O que é propriamente um Cardeal da Santa Igreja Romana?

Quando o Papa nomeia os novos cardeais (na antiga tradição da Igreja costuma-se dizer “criação”), lembra-lhes que o verdadeiro motivo dessa honra é a fidelidade a Cristo, à sua Igreja e ao Papa, até a “efusão de sangue”.

A cor das vestes cardinalícias – o vermelho púrpura – quer referir-se à coragem de amar o Senhor até o martírio. Não faltaram, na História da Igreja, testemunhas corajosas a esse ponto.

Os novos purpurados passam a fazer parte do clero de Roma. Por isso o Papa confere a cada um deles uma igreja da cidade – um “título cardinalício”, segundo a tradição – e se serve de seus conselhos e de sua experiência.

Em alguns casos, envia-os como seus representantes a outras Igrejas, para realizar missões especiais, concedendo-lhes, para isso, poderes específicos. 

Seja como for, todos os cardeais são nomeados conselheiros dos dicastérios da Santa Sé, através dos quais o bispo de Roma, sucessor de Pedro, governa a Igreja universal.

Se um cardeal não recebe a responsabilidade de uma diocese, mas sim o encargo de dirigir algum organismo da Cúria, ele se coloca como um colaborador direto do Sumo Pontífice.

Para as Igrejas Orientais a figura do cardeal tem um sentido diferente daquele da Igreja Latina?

Cada Igreja Oriental é dirigida por um patriarca, um arcebispo-mor, um metropolita ou um bispo, dependendo da tradição histórica da qual tenha nascido.

Em união com a Igreja latina, também elas têm como bispo o Senhor Jesus, Sumo e Eterno Pastor, que Se faz presente no sucessor de Pedro, o Papa, e nos sucessores dos apóstolos, os bispos, os quais, graças ao ministério petrino, permanecem unidos entre si. 

A figura do cardeal é típica da Igreja latina, mas ao longo dos séculos o Papa conferiu essa distinção também a pastores de rito oriental, em comunhão com a Sé Apostólica.

Atualmente são cardeais: o Patriarca Maronita, o Patriarca emérito Sírio-Católico – que me antecedeu na Congregação – o Patriarca emérito dos Coptas, o Arcebispo-Mor dos Bizantinos Ucranianos, o Arcebispo-Mor dos Sírio-Malabares (Índia), e o Patriarca de Bagdá, de rito caldeu, que se tornou cardeal no último consistório.

Esses prelados unem ao serviço de chefe e de pai de suas Igrejas uma ligação mais estreita de fraterna disponibilidade em relação ao Papa, para o bem da Igreja universal.

Como vêem os orientais o Prefeito da Congregação para essas Igrejas?

Eles sabem que o Prefeito recebeu do Papa a incumbência de sustentar a vida ordinária de suas Igrejas a fim de que elas permaneçam fiéis à tradição teológica, litúrgica e jurídica oriental, mas também fiéis ao bispo de Roma e, assim, unidas a Cristo e em comunhão com toda a Igreja.

Respeitam, por isso, o Prefeito, como o primeiro representante do Papa, e lhe prestam uma fraterna colaboração, para que as Igrejas orientais possam ajudar a Igreja universal a “respirar com dois pulmões”, levando com mais vigor o Evangelho a todos.

O que sente em seu coração um Cardeal diante da perspectiva de um dia eleger o sucessor de Pedro?

Ao Papa Bento XVI desejamos saúde, serenidade e força para um serviço sempre generoso a Deus, à Igreja e à Humanidade.

Lembro, porém, as reflexões feitas pelo saudoso Papa João Paulo II, num de seus livros, ao falar do temor e tremor que sentia quando precisava encontrar as mãos escolhidas pelo Senhor para receber as pesadas chaves do apóstolo Pedro.

Nesse momento tornam-se mais fortes o amor, a obediência e a oração pelo Papa. E crescem a admiração por ele e a vontade de sustentar de qualquer maneira sua alta responsabilidade: ser servo dos servos de Deus.