O fundador, homem contemplativo e missionário

Em 1558, aportou em Vila Velha um irmão leigo franciscano, espanhol, chamado Frei Pedro Palácios, trazendo um quadro a óleo de Nossa Senhora dos Prazeres (ou das Alegrias), de fascinante beleza artística e tocante comunicabilidade sobrenatural.

Espalhou-se a crença de que a própria Rainha do Céu lhe havia indicado um penhasco onde ele deveria construir a ermida que deu origem ao atual Santuário.

Instalando-se aí, o devoto de Maria da Penha entregou-se à vida contemplativa.

Às tardes, descia com o quadro da Mãe de Deus para evangelizar os índios e inflamar na fé os habitantes da Vila. Concedia ao sono poucas horas, deitado sobre uma tábua, tendo por travesseiro o degrau de pedra do altar.

Em 1570, gasto pelos jejuns, penitências e trabalhos apostólicos, foi encontrado morto junto ao altar, ajoelhado e de mãos postas, como em devota oração, justo aos 70 anos de idade.

Nesses doze anos de vida edificante, granjeou a celebridade da qual goza até nossos dias.

Fatos prodigiosos na vida de Frei Palácios

Segundo as crônicas, quando de sua vinda para as terras brasílicas, o navio que o transportava foi sacudido por furiosa tempestade. Um marujo, tomando-lhe o manto, lançou-o sobre as ondas revoltas, e estas logo se acalmaram.

Durante uma de suas missões em Itaquari, a 60 km de Vitória, uma terrível febre devastava as crianças dessa vila.

Ele mandou os habitantes construírem uma capela em louvor de São Francisco, prometendo-lhes que Deus teria misericórdia deles. Concluída a obra, cessou a epidemia.

Durante a construção da primeira ermida, no local onde está hoje o Convento, um operário ia despencando pelo penhasco abaixo. “Para!” – bradou o homem de Deus. E ele parou como que seguro pela pedra, até ser resgatado.

Nessa mesma ocasião, faltando água para a construção, Frei Palácios ajoelhou-se sobre a rocha, em fervorosa oração, e logo jorrou o valioso líquido.

Incumbiu um certo homem de mandar esculpir em Portugal uma imagem de Nossa Senhora, em madeira, para o altar da capela. Este, porém, ocupado demais com os negócios deste mundo, esqueceu os do Céu… e não fez a encomenda.

Entretanto, na véspera de sua partida, um desconhecido entregou lhe a imagem, na exata medida e forma desejada pelo santo frade franciscano. É a que atualmente se venera no Santuário.

A Legião Tebana enviada em defesa do Santuário

Em 1625, Vila Velha foi acometida pelos calvinistas holandeses. Das crônicas de Frei Jaboatão, consta um fato, tão milagroso quanto misterioso.

Preparavam-se eles para atacar, quando o Santuário se transformou em magnífica fortaleza, cercada de fortes muralhas e defendida por temível esquadrão de soldados.

Ao avançar rumo à Ermida, perceberam os invasores muita gente, a pé e a cavalo, portando armas reluzentes e marchando de encontro a eles.

Esse aterrador espetáculo pôs em debandada os inimigos da Fé. Deste modo, o Convento da Penha foi salvo dos saques e sacrilégios que os calvinistas costumavam promover.

Como era 22 de setembro, festa dos santos mártires da Legião Tebana, os católicos reconheceram naquele “misterioso exército celeste” a valorosa legião romana.

Pode-se ver ainda na Penha uma pintura de Benedito Calixto, sob o título de “A Visão dos Holandeses”, retratando esse prodígio.

Na ocasião, erigiu-se um altar em honra de São Maurício, comandante dessa famosa Legião, composta por 6.600 combatentes, todos martirizados no ano 303. (Ver quadro ao lado.)

Por que terá a Rainha dos Mártires enviado essa heroica Legião para atuar no Brasil, um país com o qual nem se sonhava na época em que ela foi exterminada?

Deixemos esta pergunta para o leitor fazer a São Maurício no Céu, quando o encontrar naquele belo dia em que “não haverá mais noite” (Ap 22,5).

Da nossa parte, ao visitarmos o abençoado Santuário da Penha, roguemos à Mãe de Deus que, em outras eventualidades, envie novamente esses heróis da fé em missões para o bem de nossa Pátria.