AE: Como se deu o nascimento da Congregação fundada por Santa Paulina?

Irmã Maria da Glória: Madre Paulina foi inspirada a fundar a Congregação também em sonhos com Nossa Senhora.

Na primeira noite, Madre Paulina viu a Santíssima Virgem muito sorridente, muito bonita. A Madre sorriu para Nossa Senhora, Nossa Senhora sorriu para ela. E acabou o sonho.

Mais tarde teve um outro sonho no qual Nossa Senhora disse-lhe: “Quero que comeces uma obra, para a salvação das minhas filhas”. Madre Paulina respondeu: “Mas como, minha Mãe, se eu sou tão ignorante, não sei nada, sou quase analfabeta?”

Nesse instante apareceu um sacerdote vestido de preto, que ela não conhecia. E Nossa Senhora disse: “Ele vai te ajudar. Ele vai te ajudar”. Nossa Senhora falava do conhecido Pe. Rossi, que viria no futuro auxiliar muito a Madre.

Algum tempo depois, Madre Paulina teve mais um sonho em que Nossa Senhora lhe perguntou: “Que resolvestes minha filha?” Ao que respondeu Madre Paulina: “Servi-Vos, minha Mãe!”

Então Nossa Senhora mostrou-lhe uma porção de moças e de crianças, e disse: “Eis as filhas que te confio”. Baseada nesses sonhos e especialmente no desejo de se entregar a Deus e ao serviço do povo, decidiu fundar a Congregação.

A fundação começou de fato no dia em que ela saiu da casa paterna para cuidar de uma senhora cancerosa chamada Ângela Lúcia Vivian.

Madre Paulina foi acompanhada de uma amiga, passando a viver em um casebre. Com muita paciência, muita caridade tratavam da doente. Para a senhora havia uma cama e para as duas era o chão, naquele clima frio de Vígolo (SC), naquela época!

E elas então suportavam todo aquele sofrimento para oferecer sacrifícios a Deus, para a conversão dos pecadores, para que Deus realizasse nelas a sua Vontade, os desígnios d’Ele.

E ficaram lá, até o falecimento da doente. E aí começou a Congregação, que teve início com esse desejo enorme delas de fazer o bem.

AE: Como a senhora a conheceu?

Irmã Maria da Glória: Eu a conheci em São Paulo, depois de ela ter vivido quase dez anos em Bragança. Foi o Bispo D. Duarte Leopoldo e Silva que a chamou para vir a São Paulo.

Ele queria que ela nos servisse de modelo. Eu me lembro de ele nos ter falado: “A venerável Madre Fundadora vai voltar para São Paulo. Vocês procurem imitar a Madre Paulina em tudo”.

Recordo-me de que ela gostava muito de ajudar os outros e de fazer flores artificiais para arrumar o altar. Fazia tudo com muito esmero. Às Quintas-Feiras Santas, era ela quem embelezava o altar, e o arranjo ficava impecável.

A devoção dela ao Santíssimo Sacramento era algo de chamar a atenção. Ficava na capela imóvel como se fosse uma estátua.

A ponto de, durante o recreio, por causa das conversas vivas das noviças no pátio, contíguo à capela, terem perguntado a ela certa vez: “Madre, as noviças não estão atrapalhando a senhora com esse barulho todo?”

Ela disse: “Quando eu estou diante de Deus, nada me atrapalha”. Li um texto escrito por ela em que dizia sentir a presença de Deus constantemente, e que isso lhe parecia impossível perder.

Acredito que foi aceitando o sofrimento junto aos doentes e procurando ver sempre qual era a vontade divina, que ela adquiriu esse convívio com Deus.

AE: E como se iniciaram as graças obtidas através de Santa Paulina?

Irmã Maria da Glória: A Madre Paulina, apesar de ser a fundadora, sempre viveu uma vida muito simples. Não se ouvia falar muito dela. Ao menos para mim, que era candidata nessa época. Não sei como era com as irmãs. 

Mas depois de sua morte, tanta gente começou a rezar e foram tantas as graças, que a devoção a ela cresceu rapidamente.

AE: Quais as principais virtudes que mais se destacavam em Santa Paulina?

Irmã Maria da Glória: A primeira é a humildade, depois a simplicidade e a vida de oração. Nós vínhamos do colégio correndo para vê-la rezar diante do sacrário. Quanta piedade!

AE: Qual é o carisma da Congregação das Irmãzinhas do Imaculado Coração de Maria?

Irmã Maria da Glória: O nosso carisma é a sensibilidade para perceber as necessidades, e depois disponibilidade para servir, onde for necessário.

Para servir a Igreja em primeiro lugar, mas onde for necessário. Nós não assumimos todas as obras. Nossa Congregação trabalha mais com os doentes. A Madre gostava muito dos idosos e doentes e dizia que eles eram os seus filhos prediletos.

AE: E de onde surgiu o nome da Congregação?

Irmã Maria da Glória: Antigamente nos chamávamos Filhas da Imaculada Conceição, por causa daquele sonho da Madre: “Eis as filhas que te confio”.

Era Nossa Senhora Imaculada que tinha aparecido para ela no sonho. Então ela deu o nome de Filhas da Imaculada Conceição. Depois, quando D. Duarte fez um capítulo conosco, trocou para “Irmãzinhas da Imaculada Conceição”.

Fez isso para nos recordar sempre a nossa origem simples, pobre, pequena, a humildade da fundadora e que deveríamos, pelo próprio nome “irmãzinhas”, lembrarmo-nos disso. Porque o nosso objetivo seria também o de seguir os passos da fundadora.