O que o fogo material faz com o ferro, faz o fogo do Espírito com o coração malvado, frio e endurecido.
Pela infusão desse fogo, a alma aparta de si toda imundície, insensibilidade e dureza, e se transforma à semelhança d’Aquele que a inflamou.
Para isso é dado ao homem, para isso lhe é infundido: que, quanto lhe seja possível, a ele se configure.
Graças ao abrasamento do fogo divino, o homem torna-se totalmente incandescente, arde por inteiro e se dissolve no amor de Deus, como diz o Apóstolo: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5, 5).
Considera que o fogo, ao queimar as coisas altas, as diminui; aglutina o que está dividido, como o ferro com o ferro; clarifica as coisas obscuras; penetra nas duras.
Está sempre em movimento; dirige para cima todos os seus movimentos ou ímpetos, fugindo da terra; e envolve em sua própria ação (de queimar) todas as coisas por ele atacadas.
Estas sete propriedades do fogo podem ser aplicadas aos sete dons do Espírito Santo: pelo dom do temor, Ele abaixa as coisas altas, ou seja, humilha os soberbos; pelo dom da piedade, une as coisas divididas, isto é, os corações discordantes.
Pelo dom da ciência, esclarece as coisas obscuras; pelo dom da fortaleza, penetra nos corações endurecidos.
Pelo dom do conselho, está sempre em movimento, porque aquele que recebeu a inspiração não enlanguesce na ociosidade, mas se move com fervor para procurar a sua salvação e a de seu próximo, pois a graça do Espírito Santo não conhece esforços lentos e tardios.
Pelo dom do entendimento, influi em todos os sentimentos, porque com sua inspiração dá ao homem a capacidade de entender — isto é, de ler dentro, ler no coração — para buscar as coisas celestes e fugir das terrenas.
Pelo dom de sabedoria, transforma a mente, na qual se infunde, segundo sua própria operação, tornando-a capaz de saborear as coisas do espírito. Diz o Eclesiástico: “Perfumei minha habitação” (24, 21).