As maravilhas da criação, tantas vezes objeto de nossas considerações, não cessam de prodigalizar ensinamentos, apresentando-se aos nossos olhos como reflexos da perfeição de Deus, que harmonicamente dispôs os elementos saídos de suas mãos.

Por vontade divina, todas as criaturas dependem umas das outras e o universo não poderia funcionar sem esta ordem, nem sequer existir sem esta mútua sustentação. 

Há seres que ficariam incompletos ou perderiam a sua finalidade sem a existência de outros.

Assim, as plantas não sobreviveriam se não houvesse a terra e esta, por sua vez, jamais produziria frutos sem a água ou o calor do sol; os pais não teriam meios de manifestar seu amor se não existissem os filhos; e o próprio Deus não poderia revelar a sua misericórdia se não possuísse a humanidade.

Essa interdependência está presente nas realidades mais ínfimas e basta fazer um pequeno esforço para, em nosso dia a dia, tirarmos muitas e magníficas lições.

Tomemos, por exemplo, uma rosa, a rainha das flores. Ela é delicada, perfumada e, por que não dizer, até mesmo majestosa. Porém, não é desprovida de espinhos.

Haverá nisto algum simbolismo? Por que as tulipas, com sua elegante figura, ou mesmo as suaves e graciosas orquídeas, não foram “eleitas” para ocupar este posto? 

Acontece que sem a cruz não se chega à glória, e o Criador quis expressar esta realidade na rosa, uma tão régia flor.

É verdade que as tulipas e as orquídeas, variadas em formas e cores, são belíssimas, mas elas não possuem espinhos… e para que algo nesta terra possa ser considerado digno de admiração é preciso que tenha provado antes o cálice da dor, através do qual se mostra a verdadeira grandeza. 

Assim como não existe uma rosa sem espinhos, não existe glória nem heroísmo sem o sofrimento. O sacrifício deve ser sempre o suporte da vitória, sob pena de, mais cedo ou mais tarde, o aparente sucesso terminar no pior dos desastres.

Essa verdade da qual a rosa é símbolo no reino vegetal se verifica de modo ainda mais sublime nos caminhos que a Providência determina para cada um dos homens, cujas almas valem infinitamente mais do que os botões de todas as rosas da terra.

Elas foram redimidas pelo preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, no alto do Calvário, nos deixou a mais clara confirmação desta realidade: “Quem não toma a sua cruz e não Me segue, não é digno de Mim” (Mt 10, 38).

Só as almas modeladas pelo sofrimento alcançam a autêntica nobreza que as leva a fazer parte da suprema corte do Divino Redentor.

Não é de hoje que os homens procuram a todo custo fugir das dores do corpo e do espírito. Entretanto, isso se dá de uma maneira exagerada e até desequilibrada nos nossos dias. Por quê?

Porque poucos consideram o quanto o sofrimento é um remédio salutar para nossas almas decaídas e manchadas pelo pecado original e um eficaz meio de santificação que Deus não poupa aos seus eleitos.

Não importa, para isso, que as dores sejam grandes ou pequenas, mas sim que as recebamos com amor e alegria, na medida em que Providência desejar.

Exemplos não nos faltam. Uma alma que floresceu numa magnífica rosa, tanto pela sua nobreza como pela sua simplicidade, foi Santa Teresinha do Menino Jesus.

Tornou-se nobre porque renunciou a si mesma, e simples porque fez de sua vida um perene ato de amor à cruz. 

E o que dizer de Santa Bernadette, uma pobre camponesa?

A grandeza de sua alma é tal que ao contemplarmos qualquer uma de suas fotografias, ignorando seus trajes e analisando profundamente a sua fisionomia, julgaríamos estar diante do retrato de uma princesa.

O amor à cruz e aos desígnios de Deus elevou-a aos páramos da santidade.

Por isso, em meio às adversidades de nosso dia a dia, não deixemos de ter presente este ensinamento do Apóstolo Pedro:

Não vos perturbeis no fogo da provação, como se vos acontecesse alguma coisa extraordinária. Pelo contrário, alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo, para que vos possais alegrar e exultar no dia em que for manifestada sua glória (I Pd 4, 12-13).