João Paulo II […] denunciou na sociedade hodierna a vontade de eliminar a religião tanto da vida pública como da particular:

Ao rechaçar as leis divinas e os princípios morais, atenta abertamente contra a família.

De modos diversos, procura amordaçar a voz de Deus no coração dos homens; quer fazer de Deus o grande ausente na cultura e na consciência dos povos. 

Isso tudo condicionou especialmente o século XX, um século “marcado de forma particular pelo mistério da iniquidade, que continua marcando a realidade do mundo neste novo século, ainda em sua primeira década.”

Quem não vê nesse diagnóstico um discernimento muito semelhante, embora com suas notas características, ao que fizemos nós, os Bispos espanhóis, sintetizável no fato de que nosso problema mais radical é o da negação de Deus, o de viver como se Deus não existisse, posto em destaque e propugnado na difusão alarmante do laicismo ideológico e excludente em nossa sociedade?

Estamos vivendo momentos muito complicados. Com toda honestidade, e com uma fé viva, é preciso reconhecer que temos necessidade da misericórdia de Deus para retomar com esperança o caminho.

Estou em meu perfeito juízo quando, observando a situação da Espanha, da Europa, do mundo, faço minha as palavras do Papa João Paulo II na Polônia.

Palavras amplamente desenvolvidas antes em sua Encíclica Dives in misericordia: para nós, na situação em que vivemos, para o mundo e para o homem “existe apenas uma fonte de esperança: a misericórdia de Deus”.

Neste dia de Santo Ildefonso, testemunha da misericórdia divina, queremos repetir com fé:

Jesus, confio em Vós! Desse anúncio, que expressa a confiança no amor onipotente de Deus, temos particular necessidade em nosso tempo no qual o homem sente-se desconcertado ante as múltiplas manifestações do mal.

É necessário que a invocação da misericórdia de Deus brote do fundo dos corações cheios de sofrimento, de inquietação e de incerteza, mas ao mesmo tempo de uma inefável fonte de esperança.

O manancial dessa fonte – que é Cristo, o Filho único do Pai, rico em misericórdia – nós o encontramos na sempre Virgem Maria, Mãe de Deus, como demonstrou tão agudamente Santo Ildefonso em seus ensinamentos e em sua vida de escravo de Maria.

 

Excertos da homilia na Missa de abertura do XIV centenário do nascimento de Santo Ildefonso de Toledo, 23/1/2007.