É um momento muito feliz para este encontro – iniciou ele –, pois eu interpreto que este é um momento quase que mágico para toda a Igreja. O nosso Papa está completando amanhã 25 anos de Pontificado.

Em 16 de outubro de 1978, foi eleito Papa o Cardeal Karol Wojtyla. Foi um deslumbramento para todo o mundo.

Um Papa não-italiano, muito jovem ainda, com 58 anos de idade, vindo de um país comunista onde a Igreja sofria uma dura experiência de perseguição, mas ao mesmo tempo manifestava uma grande vitalidade de testemunho cristão naquelas circunstâncias adversas.

Hoje, vivemos este momento muito bonito da vida da Igreja em que a família se reúne em torno do pai. Também pelo fato de ser algo muito raro: este é o quarto pontífice que atinge 25 anos de Papado em 2 mil anos de história da Igreja.

Alguns perguntam se a Igreja não precisa de um Papa jovem, um Papa forte para poder governar.

Primeiramente, a Igreja não é uma empresa que tem de ser governada por managers em pleno vigor. A Igreja se parece muito mais com uma família.

O Espírito Santo conduz a Igreja, Jesus está nesta barca, não vai deixá-la desgovernar-se. Disso temos certeza. Mas a Igreja tem a medida do homem, ela é formada por homens. E é bonito que nos demos conta de que na Igreja não conta tanto a eficiência humana, quanto a graça de Deus. 

E o Papa recordou isso de maneira bonita na Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, quando dizia que na Igreja conta mesmo o primado da graça. A graça de Deus antes de tudo.

Não devemos deixar de fazer tudo que está ao nosso alcance, sabendo, porém, que tudo isso, sem a graça de Deus, nada realiza.

Apesar das fraquezas humanas, a graça de Deus

Nós percebemos ao longo de 2 mil anos a fragilidade das instituições eclesiais e das pessoas que estão à frente da Igreja.

E todo mundo sabe como nestes últimos tempos as fraquezas e as fragilidades das pessoas da Igreja são colocadas em muita evidência. Isso de um lado magoa, mas nos deve deixar serenos também.

Mais uma vez, a graça de Deus antes de tudo, que age mesmo através das pessoas frágeis que, é claro, não devem deixar de buscar a santidade.

Porém, a eficiência da Igreja não está necessariamente ligada à eficiência das pessoas, mas é a graça de Deus que tem a primazia.

Outra coisa de que nos damos conta é que a Igreja foi confiada por Jesus aos apóstolos, tendo Pedro à frente deles. E hoje a Igreja está confiada aos bispos, com o Papa à frente deles. Portanto, os bispos em união com o Papa sustêm a Igreja.

Ela não depende só do Papa. A Igreja está firme na mão dos bispos que têm responsabilidade nas Igrejas locais, e, o conjunto, sobre toda a Igreja. Este Papa pôs isto em evidência de tantas maneiras, a partir da ideia da corresponsabilidade eclesial.

Eu ouço muitos perguntarem: “O que será do futuro da Igreja quando este Papa não estiver mais entre nós?” Eu digo: “A Igreja vai continuar, a Igreja é conduzida pelo Espírito Santo”.

Um rumo seguro na etapa pós-conciliar

É o momento de fazermos um balanço do Pontificado do nosso querido Papa João Paulo II. Ele sempre ressaltou que está pondo ou tentando pôr em prática o Concílio Vaticano II. Certamente, a Igreja fez um grande caminho nesse sentido.

Alguns dirão que é um Papa da restauração, da ortodoxia, o Papa que procurou dar força à vida interna da Igreja. Sem dúvida, é. Mas não é o único lado da preocupação do Papa.

Depois da experiência do Concílio, depois do abrir as portas e janelas, digamos assim, para entrar um ar fresco na Igreja – mas ao mesmo tempo entrou alguma tempestade –, certamente a Igreja precisava de uma orientação firme, por que a Igreja tem que ter uma unidade também de magistério, de orientação.

E João Paulo II conseguiu, sem dúvida, imprimir um rumo seguro à Igreja nesta etapa pós-conciliar.

Seja quanto a muitos aspectos da vida interna da Igreja, como quanto à afirmação de questões doutrinais, ele foi sempre muito firme em questão de ortodoxia, em questão de disciplina.

Basta dizer que em seu Pontificado foi promulgado o novo Código de Direito Canônico, que é a marca da disciplina da Igreja. Este novo Código reflete a eclesiologia e a teologia do Concílio Vaticano II.

A formação do clero

A questão da formação do clero esteve muito presente neste Pontificado. No final dos anos 70, os seminários estavam em grande crise em todo o mundo.

Falava-se sobre a necessidade ou não de haver seminários, sobre o tipo de padre a ser formado e o tipo de teologia a ensinar. Tudo isso causou muita instabilidade.

E toda uma geração de padres foi formada dentro desse clima de questionamento. Com o atual Pontífice tivemos uma reafirmação da necessidade do tipo de seminário, do tipo de teologia, do tipo de disciplina eclesiástica, e assim por diante.

De modo que houve, sem dúvida, uma guinada nos seminários no sentido muito positivo. No Brasil, no início dos anos 80, numa reunião do Papa com todos os bispos, uma das palavras-chave foi seminário, formação do clero.

E uma insistência para que os Bispos tivessem seus seminários, não descuidassem dos seminários. A partir daí, muitas dioceses, onde não havia seminários, começaram a tê-los.

E hoje, 20 anos depois, naquelas mesmas regiões onde não havia uma pastoral vocacional organizada, hoje há muitas ordenações de padres e seminários cheios.

A Nova Evangelização

Outra nota saliente do Papa é a preocupação missionária, o relançamento da missão. Hoje estamos acordando de uma maneira nova para a missão.

Não só a missão ad gentes, aos povos afastados, mas a missão interna, dentro da própria Igreja, levando em conta que grande parte de nossos batizados não são evangelizados.

Portanto, compete a nós, batizados e que estamos ligados à Igreja, sermos missionários, irmos de encontro a nossos irmãos e ajudá-los a encontrar o caminho para chegar a Jesus.

O novo projeto de evangelização que a CNBB está lançando tem justamente como título Queremos ver Jesus, caminho, verdade e vida.

Outro ponto marcante do pontificado de João Paulo II é a sua presença no mundo. Ser fermento na massa e luz no mundo. E o Papa não tem poupado esforços para isso: encontro com chefes de Estado, com autoridades de todos os tipos, não excluindo ninguém.

Solidariedade: a grande família humana é una

As preocupações principais do Papa: a afirmação da paz, dos direitos humanos, da dignidade da pessoa, do respeito à vida desde o primeiro instante até o fim natural, a morte; a preocupação com a pobreza; a solidariedade entre os povos. 

Um conceito muito bonito, que é do Papa e hoje está muito presente nos discursos dos chefes de Estado: a família humana; a humanidade é uma grande família.

As nações, os povos, as culturas fazem parte deste todo, a família humana, filhos de Deus. Portanto, uns devem se preocupar com os outros. Daí o conceito de solidariedade: a grande família humana é una.

E não deve só reinar a justiça fria, que dá a cada um o que a cada um compete, mas a solidariedade que vai além da pura justiça. 

Certamente, poderíamos pôr muito em evidência a importância que o Papa teve nas grandes mudanças do final do século passado, no contexto das nações, na superação do comunismo, na queda do muro de Berlim, simbolicamente na queda das barreiras ideológicas, na busca da harmonia entre os povos.