Santa Marta era santa, embora não conste que fosse contemplativa. Então, o que se pode desejar de melhor do que chegar a ser como essa bem-aventurada, que mereceu hospedar Nosso Senhor várias vezes na sua casa?

E preparar-Lhe a refeição, e Lhe servir, e sentar-se à mesa para comer com Ele? Se ela, como Madalena, tivesse permanecido embevecida aos pés do Senhor, ninguém teria servido a comida a este Divino Hóspede.

Considerai, pois, que esta congregação é a casa de Santa Marta e que nela deve haver de tudo. Assim, as que forem levadas para a vida ativa, não murmurem contra as que muito se embevecerem na contemplação. [...]

Lembrem-se de que é preciso haver alguém que Lhe prepare as refeições e considerem-se felizes por estar servindo, como fez Marta.

Ponderem que a verdadeira humildade consiste, em boa medida, em estarmos prontas para o que o Senhor quiser fazer de nós, em contentarmo-nos com sua divina vontade e acharmo-nos sempre indignas de sermos chamadas suas servas.

Pois, se contemplar e fazer oração mental e vocal, curar enfermos, servir nos afazeres da casa, trabalhar – ainda que seja nas mais humildes funções –, se tudo é servir ao Divino Hóspede, que vem até nós para conviver, alimentar-Se e recrear-Se, que nos importa se o fizermos de uma forma ou de outra?

 

SANTA TERESA DE JESÚS. Camino de perfección, c.17, 5-6. In: Obras Completas. 3.ed. Burgos: El Monte Carmelo, 1939, p. 396-397.