No dia 1º abril de 1989, um imponente cortejo fúnebre percorre as ruas de Viena, conduzindo os restos mortais da Imperatriz Zita à Igreja dos Capuchinhos, onde, desde 1633, são sepultados os imperadores do Sacro Império Romano-Germânico e seus descendentes.
Do lado de fora do edifício sagrado, mais de seis mil pessoas, entre as quais um representante do Papa João Paulo II, aguardam a chegada do cortejo para a realização das solenes exéquias.
Oito carregadores esplendidamente uniformizados retiram do coche funerário o féretro da imperatriz e se postam frente à porta da igreja que, entretanto, permanece fechada…
Aproximando-se da porta, o mestre de cerimônias bate três vezes com a ponta de sua bengala encastoada de prata.
— Quem deseja entrar? – pergunta, do lado de dentro, o porteiro capuchinho.
O mestre de cerimônias responde:
— Zita, Imperatriz da Áustria, Rainha Apostólica da Hungria; Rainha da Boêmia, da Dalmácia, da Croácia, da Eslavônia, da Galícia, da Lodoméria e da Ilíria; Rainha de Jerusalém; Arquiduquesa da Áustria, Grã-Duquesa da Toscana e Cracóvia; Duquesa de Lorena, de Salzburgo, de Estíria, de Caríntia, de Carníola e de Bucovina, Grã-Princesa da Transilvânia, Margravina da Morávia, Duquesa da Alta e da Baixa Silésia, de Módena, de Parma, de Piacenza, de Guastalla, de Auschwitz, de Zator, de Ticino, de Friuli, de Ragusa e de Zara; Condessa Palatina de Habsburgo e Tirol, de Kyburg, de Gorizia e de Gradisca; Princesa de Trento e de Brixen; Margravina da Alta e da Baixa Lusácia e de Ístria; Condessa de Hohenems, de Feldkirch, de Bregenz, de Sonnenberg; Senhora de Trieste, de Cattaro e de Wendland; Grã-Voivoda da Sérvia, Infanta de Espanha, Princesa de Portugal e de Parma.
— Não a conhecemos – declara o capuchinho.
E a porta não se abre…
O mestre de cerimônias dá outras três batidas e ouve a mesma pergunta:
— Quem deseja entrar?
— Sua Majestade Zita, imperatriz e rainha.
— Não a conhecemos – repete o religioso.
Pela terceira vez, o mestre de cerimônias golpeia com sua bengala a porta.
— Quem deseja entrar? – pergunta mais uma vez o capuchinho.
— Zita, pobre mortal e pecadora.
— Pois, então, entre!
As pesadas folhas da porta, que se mantiveram cerradas para a grande “imperatriz e rainha”, abrem-se de par em par, dando passagem à “pobre mortal e pecadora”.
Ali repousa seu corpo, à espera da ressurreição dos mortos, no dia do Juízo Final.
No Céu a esperava seu esposo, o Bem-aventurado Carlos de Áustria, último imperador do Sacro Império Romano Germânico, falecido em 1922 e beatificado em 2004.
A Imperatriz Zita também está a caminho da beatificação. Aberto em 2009 o processo, com aprovação da Congregação para as Causas dos Santos, ela já recebeu o título de Serva de Deus.