A rainha Branca de Castela, mãe de São Luís IX, rei de França, repetia-lhe com frequência, quando ele era ainda criança: “Meu filho, prefiro ver-te morto do que em desgraça, por ter cometido um pecado mortal”.1

A História não registra a resposta do príncipe, mas relata como também ele, já poderoso monarca, não descurava seus deveres cristãos diante dos ministros e oficiais da corte.

Certo dia perguntou ao Monseigneur de Joinville,2cuja franqueza ele muito apreciava:

Meu senescal, o que preferes: cometer um pecado mortal ou ficar leproso?

Majestade!… Ficar leproso?!… Prefiro cometer trinta pecados mortais!

Pouco tempo depois, São Luís o chamou e lhe fez esta advertência:

Falaste como homem insensato, pois não existe lepra tão horrorosa quanto o pecado mortal. A alma em pecado mortal se parece com o demônio, ente mais feio que todas as lepras.

E concluiu:

— Além do mais, quando o leproso morre, fica curado, porque com ele se extingue a lepra corporal; porém, se falecer em estado de pecado mortal, a lepra da alma permanecerá aderida a ele, deixando-o totalmente enfermo por toda a eternidade.

Penetrado por tão piedoso espírito, São Luís deixou ao futuro rei Felipe III, seu filho, logo no início do seu testamento, esta preciosa recomendação:

Filho dileto, começo por querer ensinar-te a amar ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com todas as forças; pois sem isto não há salvação.

Filho, deves evitar tudo quanto sabes desagradar a Deus, quer dizer, todo pecado mortal, de tal forma que prefiras ser atormentado por toda sorte de martírios a cometer um pecado mortal. […]

Por todos os benefícios que te foram dados por Deus, rende-Lhe graças para te tornares digno de receber maiores.

Em relação a teus súditos, sê justo até ao extremo da justiça, sem te desviares nem para a direita nem para a esquerda; e põe-te sempre de preferência da parte do pobre mais do que do rico, até estares bem certo da verdade.

Procura com empenho que todos os teus súditos sejam protegidos pela justiça e pela paz, principalmente as pessoas eclesiásticas e religiosas.3

Não cometer pecado mortal, ser sempre justo, é o mesmo que cumprir com amor e fidelidade os Mandamentos de Deus e da Igreja.

Disto deu exemplo São Luís IX durante seu longo reinado, de 1226 a 1270. Por sua reputação de virtude e integridade, conquistou a estima universal, a ponto de ser solicitado para arbitrar diversos conflitos no território europeu.

Felizes os tempos em que mães, pais e governantes levavam a tal ponto o empenho em combater o pior mal da humanidade: o pecado mortal!

Bem-aventurada a era histórica na qual a integridade e a virtude despertavam a confiança e a estima dos povos!


1 MARTÍN HERNÁNDEZ, Francisco. San Luis IX de Francia. In: ECHEVERRÍA, Lamberto de; LLORCA, SJ, Bernardino; REPETTO BETES, José Luis (Org.). Año Cristiano. Madrid: BAC, 2005, v. VIII, p. 881.
2 Cf. JEAN DE JOINVILLE. Histoire de Saint Louis IX. Paris: Jules Renouard, 1868, p. 9-10.
3 SÃO LUÍS IX. Testamento espiritual a seu filho. In: COMISSÃO EPISCOPAL DE TEXTOS LITÚRGICOS. Liturgia das Horas. Petrópolis: Ave-Maria; Paulinas; Paulus; Vozes, 1999, v. IV, p. 1227-1228.