José era um menino de nove anos, animado e cheio de vida. Estava entusiasmadíssimo com sua Primeira Comunhão e não conseguia se conter de alegria! Naquele sábado já se despertara dizendo:

Mamãe, é amanhã!…

Sim, filho, afinal chegou o grande dia! É preciso você ficar o mais compenetrado possível, pois vai receber o próprio Deus! – recordou-lhe Da. Isabel.

Mamãe, por que o tio Sebastião nunca vai à Igreja? – perguntou José.

Ah, meu filho, é uma longa história…

O pequeno se espantava com a atitude do tio, pois não entendia como alguém, tendo feito a Primeira Comunhão, podia ficar longe da Eucaristia!

Desde que aprendera nas lições de catecismo que Nosso Senhor Jesus Cristo está, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, na Sagrada Hóstia, ele não acreditava que pudesse haver alguém que, por mera vontade, se afastasse deste Sacramento. Parecia-lhe uma verdadeira loucura!

Mamãe, precisamos dar um jeito de ele ir à Igreja! – insistiu José.

Da. Isabel havia tentado inúmeras vezes e de todas as formas reconduzir seu irmão ao bom caminho, sem nenhum êxito… No entanto, que mal havia em deixar o filho fazer suas tentativas?

Na manhã seguinte, grande foi a festa da Primeira Comunhão de José, junto com várias outras crianças. Depois de comungar o Pão dos Anjos, fez uma ação de graças muito recolhida e fervorosa, e pediu por muitas intenções.

Passados alguns dias, ele se dirigiu à casa do tio para sua ousada e importante missão. Não era possível ficar tão longe de Jesus!…

Outrora, Sebastião fora um bom católico. Desde que perdera a esposa, todavia, se havia revoltado contra Deus. Acabou se tornando um homem amargurado e endurecido pelo pecado.

Algo de bom, porém, ele guardava em seu coração: o apreço que nutria pelo inocente sobrinho. Sebastião atendeu o menino com carinho e teve com ele uma longa conversa. Contudo, não abriu sua alma para Deus…

Decepcionado, mas não desanimado, José passou a ir todos os dias à capelinha da aldeia para pedir a Jesus Eucarístico um jeito de fazer o tio sentir como é necessário recebê-Lo para se fortalecer na prática da virtude e do bem.

O tempo corria célere. Certo dia, Sebastião estava viajando de charrete para a cidadezinha próxima, a fim de vender o que produzira em sua marcenaria.

Ao passar por um perigoso desfiladeiro, seu velho cavalo escorregou na estrada, cheia de lama pelas últimas chuvas, e qual não foi seu desespero ao ver-se caindo barranco abaixo! Quando chegou ao chão, estava muito ferido, com dores terríveis e não conseguia mover as pernas…

A notícia que se espalhou pelo povinho era trágica: o amargurado irmão de Da. Isabel sofrera um acidente e perdera o movimento das pernas, não podendo mais andar. Será que, com tanto sofrimento, o coração dele não se renderia a Deus?

Todos os parentes foram à sua casa para visitá-lo. Alguns insinuavam ter sido aquele acidente um castigo de Deus; outros, vendo-o em tão lamentável situação, julgavam que chegara o fim de seus dias; apenas um conservava uma firme esperança no coração:

Titio, o senhor está sofrendo muito. Jesus também sofreu… – disse José junto à cama do enfermo – O senhor pode ficar curado: se fizer as pazes com Deus e voltar a comungar, tenho certeza de que vai ficar bom!

Menino, pare de dizer asneiras, não vê em que situação estou? – respondeu-lhe Sebastião com rispidez.

Depois de muito insistir, o pequeno se utilizou de seu último recurso:

Está bem – disse ele – Entretanto, tenho aqui uma estampa de Nossa Senhora com seu Filho, Jesus. Vou deixar com o senhor esta noite e só lhe peço que olhe para Ela…

Ao voltar para casa, José estava muito confiante na intercessão materna de Maria Santíssima.

Se a primeira notícia causara surpresa, a segunda espantou toda a aldeia: Sebastião chamou o sobrinho e pediu que lhe trouxesse um padre, pois queria se confessar!

José não cabia em si de felicidade! E apressurou-se em atender o pedido do tio. Assim que o padre se retirou, entrou saltitante em seus aposentos e o encontrou chorando como uma criança!

José, meu sobrinho querido, venha aqui. Você não sabe o bem que me fez! Nesta noite sonhei com Nossa Senhora. Ela tinha a fisionomia da estampa que você me deu. Dizia que me ama muito e queria que eu voltasse ao bom caminho. Quando acordei, senti um vivo arrependimento de todos os meus pecados e do quanto fui mau! Agora, depois de ter-me confessado, gostaria muito de receber a Sagrada Comunhão.

Ainda estavam conversando quando o padre regressou, trazendo desta vez o Santíssimo Sacramento para aquele pobre homem enfermo e arrependido.

Sebastião estava muito emocionado! E ao receber, depois de tantos anos, o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, suas faces ficaram coradas e seu semblante mudou completamente.

Seu rosto, antes abatido e pálido, tomou nova vitalidade. A Sagrada Eucaristia havia sido o melhor remédio que tomara desde o acidente, pois lhe fazia recobrar a força e o ânimo.

Ele rezou um pouco de cabeça baixa. Depois esboçou um ligeiro sorriso, levantou-se da cama e pôs-se de pé.

Milagre! Milagre! Mamãe, o tio Sebastião está curado! – exclamou José – Foi Nosso Senhor quem o curou!

Sebastião começou a caminhar e ajoelhou-se diante da estampinha da Virgem Maria que seu sobrinho lhe havia dado na noite anterior e que ainda estava posta sobre seu criado-mudo. Tomado de emoção, agradecia ele o ter recuperado a saúde do corpo e, mais ainda, a da alma!

A fé do pequeno José mostrou a todos como ela é capaz não só de mover montanhas, como disse Jesus no Evangelho, mas de abrandar os corações mais endurecidos!