Quando os portugueses chegaram à Índia, em inícios do século XVI, vigorava nos numerosos reinos do subcontinente o bárbaro costume do sati. Consistia ele em jogar a viúva à fogueira na qual seria cremado o cadáver de seu esposo.

Desse modo, acreditava-se, poderia ela acompanhar o marido nas várias etapas do seu destino no outro mundo.

Esse ritual realizava-se em pátios de templos, de palácios, ou mesmo em simples aldeias, conforme fosse a casta ou categoria do morto.

Nesses locais, habitualmente era erigida uma lápide com inscrições e figuras esculpidas, para enaltecer a memória das vítimas.

Investigação histórica

Com base nessas lápides e em outros documentos, sabe-se que o sati se realizava ao rufar de tambores e com a participação de numeroso público.

Se a vítima recusasse sujeitar-se a tal imolação ou demonstrar pânico, poderia ser entorpecida pela ingestão de bebidas, que a deixavam inconsciente.

No caso de guerreiros que morriam em combates em regiões distantes, suas viúvas eram cremadas sozinhas.

O jovem historiador Prajal Sakhardande já localizou, só no estado de Goa, quarenta lápides de sati em aldeias que remontam ao período entre os séculos XI e XV, e que foram posteriormente abandonadas, deixando poucos vestígios.

Assim, dessas aldeias restam apenas as lápides de sati, semi-encobertas pela vegetação. Para encontrá-las, o pesquisador tem contado com a ajuda de alunos que residem nessas regiões.

Proibido por Albuquerque

Ressalta Prajal Sakhardande:

A proibição da prática cruel do sati começou em Goa: foi uma iniciativa do governador português Afonso de Albuquerque, em 1510. Sem dúvida, uma proibição justa e oportuna, graças à qual hoje nossas mães, nossas esposas e nossas irmãs podem respirar aliviadas.

Profundamente católico, Afonso de Albuquerque não poderia tolerar a prática de um rito tão desumano.

Somente em 1829, portanto mais de três séculos depois, seu exemplo foi seguido por autoridades locais: o Rajá Ram Mohan Roy estabeleceu análoga proibição em seus domínios, levado por razões humanitárias, e também por ter presenciado, em sua família, quando jovem, uma dessas terríveis cerimônias.

Na Índia de hoje, o sati figura apenas nos livros de História ou, excepcionalmente, nas páginas dos jornais, quando, em alguma localidade do interior, uma viúva é empurrada ao fogo de uma dessas cremações, ocasionando protestos e controvérsias.