JMJ, igualmente bela e rica: ela é voltada para jovens que em grande parte vivem no mundo universitário e são os construtores do futuro, inclusive a nível intelectual.

Levar esta dimensão de estudo sobre o pensamento de Joseph Ratzinger para dentro do mundo universitário torna-se mais importante do que nunca. Certamente esse é um dos aspectos relevantes da escolha do Rio.

Há um outro aspecto que é dito com muita simplicidade: é a impressão às vezes transmitida pelos grandes meios de comunicação – sobretudo por aqueles de caráter generalista e comercial –, de que o Papa, por sua origem alemã, não é bem visto nem amado pela América Latina; que há uma espécie de atitude refratária a seu respeito.

Este simpósio revelou exatamente o contrário: é um Papa amadíssimo e seguido de modo espantoso.

A atenção dispensada e o crescimento do número de universidades participantes do Simpósio, e que marcaram presença de modo convicto e caloroso – e disso o Papa tomou conhecimento passo a passo – foi a demonstração de que a ideia de distanciamento entre o povo da América Latina e o Papa é inteiramente falsa.

Tenho alegria em dizer isso porque foi justamente essa a realidade que os jornalistas, vindos da Itália para acompanhar o Simpósio, também notaram.

E imediatamente comentavam: “Nós tínhamos a ideia de que o Papa não seria bem acolhido pelo povo latino-americano porque achávamos que ele o sentia distante, mas nos damos conta de que não é verdade”.

E esta realidade percebida pelos jornalistas tem, paradoxalmente, um valor maior do que uma observação minha, porque são pessoas que, pelo próprio trabalho que fazem, estão habituadas a ouvir o rumor dos colegas, mas também das pessoas.

No que se refere às perspectivas para o futuro da Fundação Ratzinger – Bento XVI, o que o senhor poderia nos dizer?

As perspectivas para o futuro são as que transmiti no encerramento do Simpósio no Rio de Janeiro. No próximo ano teremos um Simpósio que se realizará em Roma, de 24 a 26 de outubro de 2013. O tema será Evangelho e História.

Assim, depois de percorrer um caminho sobre a verdade no primeiro simpósio em Bydgoszcz, outro de tipo antropológico neste do Rio, no próximo ano realizaremos um Simpósio que nos pede um caminho com ênfase teológico-bíblica.

Todo esse trabalho é desenvolvido em grande parte no silêncio, longe dos olhos da mídia e dos reflectores das televisões. Mas pense nisto: este ano, no encerramento do Simpósio, foi anunciado que na Pontifícia Universidade Católica do Rio nascerá a cátedra Joseph Ratzinger.

Cátedras similares já foram criadas na Polônia, Áustria e também no Centro de Estudos Ratzinger de Bydgoszcz.

Através dessa cátedra se poderá dizer qual é o caminho a tomar para fazer com que o ensinamento não somente do Papa, mas também do Prof. Ratzinger – que educou gerações de estudantes que se tornaram depois docentes, professores e doutores de universidades – possa converter-se em riqueza para o nosso tempo.

Neste apanhado que nos foi oferecido, o que se pode afirmar com relação às novas realidades eclesiais dos novos movimentos da Igreja? Há algo de significativo como colaboração, ponto de referência, etc.? 

Diria que as novas realidades eclesiais são, talvez, aquelas que de modo mais surpreendente conseguem acolher a riqueza de um Papa que está estimulando o mundo a revisar-se indo às suas próprias raízes, a revisar-se em termos de verdade, de essencialidade, a descobrir que a vida é um caminho belo e exigente, e que a Fé Católica é o futuro da humanidade.

Da grande colaboração que tivemos com os Arautos do Evangelho, o Papa não apenas foi informado, mas foi também convicto defensor.

Para darmo-nos conta, bastaria ter em mãos Luz do mundo e ver aquilo que, na entrevista a Peter Seewald, o Papa diz a propósito dos Arautos do Evangelho. Se alguém tiver esquecido, sugeriria retomá-lo e rever as suas palavras.

A colaboração havida neste Simpósio com os Arautos do Evangelho foi, de fato, abençoada pelo Papa, que os tem como pessoas sérias, que amam o Santo Padre e o amam de modo católico; amam a doutrina católica, a Fé Católica, e sabem empenhar-se nisso.

Vimos que, em torno dessa colaboração, também muitas universidades que a princípio talvez pareciam indecisas, tiveram a coragem de pronunciar-se em conformidade com sua própria razão de ser.

É surpreendente o que a Pontifícia Universidade Católica do Rio fez por este simpósio; como o Arcebispo tomou este simpósio e o assumiu realmente com entusiasmo, e como colocou à disposição o seu Bispo auxiliar para que o acompanhasse.

Esta foi uma escolha muito inteligente, genial, e também quanto a isso, talvez, não se conseguiu ainda agradecer suficientemente.

De fato, ele pôs à disposição o Bispo que está organizando a Jornada Mundial da Juventude, dando a entender que os dois eventos não estão separados.

Dom Paulo Cezar Costa foi quem, junto com os Arautos do Evangelho e os jesuítas da PUC-Rio, trabalhou intensamente para a realização deste Simpósio.