Para muitas pessoas a expressão “Nova Evangelização” pode parecer pouco clara. Como Vossa Eminência explica o termo?
A palavra que, para mim, melhor dá essa explicação foi pronunciada pelo Papa Bento XVI quando anunciou a criação do novo Conselho Pontifício. Ele disse que temos de aprender a repropor.
Não estamos refundando, não estamos recreando nada, porque a mensagem do Evangelho já está proclamada. Jesus veio e nos disse que devemos amar a Deus e ao próximo.
Nos últimos anos, especialmente em nossa cultura, essa mensagem para muitas pessoas de alguma maneira perdeu seu caráter salvador, perdeu seu poder. Não toca o coração.
A Nova Evangelização consiste em voltar a propô-la. Voltar a escutar o Evangelho, e nesse empenho pode ser que nós o escutemos corretamente pela primeira vez.
É o que Jesus veio nos oferecer. É o que a Igreja nos oferece hoje em dia: viver a continuidade com os Apóstolos e com o Evangelho. Repropor não uma mensagem nova, mas a mesma mensagem, agora apresentada sob nova forma.
Novo na forma com a qual levamos as pessoas a escutá-lo. Todos os meios modernos de comunicação hoje em dia estão nessa posição.
Tínhamos o costume de confiar nos manuais de catecismo, nos boletins paroquiais, e agora temos YouTube, Facebook, Twitter, blogs, todos esses meios eletrônicos. Nova Evangelização significa usar isso para narrar a mesma história.
Como a Igreja pode repropor hoje, através dos meios de comunicação, sua mensagem Evangélica, o ensinamento dos documentos do Concílio Vaticano II e o Catecismo da Igreja Católica, como sugere o Papa?
Há duas coisas. Uma é ter cuidado de que as pessoas recebam uma mensagem precisa, correta e adequada. Porque temos a mensagem, o “pacote” da mensagem, e temos depois a entrega da mensagem.
São esses os três elementos. Para assegurar-se de que se tem a mensagem correta, diz o Papa que é necessário voltar e refletir sobre o Concílio Vaticano II.
Mas, dessa vez, refletir sobre ele na hermenêutica da continuidade. Refletir sobre ele, já que é a verdade que nos vem dos Apóstolos, sobre a qual, no Concílio Vaticano II, os Bispos refletiram em termos de como aplicá-la aos problemas de hoje.
Então, é necessário assegurar-se de que se tenha a mensagem correta. Em segundo lugar, temos de ver como ela está “empacotada”; temos de ser capazes de expor a mensagem na linguagem das pessoas de hoje.
É preciso aprender a falar de uma maneira diferente. Portanto, há uma mensagem, o “pacote” e a entrega.
Temos que transmitir a mensagem com todos os mecanismos que os jovens estão utilizando hoje. Eles não se acostumam a percorrer o jornal de nossa Arquidiocese, mas o fazem com nosso blog. Frequentam nossa página web.
Portanto, é preciso ver como articulamos a mensagem e ver os meios para tentar chegar às pessoas.
A voz da Igreja é escutada no mundo moderno?
Penso que estamos encontrando muitas pessoas que apreciam a voz dos Bispos. Mas temos de recordar que estamos lutando contra uma espécie de enorme tsunami de vozes laicas.
Assim, muitos dos meios de comunicação são claramente laicos e algumas vezes até mesmo hostis aos princípios de que estamos falando. Portanto, é uma luta, uma luta para fazer ouvir a voz do Evangelho no meio da cacofonia de outras vozes.
Recentemente, a Congregação para a Doutrina da Fé publicou uma “Nota” com algumas sugestões de como viver o Ano da Fé. Qual delas, Eminência, será posta em prática na Arquidiocese de Washington?
No nível arquidiocesano estamos fazendo quase tudo o que foi proposto. Estamos empregando todos os esforços da nova mídia para chegar ao nosso povo.
No plano educativo estamos realizando encontros para debates catequéticos, estamos promovendo a participação ativa das pessoas; no nível paroquial, através dos conselhos paroquiais, por meio do esforço pastoral da paróquia.
Segundo nosso compromisso com a justiça social, estamos convidando as pessoas a participar das diversas iniciativas às quais se dedicam as paróquias da arquidiocese.
De outro lado, toda vez que temos oportunidade, por exemplo, uma homilia no Natal, ou um ensinamento de Advento ou Quaresma, invadimos a comunidade com anúncios de televisão, de rádio, de nossos sites da web.
Nós até colocamos cartazes por toda a cidade. É uma maneira de conseguir a atenção do povo, convidando-o a visitar nossa página web.
De modo que, provavelmente, quase tudo o que está na lista de sugestões estamos pondo em prática agora ou o pusemos em prática quando era a hora.
E os frutos desses programas…
Bem, acho que estamos vendo muitos jovens responder. Dou-lhe um exemplo. Temos o ministério catequético numa das universidades laicas. Anos atrás, o jovem sacerdote encarregado desse ministério começou com vinte estudantes que iam à Missa.
E começou por lhes explicar a beleza, a maravilha do Evangelho e disse a cada um: “Você precisa se tornar um apóstolo neste campus. Você tem de trazer algum outro à Missa”.
Faz um ano, fui até lá e havia 200 jovens estudantes. É só um exemplo, um dos frutos do esforço, da necessidade de convidar a regressar.
A Nova Evangelização é basicamente um chamado, um convite para regressar à Igreja. Há pessoas afastadas e pessoas que simplesmente buscam a Palavra. Esse é só um exemplo.
Em que nos pode ajudar o Ano da Fé?
É uma oportunidade de voltarmos e olhar o que o Concílio disse e com que sucesso o estamos implementando.
É uma oportunidade para renovar em nossos corações a fé, nossa convicção no Evangelho. E uma oportunidade para convidar outros para compartilhar conosco o mistério do amor de Deus e o chamado ao discipulado.
O Ano da Fé será um tempo para nos concentrarmos nas coisas que já foram ditas e para recordar que a nova evangelização vai continuar no futuro. O Ano da Fé está abrindo a porta para o futuro.