Nos grandes meios internacionais de comunicação, não faltam notícias sobre nosso país. A densa floresta amazônica, a dívida externa, os riscos e as vantagens de investimentos, a criminalidade, e o futebol, entre outros, são os temas em destaque.
Infelizmente, publica-se muito menos sobre o essencial: a mentalidade do povo brasileiro, sua missão no conjunto das nações, as qualidades a desenvolver e – por que não? – os defeitos a combater.
Descoberto há cinco séculos, tornado Nação independente há menos de 200 anos, o Brasil está, por assim dizer, apenas no início da juventude.
Mas parece que, entre outras qualidades, quis o Criador dar ao brasileiro uma certa precocidade.
Pois, já no início do século passado – antes de completar-se o centenário da Independência – dois observadores categorizados e insuspeitos davam-nos atestados de uma personalidade definida e forte.
Lendo esses depoimentos, talvez algum leitor se perguntará se o Brasil não é um país desconhecido... até mesmo dos brasileiros.
Povo eminentemente capaz de preencher seu destino
O conhecido homem de Estado Georges Clémenceau – Primeiro-Ministro francês nos mais perigosos momentos da Primeira Guerra Mundial, conhecido como o “Pai da Vitória” – visitou nossa pátria nos primeiros anos do século XX.
E assim descreve suas impressões, em artigo publicado na revista parisiense Illustration, de abril de 1911:
O Brasil é uma “velha” sociedade latina, que já pode dar mostras de seus títulos de nobreza.
Uma rara abertura de espírito e, em certos momentos, um poder irresistível de arrebatamento – que, entretanto, jamais causa o menor prejuízo a formas de amenidade requintadas – se me apresentavam como sendo traços característicos deste povo, eminentemente capaz de preencher seu destino.
Idealistas ávidos de intelectualidade, e igualmente dispostos aos mais belos esforços de alta cultura, bem como ao duro labor, sem o qual nada pode dar resul tado, doces e violentos sucessivamente, ou mesmo simultaneamente, os filhos deste solo sempre estuante de fecundidade generosa podem invocar, com justa ufania, o testemunho de uma obra já grandiosa, que não é senão um começo.
Em todos os campos da atividade moderna, o Brasil dá mostras, sem temor ante a crítica europeia, de homens que podem andar de par com nossos grandes chefes de empreendimentos.
Quero render homenagem a um povo bom e grande
O segundo testemunho é de Frei Louis Albert Gaffre, religioso dominicano, famoso orador sacro francês. Assim se refere ele ao nosso País, em sua obra Visões do Brasil (Editora Francisco Alves, 1912):
O brasileiro é extremamente generoso. Poucos são os países onde, por exemplo, os institutos privados de caridade são mais numerosos e mais bem conservados. Quero render homenagem a um povo que pressinto bom e grande, pelo que dele pude ver.
A psicologia do brasileiro é muito difícil de ser estabelecida. Por causa de sua riqueza, é entremeada, complexa, desconcertante. E é como seu sangue, seu céu, sua terra, sua flora.
Há elementos em demasia que se combinam e trabalham para que seja permitido reduzi-la a uma fórmula simples.
Longe de constituir-se em fator de inferioridade, a fusão de raças diferentes é uma condição indispensável de vitalidade e de progresso físico e social.
Os defeitos se multiplicam, da mesma forma que as boas qualidades; a evolução civilizadora rejeita fatalmente aqueles para desenvolver as qualidades, que acabam logo por tornar-se o patrimônio da raça.
As notas que mais senti realçadas no caráter brasileiro foram a inteligência, a ufania, a hospitalidade, o espírito de liberdade, a sobriedade e a bondade.
Em circunstâncias nas quais puderam revelar virtudes mais profundas, como por exemplo em tempos de guerra, assombraram o mundo pela sua valentia, que não se afirmou somente em fáceis sucessos empolgantes, mas em formidáveis conjunturas de reveses.
O espírito acolhedor dos brasileiros é proverbial.
Traduz-se nas relações da vida material por hábitos de hospitalidade dos quais poderia relatar detalhes inacreditáveis; nas relações da vida social, por um liberalismo que vai até o exagero.
Em meio às qualidades da raça, é preciso notar em particular uma inteligência desenvolvida e, acrescento, “desenvolvida com precocidade”.
Qualidades nascidas da Fé Católica
Estes dois personagens aqui estiveram, observaram e depois relataram com objetividade o que viram e ouviram, sem demonstrar a preocupação de pesquisar o “de onde veio” nem de analisar o “para onde vai”.
De onde vieram todas essas qualidades, todos nós sabemos: do Sangue infinitamente precioso do Divino Redentor, fonte exclusiva de todo bem. E se desenvolveram pela correspondência do povo brasileiro à Fé Católica.
Na medida em que preservar e cultivar essa Fé, e levar uma vida coerente com ela, o Brasil terá abertas diante de si as melhores perspectivas de cumprir a importante missão que lhe cabe no terceiro milênio.
Essa fidelidade, e, portanto, o futuro de nossa pátria, depende de cada um de nós, brasileiros.