O que é propriamente o Sínodo dos Bispos?
É um organismo da Igreja mediante o qual o Papa chama, de tempos em tempos, os representantes do episcopado do mundo inteiro a colaborarem com ele em alguma questão.
Geralmente trata-se de consultas e reflexões sobre temas vitais da missão e da vida da Igreja, antes que o Papa emita um documento sobre tais temas.
As assembleias do Sínodo podem ser ordinárias ou extraordinárias. É sempre o Papa quem as convoca.
Como se realiza uma assembleia ordinária? Quais as etapas de preparação, realização e conclusão? Qual sua finalidade?
O Sínodo dos Bispos é um organismo permanente e tem uma secretaria em Roma para acompanhar questões pertinentes, entre as quais, a preparação das assembleias.
Existe, antes de tudo, uma consulta entre os Bispos sobre possíveis temas para as assembleias; depois de fixado o tema e definida a data, os Bispos são chamados a darem suas contribuições para a elaboração do “instrumento de trabalho”.
Este chega com boa antecedência às mãos de todos os Bispos, para que acompanhem a preparação da assembleia e elaborem as contribuições a serem levadas pelos delegados eleitos pelas Conferências Episcopais e convocados pelo Papa.
Existem muitas possibilidades para oferecer contribuições para o tema.
Durante as assembleias, existe inicialmente a fase das intervenções dos delegados, as quais são, depois, agrupadas em temas menores e repassadas para o trabalho dos grupos.
Finalmente, as contribuições são recolhidas e o relator deve elaborar as propostas da assembleia a serem entregues ao Papa.
É bom lembrar que o Sínodo dos Bispos é um organismo consultivo; é sempre o Papa que publica o Documento Pós-Sinodal sobre o tema tratado.
Sua Eminência foi nomeada Presidente Delegado. Como recebeu dita nomeação, e qual seu significado?
O Santo Padre é quem preside as assembleias do Sínodo; mas é claro que não faz a coordenação direta dos trabalhos, escolhendo para isso um trio de Cardeais.
Recebi com surpresa a nomeação do Santo Padre, uma vez que sou um dos Cardeais mais novos do Colégio. Mas fiquei muito feliz com a confiança do Papa na minha pessoa.
Na escolha dos três presidentes delegados vejo a preocupação com a representação dos Continentes: o Cardeal Gracias, da Índia, representa a Ásia; o Cardeal Levada é norte-americano, mas está no Vaticano e representa a Europa e a América do Norte; e meu nome representa a América Latina.
Concretamente a respeito dessa Assembleia, por que a escolha do tema: a Palavra de Deus?
A última assembleia teve como tema a Eucaristia na vida e na missão da Igreja; agora será a Palavra de Deus, também na vida e na missão da Igreja; ambos são temas centrais e essenciais.
Claramente, a Igreja é discípula e servidora da Palavra de Deus, e o dinamismo de sua vida e missão dependem de como ela acolhe, vive e comunica a Palavra de Deus. Tenho certeza de que os frutos serão muitos.
Como essa Assembleia Ordinária do Sínodo pode auxiliar nas dificuldades pastorais das Igrejas locais? O que pode ajudar no caso concreto do Brasil?
A preparação e realização do Sínodo está despertando grande interesse e isso já é importante.
Depois teremos a Exortação Pós-Sinodal do Papa, onde serão apresentadas as diretrizes para as atitudes que deverão orientar a vida e a missão da Igreja em relação à Palavra de Deus.
Espero que o Sínodo traga um renovado interesse pela leitura, estudo, difusão e vivência da Palavra também no Brasil.
Graças a Deus, já temos aqui belas experiências pastorais nesse sentido, com os círculos bíblicos, a leitura orante da Bíblia e a difusão sempre maior da própria Bíblia.
A V Conferência do CELAM, em Aparecida, sublinhou o papel missionário da Igreja na América Latina. De que modo essa Assembleia Ordinária do Sínodo vem de encontro a esse apelo?
O papel missionário da Igreja está intimamente ligado à Palavra de Deus.
A Igreja é convocada pela Palavra, é conduzida por ela, vive dela e é enviada ao mundo para anunciá-la e testemunhar a vida nova que brota da acolhida da Palavra com fé, na vida pessoal e comunitária.
A “nova evangelização” leva necessariamente a um reencontro com a Santa Palavra; e ninguém será “discípulo-missionário” de Jesus Cristo sem o encontro com a Boa Nova da Salvação.
O Instrumento de Trabalho termina com o mandato do Senhor: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15). O que é anunciar o Evangelho e dele ser um arauto no mundo de hoje?
A Igreja existe para realizar esse mandato de Jesus e, continuamente, se coloca em estado de missão. Hoje, novamente, todos são convidados a se fazerem ouvintes e anunciadores da Palavra, com fé, alegria e esperança.
Precisamos crer na eficácia da Palavra, pois ela é de Deus e tem a força de Deus.