Em nosso tempo, em que o homem se sente perdido em face das numerosas manifestações do mal, temos particular necessidade deste anúncio que exprime a confiança no amor onipotente de Deus.

É preciso que a invocação da misericórdia de Deus surja do fundo dos corações repletos de sofrimento, de apreensão e de incerteza, mas que, ao mesmo tempo, procuram uma fonte infalível de esperança. […]

Quanta necessidade da misericórdia de Deus tem hoje o mundo! Em todos os continentes parece que se eleva, do fundo do sofrimento humano, a invocação da misericórdia.

Onde predominam o ódio e a sede de vingança, onde a guerra causa o sofrimento e a morte dos inocentes, é necessária a graça da misericórdia para aplacar as mentes e os corações, e para fazer reinar a paz.

Onde falta o respeito pela vida e pela dignidade do homem, é necessário o amor misericordioso de Deus, a cuja luz se manifesta o indescritível valor de cada ser humano. É necessária a misericórdia para fazer com que toda a injustiça no mundo encontre seu fim no esplendor da verdade.

(Homilia proferida durante a Missa de dedicação do Santuário da Misericórdia Divina, Lagiewniki, 17 de agosto de 2002)

O amor de Deus vence o mal com o bem

Eu quis apresentar ao povo cristão esses novos Beatos, para que o seu exemplo e as suas palavras sirvam de estímulo e de encorajamento para testemunhar, com os fatos, o amor misericordioso do Senhor, que vence o mal com o bem (cf. Rm 12, 21).

Só assim é possível construir a desejada civilização do amor, cuja força serena se opõe com vigor ao mysterium iniquitatis, presente no mundo. A nós, discípulos de Cristo, compete a tarefa de proclamar e viver o outro mistério da Misericórdia Divina que regenera o mundo, estimulando a amar os irmãos e até os inimigos.

Esses Beatos, juntamente com os outros Santos, são exemplos resplandecentes da maneira como a “fantasia da caridade”, da qual falei na Carta apostólica Novo millennio ineunte, faz com que estejamos próximos e sejamos solidários com todos os que sofrem (cf. n. 50), artífices de um mundo renovado pelo amor.

 

(Audiência,21 de agosto de 2002)

O século XX caracterizou-se pelo mistério da iniquidade

Desde o início da sua existência, apelando para o mistério da Cruz e da Ressurreição, a Igreja anuncia a misericórdia de Deus, penhor de esperança e fonte de salvação do homem.

Todavia, parece que hoje em dia ela é particularmente chamada a anunciar essa mensagem ao mundo inteiro. E não pode descuidar dessa missão, se é Deus que a chama com o testemunho de Santa Faustina.

E para isso, Deus escolheu os nossos tempos. Talvez porque, apesar das conquistas inquestionáveis, o século XX caracterizou-se de maneira particular pelo “mistério da iniquidade”. Foi com essa herança de bem, mas também de mal, que entramos no novo milênio.

Diante da humanidade, abrem-se novas perspectivas de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, de perigos até agora inéditos. Com frequência, o homem vive como se Deus não existisse, e chega a pôr-se a si mesmo no lugar de Deus. 

Assim, arroga para si próprio o direito do Criador, de interferir no mistério da vida humana. E, mediante manipulações genéticas, quer decidir a vida do homem e determinar o limite da morte. Rejeitando as leis divinas e os princípios morais, ele atenta abertamente contra a família. 

De vá­rias maneiras, procura fazer calar a voz de Deus no coração dos homens; e quer fazer de Deus o “grande ausente” na cultura e na consciência dos povos. O “mistério da iniquidade” continua a caracterizar a realidade do mundo.

Experimentando esse mistério, o homem vive o medo do futuro, do vazio, do sofrimento e do aniquilamento.

Talvez seja precisamente por esse motivo que, mediante o testemunho de uma Religiosa humilde, é como se Jesus Cristo tivesse entrado nos nossos tempos para indicar claramente a fonte de alívio e de esperança, que se encontra na misericórdia de Deus. 

É necessário fazer ressoar a mensagem do amor misericordioso com um vigor renovado. 

O mundo precisa desse amor. Chegou a hora de fazer a mensagem de Jesus Cristo atingir todos os homens: de maneira especial, aqueles cuja humanidade e dignidade parecem perder-se no mysterium iniquitatis.

Chegou o momento de a mensagem da Misericórdia Divina derramar a esperança nos corações, tornando-se a centelha de uma nova civilização: a civilização do amor.

 

(Homilia durante a Missa de Canonização de Santa Maria Faustina Kowalska, Blonie, 18 de agosto de 2002)