O pardal não voa com a elegância das andorinhas, não canta como os rouxinóis, nem possui as belas cores das saíras. Carece da agilidade estonteante do colibri e da habilidade de um joão-de-barro. É, talvez, o mais insignificante dos passarinhos.

Também não empreende grandes migrações, nem faz vistosos ninhos nas torres das igrejas.

Leva uma vida banal nas cidades e nos campos, saltitando junto aos refeitórios e cozinhas, mendigando despretensiosamente migalhas de pão ou percorrendo as sementeiras em busca de grãos de trigo. 

Andorinha-dos-beirais (Delichon urbicum)
Saíra-sete-cores (Tangara seledon) fotografada na
Casa Turris Eburnea, Caieiras (SP)
Beija-flor-de-fronte-violeta (Thalurania glaucopis) fotografado no Parque Estadual da Cantareira (SP)

Ao olhar para um deles e compará-lo com tantas outras maravilhosas aves que Deus criou, caberia perguntar: por que será que o pardal existe?

Sua presença em nada eleva a mente ao Céu Empíreo; tampouco sua forma de viver, tão corriqueira, convida a remontar o espírito às alturas celestes.

Contudo, não deixou ele de chamar a atenção do salmista, que proclama:

Quão amável, ó Senhor, é vossa casa, quanto a amo, Senhor Deus do universo! Minha alma desfalece de saudades e anseia pelos átrios do Senhor!

Meu coração e minha carne rejubilam e exultam de alegria no Deus vivo! Mesmo o pardal encontra abrigo em vossa casa, e a andorinha aí prepara o seu ninho (Sl 83, 2 4).

Pequeno, fraco, fugidio e de cores apagadas, o pardal é, no reino animal, o que o mais simples dos pedregulhos é no reino mineral.

No entanto, pode-se tomá-lo como um belo símbolo: o das almas repletas de misérias que, reconhecendo nada merecer, pulam alegres de um lado para o outro à busca de abrigo e alimento espiritual.

Sua humildade as deixa saltitantes à espera de compaixão, cheias de confiança na bondosa largueza do Deus que as criou.

Pardais comuns (Passer domesticus) no Parque Nacional de Rathambore (Índia)
Pardais comuns (Passer domesticus) nas proximidades do Lago Tule (EUA),
Fêmea de pardal-espanhol fotografada nas Ilhas Canárias (Espanha)

Até o pardal, diz o salmista, encontra abrigo na casa de Deus. Na Igreja Católica nunca falta lugar para os carentes de forças ou parcos em qualidades. E há não apenas um abrigo, mas o caminho para uma verdadeira transmutação. 

Ao serem tocadas pela misericórdia divina, essas almas-pardal podem ter a plumagem revestida das mais esplêndidas cores e as asas fortalecidas para voos longos e elegantes.

Para isso, basta que reconheçam suas falhas, confiem na bondade infinita de Deus e creiam no poder transformador do Espírito Santo. 

Se tu, leitor, em certos períodos de tua existência te sentes também uma alma-pardal, não te deixes abater pelas tuas misérias. Lembra-te de que até a mais insignificante das criaturas encontra abrigo na casa do Altíssimo.

No olhar doce e benevolente do Sagrado Coração de Jesus, sempre acharemos amparo.

Maria Santíssima, sua Mãe, está a todo momento querendo nos afagar, converter e aproximar da misericórdia de seu Divino Filho. Ao nos abandonarmos nas mãos d’Eles, as nossas asas de pardal tornar-se-ão belas, ágeis e fortes, capazes de nos impulsionar aos mais altos píncaros da santidade!

Sagrado Coração de Jesus - Casa dos Arautos do Evangelho, Curitiba